REVELAÇÃO
por
Luciana Grassano Melo*
Foto:
reprodução/google
Se me escutas, quero que saibas que
sinto saudades.
Foi um tempo escuro, o que vivemos… Mas
cada vez que te encontrava era um pedaço meu que eu achava, escondido debaixo
dos entulhos.
Gostava quando te levantavas e me
socorrias com lenços de papel. Um gesto gentil, como o de dividir o mesmo
guarda-chuva.
Quando todos queriam falar, falar,
falar… Eu gostava dos teus silêncios e do teu sorriso dócil.
Em tua companhia, eu me sentia em casa.
Lamento que depois tenha havido um estranhamento entre nós. Mas mesmo nos
piores enganos, eu nunca deixei de confiar que tudo ficaria bem.
Não contavas que eu também te
observava com meus olhos atentos: treinados e astutos. E que percebia em tuas
palavras e em teus silêncios muito mais do que podias dizer: “É que o amor,
quando se revela/ não se pode revelar/ Sabe bem olhar p’ra ela/ mas não lhe
sabe falar”.
E como essas “Quadras” de Fernando
Pessoa enquadram bem a nossa estória… Eu que falava, mentia; tu que calavas,
esquecias. Ambos perdidos no medo da incômoda descoberta.
É por isso que tanto tempo depois,
quando te procurei, tua primeira pergunta foi: Por que voltaste?
_ “Mas quem sente muito, cala;/ Quem
quer dizer quanto sente/ Fica sem alma nem fala/ Fica só, inteiramente.”
Hoje decido fazer-te essa revelação,
que não arrisco te falar, que nem gosto de lembrar, pois é como um fado que
canta em mim... como uma triste canção!
_ “Mas se isto puder contar-lhe / O
que não lhe ouso contar, /Já não terei que falar-lhe/ Porque lhe estou a
falar...”
*Luciana
Grassano Melo é
professora de direito da UFPE
REVELAÇÃO
Reviewed by Natanael Lima Jr
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07:01
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