A MÚSICA DE RUA

por Frederico Spencer*

Lançado pela Panamérica Nordestal Editora em e-book, trata-se do primeiro livro do poeta José Terra. O projeto gráfico da capa é da poetisa Maria de Lourdes Hortas, um belíssimo trabalho.

Segundo Schopenhauer há dois tipos de escritores: “aqueles que escrevem em função do assunto e os que escrevem por escrever”, penso eu que o poeta se inclui no segundo caso.

Poesia é antes de tudo um vício, uma necessidade: de ser acordado todas as manhãs - mesmo não se tendo dormido a noite inteira - por um verso que atropela o silêncio da madrugada, rompendo seu hímen sagrado. O poeta levanta, coça a cabeça e vai para a linha do caderno tentar salvar seu dia, trazendo à luz a poesia deflagrada nesta luta constante entre a noite e o dia.

Penso ainda que há vários tipos de poetas e também de poesia: uns sim e outros não e também umas sim, outras não. Nesta história, quantidade não qualifica nem poesia, nem poeta. Há outros, no entanto que, pelas graças de um deus belicoso, são infectados pela atrocidade de querer ver em forma de versos a deposição dos seus sentimentos mais escondidos.

Penso também que a poesia boa, se esta existe, é aquela que ao ser lida, causa espanto e inspiração - pare outros filhos em outras cabeças, em outras linhas. Nos cadernos alheios faz ramificações de sua semente gentil, servindo a sua causa suprema de embriagar, de se procriar através de suas imagens.

Assim está no “Música de Rua” de José Terra, entre azuis, violetas, calcinhas e champanhe, seguimos numa viagem por entre ruas e avenidas, descobrimos outras aventuras, imagens da vida cotidiana, a qual, por muitas vezes não queremos ver.

“Música de Rua” é antes de tudo um manifesto à beleza do cotidiano, urbano e místico por sua complexidade, vista através da ótica de um poeta que vive e bebe seu tempo, sem medo de ser embriagado por suas imagens.

*Frederico Spencer é poeta, contista e editor do DCP