ORAÇÕES PARA VAGALUMES – PARTE 3 (CONTO DE FERNANDO FARIAS)
Apresentamos
ineditamente a última parte do excelente conto Orações para vagalumes do nosso colaborador Fernando Farias.
Esperamos que vc tenha curtido este fantástico conto, apresentado aqui em três
partes. Uma boa leitura a todos!
ORAÇÕES PARA VAGALUMES – Parte 3
Fernando
Farias
Img.: reprodução google
Os dias
foram passando e os doentes anunciando livres das dores. Voltavam para casa com
saúde. Poucos, os mais graves ainda ficavam. Eu orava e contava para as freiras
que eu tinha curado aqueles miseráveis. E elas debochavam.
A madre
chamou os médicos e enfermeiros. A situação estava grave. Era preciso adoecer
as pessoas. Os doentes estavam curados e o hospital perderia as doações e até o
governo ameaçava cortar o apoio financeiro. Culpou a equipe de médicos pelo
desastre. Era preciso manter os doentes ativos.
Senti-me
culpada. Eu tinha provocado aquele desastre? Pensei em dizer que eu tinha feito
as curas, mas tive medo. Afinal sem as pessoas doentes fecham-se os hospitais.
Mas eu tinha
falado demais. E algumas freiras acreditaram em meus poderes.
Naquela
noite fui estuprada. Cabos de vassouras. Cerca de vinte freiras me surravam.
Queriam o hospital cheio novamente. Disseram que eu atuava por força do
demônio. Maldita hora que me aceitaram. Só quem podia curar era Jesus.
Fui levada
para uma clínica que atendia mulheres vítimas da violência, desta vez para curar
de minhas próprias feridas. Tia Benildes me apareceu revoltada. Reclamou de eu
ter dito que fazia rezas. A cidade grande não acreditava nestas coisas das
crenças do povo do interior, coisa de gente antiga. A partir de agora nada
seria mais dito. Um segredo silencioso.
Acordei na
madrugada, entendi que eu agora acreditava em rezas. Compreendi o poder. Não
era um dom divino nem as orações ditas. Mas uma palavra de três silabas que ela
tinha me ensinado, emitida mentalmente por três vezes, como um cântico, junto
com a ideia força do bem e da cura. A ideia força de que o bem será feito. Ou o
mal.
Eu até
pensava que era ilusão de minha tia, quando ela dizia ser a palavra perdida dos
sacerdotes egípcios que as rezadeira guardam em segredo durante séculos.
Naquela
madrugada fui até a janela e pela primeira vez pronunciei aquela palavra.
Gritei a palavra perdida por três vezes com todo ódio. A terra tremeu. Vi
milhares de vagalumes cobrindo o antigo hospital de caridade.
Acordei com
a notícia nos corredores de que um grande incêndio atingiu o hospital, que
dezenas de freiras morreram queimadas. E as plantas carnívoras.
Ainda levei
um mês para sair da clínica. Agora vestida de enfermeira. Passei a me
apresentar para as pessoas como a enfermeira que escapou do incêndio do
hospital das pobres caridosas irmãs religiosas.
Passei dez
anos sem ver minha tia, trabalhava entre os enfermos e vendo vagalumes. Sem
cobrar nada. Sempre ficando desempregada por falta de doentes e hospitais
fechados para revolta dos médicos.
Até que numa
noite tia Benildes voltou. Estava num corpo de criança, parecia um anjinho de
procissão. Pediu-me para voltar para a casa do interior, cuidar da família e da
lavoura, deixar de rezar. Minha missão estava terminada.
Ainda tento
me lembrar qual era a palavra perdida para dizer a vocês. Mas esqueci. Agora
cuido de galinhas e falo com as almas das árvores. E não é que parece que os homens foram à Lua
mesmo?
fim
ORAÇÕES PARA VAGALUMES – PARTE 3 (CONTO DE FERNANDO FARIAS)
Reviewed by Natanael Lima Jr
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07:01
Rating:
No texto da oração para vagalumes,parte 3, fica nítida a visão de poder de cura para uma única pessoas. Mas na terra, DEUS deixou outros para também cumprir essa missão. A incompreensão da ação de cura, fez uma freira sofrer por fazer Bem aos enfermos.
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