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A CAVERNA E AS PEDRAS: O HOMEM E AS IDEIAS NA DICÇÃO DE CARLOS NEJAR



Por Diego Mendes Sousa*



Capa: Reprodução. I “Os Degraus do Arco-Íris”
(Cepe Editora, 2019)




A mais nova publicação de Carlos Nejar intitulada “Os Degraus do Arco-Íris” (Cepe Editora, 2019) é um alento de claridade ante a linguagem do tempo e dos desígnios da sobrevivência humana. É assombrosa, visceral, poética e extremamente filosófica!

Carlos Nejar cumpre o rito de um leitor fecundo, que sabe dos meandros da ficção imaginosa. “Os Degraus do Arco-íris” é um romance inaugural, feito sob a aurora da universalidade e que faz alegoria à eternidade temporã. Seu texto é um clássico, sempre acurado pela riqueza de imagens e de pensamentos fotográficos, que revelam a imensa sabedoria desse gaúcho formidável em sua vocação de escritor.

“A felicidade do gênero humano nunca é total, é feita de intervalos. Como se pisássemos no escuro, ou o escuro nos transitasse, ambulantes do destino.”.

São quinze capítulos em duzentas e vinte uma páginas onde Carlos Nejar expõe uma história sobre a conjuntura do ser humano, com as suas dúvidas, com as suas dores, com as suas angústias, com os seus paradoxos, e sobretudo, com o seu estado de pequenez diante de Deus. Ou mesmo diante da obscuridade de uma Caverna espantosa, que impede o trajeto da luz e a travessia do clarão sobre o destino do homem. São a Caverna e as pedras que fulminam os desejos, a liberdade e a fuga existencial de todo vivente, sendo denúncia à opressão.

Esclarece o próprio Nejar: “Escreve-se porque é necessário ser navio e navegar.”.
Deus aparece cintilante no fechamento das ideias. Os degraus darão caminho ao paraíso. As cores do arco-íris supõem os estágios até a grandeza da vida. As cores como metamorfose! É como assinala a epígrafe de Shakespeare: “Metamorfose é a palavra certa.”.

“E é nos degraus do Arco-Íris que transita esta energia indomável do cosmos, a potente claridade que não para nunca, como viver não para nunca, salvo o vício da morte. Mas não se inocula o mistério. Havendo sempre sopro, por não acabar a infância. E o envelhecimento é por fora, dentro é voraz inocência. E no amor conheço o preço da altura do céu e sua força. Até o início de Deus.”.

Carlos Nejar ressuscita famosos criadores de literatura, que passam a ser personagens, pois os seus pensamentos integram perfeitamente o discurso de ficção do autor. Traz Ovídio, Franz Kafka, Baltasar Gracián, Mario Quintana, Hannah Arendt, Tchekhov, James Joyce, Mark Twain, Kant, Cortázar, Céline...

Nessa seleta de leituras, aparecem pintores como Picasso e Munch. E vem uma gama de representantes de “Os Degraus do Arco-Íris”: Davi, Roselindo, João Cobra, Cíntia, a cachorra Letícia, etc.

“Durante a duração da Caverna, como sob a peste, a cidade de Pedra das Flores adquiriu ressonância fantasmal. Inocorrendo festas em eventos obrigatórios, onde todos pudessem esconder sua amargura.”.

Não há diálogos, existe a voz do narrador ampliando as visões dos seus protagonistas, em primeira pessoa, a seduzir o leitor pela escritura de enigmas recheada de beleza. Diz a peculiar ousadia de Nejar: “Se boa parte do romance contemporâneo escreve para fora, almejo escrever para dentro.”.

Nejar também reafirma lugares e movimentos edificantes com a memória dos seus romances anteriores, como “Matusalém de Flores”.

Mas a hora é extrema para o homem. E o centro da gravidade é o da alma e algo grande vinha no interior das coisas. E estou certo de que a eternidade costuma dormir, quando sonhamos. Não há buraco igual ao da luz. E ela nos puxa. Somos da luz.”.

Grandioso enquanto poeta, secular pela fortaleza da sua poesia, Carlos Nejar reaparece em seu romance “Os Degraus do Arco-Íris” muito lúcido, inspirado e com maior brilhantismo.

A genialidade abraça Nejar, que se circunda da perenidade consagradora, já que “ver com qualidade é próprio do gênio.”.




*Diego Mendes Sousa é poeta e profundo admirador de Carlos Nejar



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