ARNALDO TOBIAS, UM POETA QUE VIVEU ALÉM DO SEU TEMPO
Por Natanael
Lima Jr.*
Arnaldo Tobias I Foto:
Reprodução
Se estivesse (materialmente) entre nós
o poeta Arnaldo Tobias estaria completando 80 anos. Nasceu em Bonito, cidade do
agreste pernambucano, em 15 de novembro de 1939. Foi poeta, ficcionista,
contista e agitador cultural. Publicou seus primeiros poemas e contos nos jornais
e revistas recifenses e brasileiras, no início da década de 1960. Participou da
Geração 65 de escritores pernambucanos e da cena cultural da capital, além da
Edições Pirata, movimento lítero-editorial alternativo do Recife. Foi
funcionário por longos anos da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj). Faleceu no ano
de 2002.
Publicou os livros Pomar (1979) e Passaporte (1981), poesia, pela Edições Pirata. Tobias também
publicou os livros: Nu Relato (1983),
Tenda proibida (1987), O ditador e outros contos (1991), O gavião e a coruja (1993), O ratinho órfão (1994), Quem sou eu? (1995). Editou, de 1981 a
1995, o alternativo Pró-Texto,
revista alternativa de literatura.
Segundo o poeta Alberto da Cunha Melo,
"Arnaldo Tobias é bem um poeta de
seu tempo: um homem cercado de auto expectativas, procurando atender um
compromisso por ele mesmo formulado com o mundo. (...) Quer ser apenas, como
diria Cassiano Ricardo, "um homem que trabalha o poema com o suor do seu
rosto, um homem que tem fome como qualquer outro homem".”
Tobias foi um poeta que viveu além do
seu tempo, escreveu como se fora um testamento de vida. Assim viveu Arnaldo
Tobias, como nos versos intensos de Cecília: “Eu canto porque o instante existe / e a minha vida está completa. /
Não sou alegre nem sou triste: sou poeta. (...)”.
*Natanael
Lima Jr. é poeta, editor do site Domingo com Poesia e da Imagética Edições
TRÊS POEMAS DE
ARNALDO TOBIAS
NO PAPAEL
OFÍCIO
Até
hoje não acho
No
bolso
Do
surrado casaco
A
chave de ouro
Que
fecha o poema
Pela
manhazinha
Da
gaveta
Da
desordem
Entre
papéis do ofício
Amanheço
Uma
clave de sol
O POETA E O
TEMPO
Cobre
o papel
De
palavras
À
margem entorna
As
letras
E
torna e retorna
A
repô-las no papel
Do
ofício
Mais
tarde
Vai
dormir
(se
é que dorme)
com
a inicial
do
seu nome
bordado
na fronha
não
seria aquele
leve
alinhavo
um
fio de cabelo
solto
da calva?
POEMAS
ABSOLETO
Não
devemos mais ser
Bonecos
de dá cordas
Há
tempo
A
chaveta caiu
Da
engrenagenzinha
Também
as pilhas
Magnéticas
Descarregam-se
E
até o (controle)
Do
próximo robô
Já
é (remoto).
ARNALDO TOBIAS, UM POETA QUE VIVEU ALÉM DO SEU TEMPO
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