A POESIA DE AUDÁLIO ALVES*
Poeta
Audálio Alves
Foto:
reprodução
CÂNTICO
DUAL
a Itérbio Homem
De
Deus a mim,
nenhum
segredo cabe:
Vivemos
sempre a sós,
os
dois, perenemente;
o
pouco que aprendi
(da
morte)
Deus
o sabe.
O
que meus dedos tocam,
agora,
Deus
o sente:
Silêncio
algum separa
meu
canto de seu canto
que
o sol nos une e abre
visão
de outra visão.
A
cor de minhas vestes
mudamos,
Deus
o sabe:
A
vida se consente
em
Nós, presentemente,
e
sendo a morte o fim
em
minhas mãos não cabe.
O
PÁSSARO
a
Ladislau Porto
Distingue-se
do vento por ter asas
e
cores impossíveis para o vento:
Voando
pelo ar, vem livre e lento
unir-se
à solidão de nossas casas.
Mas
vento é, como disfarce e voo,
e
bojo de canções arremessado
em
plumas pelo céu, equilibrado,
que
a vida de ser leve transformou-o.
Ou vento já não é, mas é aurora,
que uma aurora nas plumas permanece:
Pelos ventos da tarde a tarde esquece
e canta claro e leve como outrora.
Em pouco voará, cantando a esmo
a incerteza do céu e de si mesmo.
Ou vento já não é, mas é aurora,
que uma aurora nas plumas permanece:
Pelos ventos da tarde a tarde esquece
e canta claro e leve como outrora.
Em pouco voará, cantando a esmo
a incerteza do céu e de si mesmo.
CANTIGA
DA TERRA INÚTIL
Vem
a flor e vão-se os frutos
deslizando em terras planas,
como os dias vindos vão-se
do celeiros das semanas.
deslizando em terras planas,
como os dias vindos vão-se
do celeiros das semanas.
Ninguém
que os colhas na cor
de seu destino diário,
que os tome e os multiplique
e lhes dê itinerário.
de seu destino diário,
que os tome e os multiplique
e lhes dê itinerário.
Daí
que rochas contemplam-se
em seus diversos tamanhos,
e em derredor delas pastam
o silêncio e seus rebanhos.
em seus diversos tamanhos,
e em derredor delas pastam
o silêncio e seus rebanhos.
Daí
que fujo inconsútil
dessa para outra terra,
porque se toco em meu búzio,
— dele o canto sai inútil.
dessa para outra terra,
porque se toco em meu búzio,
— dele o canto sai inútil.
*Jornalista, poeta e advogado nasceu
em Pesqueira no ano de 1930. Pertenceu a “Geração de 50”. Estreou na vida
literária em 1954 com o livro de poemas “Caminhos do Silêncio”. O livro, “Canto
Agrário”, foi considerado pela crítica especializada, como um dos melhores
livros do ano de 1962. Foi membro da Academia Pernambucana de Letras. Segundo o
poeta Joaquim Cardozo, “Os versos de Audálio Alves são dominados por um
intimismo onde as palavras ganham um halo de júbilo e felicidade”.
A POESIA DE AUDÁLIO ALVES*
Reviewed by Natanael Lima Jr
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08:26
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Audálio: Evocação Fúnebre ao General Abreu e Lima. Todas as vezes em que passo diante do Cemitério dos Ingleses, na Av. Cruz Cabugá, Recife, me lembro de Abreu e Lima e desse poema de Audálio Alves; me lembro da católica estupidez de um bispo em proibir o sepultamento do libertador no Cemitério de Santo Amaro. O vereador Paulo Cavalcanti conseguiu aprovar seu projeto de lei corrigindo esse crime. Só não sei se nossas autoridades estúpidas fizeram cumprir tal lei.
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