A SENHORA DO SEGREDO (CONTO DE PAULO CALDAS)
Paulo Caldas/Foto:
reprodução
Oculto pela cortina,
encostado na parede da cabine, observa lá embaixo, no set de gravação, duas
moças portando livros e cadernos.
Quem são aquelas duas?
Concluintes de um desses cursos de mulher: Psicologia, ou Nutrição, eu sei lá.
E o que querem; como entraram? A de calça boca sino é irmã do operador de
áudio, elas desejam você paraninfo da turma.
Ah, veja de quanto precisa, a de minissaia é um broto encantador, quero
falar com ela.
O susto de se vê
diante do ídolo e a surpresa de ser convidada para assistir ao ensaio, deixou
Malena imóvel que nem uma estátua. A partir de então, a conversa fluiu. Na
intimidade do camarim, ambiente atapetado, decorado com flores naturais,
cortinas de cetim, iluminação indireta, às carícias consentidas a levaram ao
limbo de amor.
Refeitos da
sofreguidão, ele inicia o diálogo. Qual o seu sonho de futuro, meu amor?
Trabalhar, ter uma família feliz, uma aposentadoria serena, repetir esses
momentos nas vezes que você vier aqui e dois ingressos grátis. Muito pouco para
quem perdera a virgindade.
E assim foi feito. A
cada show na cidade, além da liturgia do primeiro encontro, Malena e Ana Clara,
a cúmplice do segredo, recebiam convites para os camarotes.
Quando da festa dos
vinte anos de carreira do cantor, mesmo casada e mãe de três filhos, mantiveram
o ritual do amor maduro. Porém, Ana Clara, em nome da amizade, não resistiu e
cedeu à curiosidade: quando vocês se amam, o que ele faz com a perna mecânica? Sempre esperei essa pergunta, Ana; antes
de se despir, vai ao banheiro e em seguida, na penumbra, sob os lençóis, pede
que eu deite ao seu lado. Então você nunca viu? Não.
A SENHORA DO SEGREDO (CONTO DE PAULO CALDAS)
Reviewed by Natanael Lima Jr
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