POETA DO DOMINGO
A
POESIA DE ESMAN DIAS
Esman Dias
(1937 – 2015)
POEMA DO DESPERTAR
Hoje,
redivivo,
compartilho
a mim: meu suor meu sangue,
minha
fé no fim;
meu
sonhar meu sonho,
meu
gerir meu corpo,
meu
ganir descalço,
meu
crescer já morto.
Tudo
o que retive
dos
que me guardaram
foram
minhas vinhas,
meus
amores raros,
minha
noite insone,
minha
noite imune,
minha
face exangue
que
a meu Deus me une.
Hoje,
redivivo,
sofro
nova luz:
não
que me atormente
-
mas que me inaugura;
não
que me incendeie
nem
que me torture,
mas
que distribua
sem
que me conclua
nada
em minhas veias.
Hoje,
sou sem peias :
besta
libertada
a
trotar no verde
seu
relincho claro.
II
Hoje
já me sobram
naves
e galeras.
O
que dantes era
parte
da quimera
já
me sobra à porta;
pouco
agora importa;
minha
luta é minha.
Hoje
já me vejo
com
meus olhos novos
Hoje
já me posso reconstituir
no
suor fecundo
do
que lavra a terra,
na
visão que erra
sem
saber errar.
III
Hoje
me desperto
nesse
olhar do homem,
nesse
amar do homem,
no
morrer do homem
-
Hoje, redivivo,
sou
palavra e fome.
IV
Hoje
não relincho
por
temor ao vento :
mais
do que invento,
lúcido,
descubro
(hoje
existo em tudo).
V
Hoje
me alimento
mais
da minha fome:
donde
flua o homem,
nasço
e me refaço
-
Hoje sou mais tempo
conjugado
a espaço.
Pois
já não me pesa
tudo
o que me sofre:
hoje,
sou mais forte:
tudo
que circula
corpo
e pensamento
revigora
o tempo
de
manter-me à brisa
se
hoje não me pisam
com
seus cascos ágeis
meus
imaginários
sonhos
de paisagem.
VI
Já
senti o saltos
em
pensar o meio.
Hoje,
se receio
retornar
ao muro,
sinto-me
seguro.
Sinto-me
maduro
para
o meu comando:
seguirei
uivando,
recriando
estradas,
que
hoje não sou nada
do
que já me fora
mais
que morte, amor,
mais
que sombra, cor,
mais
que luz, inverno:
hoje,
redivivo
para
sempre - eterno.
ACTA EST FABULA
A Domingos Alexandre
A Domingos Alexandre
Morre o poeta.
Morre, com ele, toda a luz do mundo:
o espaço do seu rosto, o mar profundo,
a aurora e um pôr-do-sol escandaloso.
Morre o poeta e morre o Ocidente.
E o Oriente. E os pontos cardeais.
Morrem as estrelas. Morre o firmamento.
Morrem as sombras do pântano e o arvoredo,
todos os santos, todos os escribas,
os dias da semana, a quarta-feira.
E o próprio tempo, imóvel, que agoniza:
foi-se o olhar que no relógio via
a marcha, alegre e triste, dos ponteiros.
Morre o poeta.
Morre a alegria.
Morre tudo o que flui: morre a poesia.
Morre o poeta.
E morre o mundo inteiro.
POETA DO DOMINGO
Reviewed by Natanael Lima Jr
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07:01
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Expoentes da “Geração 65”, grande poeta ESMAN DIAS o defino com sua poesia:
ResponderExcluirMorre o poeta.
Morre, com ele, toda a luz do mundo:
o espaço do seu rosto, o mar profundo,
a aurora e um pôr-do-sol escandaloso.
Poeta Itaquitinguense Negreiros Neto
Conversar com Esman Dias... era como degustar uma taça de vinho mesmo que fosse num dia amargo dos anos de chumbo ... A serenidade antecedendo a fome dos nossos dias.
ResponderExcluirSaudades...
ResponderExcluirBoa parte da obra de Esman Dias perdeu -se para sempre no incêndio na sala do apartamento onde morava, na Boa Vista, que consumiu sua biblioteca e muita coisa inédita.
ResponderExcluirEsman Dias era luz que clareava e embeleza tudo ao redor. Meu eterno agradecimento com muito carinho🦋
ResponderExcluirProfessor com todo louvor. conhecimento inquestionável. Viagens literárias, literatura pura. Ele era a voz dos autores na sala de aula, desaparecia e nos apresentava a cada pessoalmente, tamanha a intimidade.
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