A POESIA DE PEDRO AMÉRICO DE FARIAS*
Pedro Américo de Farias/Foto:
Divulgação
ARVOREDO
Um galo sozinho não tece uma
manhã
João Cabral de Melo Neto
Uma
árvore não desenha a primavera
e
o outono veste-se com incontáveis
folhas mortas
sozinha
não abre a flor sem a luz do sol
que
aquece a pedra o solo a raiz
o
pardal devora o grão e o semeia
sempre
em companhia de outros pardais
cantam
em coro sabiás e sanhaçus
inhambus e juritis
voam
em nuvens borboletas
gafanhotos
orquestra-se
dessa forma tudo que é imóvel
e
ainda o inanimado e o semovente
é
assim com a flor, a flora na floresta
assim
é com toda a fauna, a humana até
trilhões
de seres a viver e reviver
trilhões
de árvores a florir, frutificar
que
uma só árvore na desenha a primavera
e
o outono veste-se com incontáveis
folhas mortas.
PARALELEPÍPEDRO
Canto pedregoso em
terça rima
Nasci
Pedro, assim me encaixo
Pedregulho
entre pedreiras
Rolando
penhasco abaixo
cresci
pedra por ladeiras
açudes,
roças e rios
fui
trempe para fogueiras
sofri
febres, calafrios
senti
no couro chibatas
meus
ais viraram assobios
sonhei
sonhos em cascatas
neles
cacei capivaras
vivi
com nefelibatas
habitando
nuvens raras
caí
que nem bendengó
amassando
algumas caras
mas
hoje sou pedra-mó
DANÇA, CLARICE
Canta
e dança, Clarice!
que
afora isso
só
a topada nos leva
canta,
Clarice
que
além disso
o
gesto nos traduz
e
a fala nos anuncia
dança,
Clarice
que
o corpo malhado
pelo
sim pelo não
desperta
melhor
a
cada manhã
dança
e canta, Clarice!
*Pedro
Américo de Farias
nasceu em Ouricuri (PE). De origem camponesa, filho de pais cearenses, nono
entre catorze irmãos. Gradou-se em letras e pós graduou-se em educação, foi
professor no ensino médio, livreiro-sebista, dedicou-se aos estudos literários
e trabalhou na Fundação de Cultura Cidade do Recife.
Fonte: Coisas: poemas etc / Pedro Américo de Farias.
Linguaraz Editor, Recife, 2015.
A POESIA DE PEDRO AMÉRICO DE FARIAS*
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