ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DA UBE ALEXANDRE SANTOS*
“a literatura é o
'primo pobre', merecendo atenção infinitamente menor do que, por exemplo, o
cinema ou, mesmo, música”.
Alexandre
Santos/Foto: Divulgação
O presidente da UBE (PE) Alexandre
Santos concede entrevista exclusiva ao DCP e fala sobre a literatura no estado
e no país, a UBE, o Congresso Mundial de Engenheiros Escritores e sobre o seu
mais recente livro.
Alexandre Santos é escritor, engenheiro
civil pela UFPE, cumpriu os cursos de especialização em Transportes Urbanos e
Trânsito na Universidade Federal do Ceará (UFCE) e de mestrado em Engenharia da
Produção e em Gestão Pública para o Desenvolvimento do Nordeste na UFPE. Foi
agraciado com a inclusão na Ordem do Mérito Literário ‘Jorge de Albuquerque
Coelho’, Ordem do Mérito Capibaribe, no grau de Comendador, no quadro de
agraciados com a Comenda ‘Padre João Ribeiro’, na Ordem do Mérito Manoel
Antônio de Moraes Rego, no quadro de Membros Honoráveis do Colégio de
Engenharia de Venezuela. Recebeu a Medalha do Sesquicentenário do Gabinete
Português de Leitura de Pernambuco e o Prêmio Vânia Souto Carvalho, instituído
pela Academia Pernambucana de Letras para agraciar o melhor romance no concurso
nacional de 2006, com o livro 'O moinho'. É membro de diversas entidades,
incluindo o Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura, Instituto
Solidarista de Estudos Políticos e Sociais Zanoni Lira Lins e a Academia
Brasileira de Autores Solidaristas. É editor-geral do informativo ‘A Voz do
Escritor’, membro do Conselho Editorial da Revista Algomais, do Conselho
Consultivo da Revista Nova Águia (Lisboa, Portugal) e do Conselho Editorial da
Revista Archiépelago (Cidade do México, México). É presidente de entidades
importantes como o Clube de Engenharia de Pernambuco, Associação Brasileira de
Engenheiros Escritores e União Brasileira dos Escritores. É autor dos
livros: Os Retirantes (1986), A Inevitável Primavera (1991), Teoria
do Valor (1994), Curso Básico de Matemática
Financeira(1995), Economia & Poder (1995), Solidarismo: O
Brasil para Todos(1995), Curso Básico de Administração de Materiais (1996),
Curso Básico de Avaliação Financeira dos Projetos de Investimento (1997),
Subsidiariedade Econômica: A Opção Decisiva (1997), Em Debate (1997), Crise - O
fim do ciclo liberal (1999), O Direito ao Trabalho Remunerado (1999), O Debate
Continua (2000), A Administração de Pequenas Empresas em Tempos de Crise
(2000), A face oculta do mercado (2001), G’Dausbbah (2005), O Moinho (2006),
Maldição e fé (2011), Raízes (2011), entre outros.
DCP – O cenário atual no estado é animador para a área da
literatura?
AS - Quando olhamos em volta e vemos a quantidade e a qualidade
dos escritores que atuam nas terras brasileiras e, sobretudo, nas nordestinas
e, especial, em Pernambuco - onde há um poeta, um cantador, uma agremiação
literária em cada esquina -, superamos eventuais pessimismos e recobramos a
esperança na arte literária como um dos principais elementos de animação e
resistência cultural e, portanto, de transformação social e política da
sociedade em nossa terra. Infelizmente, a quantidade, a qualidade e, sobretudo,
a potencialidade da produção artística dos escritores que atuam no Estado não
são correspondidas pelo apoio governamental na intensidade desejável. Há, de
fato, algum avanço no setor, mas, ainda, há muito por fazer. De qualquer forma,
mesmo com as dificuldades do setor, além de o movimento das editoras locais
apontar grande produção literária, observa-se a consolidação e o surgimento de
casas que prestigiam a apresentação de poesia como atração artística e, ainda,
o viço crescente do calendário das festas, festivais, encontros e congressos
literários realizados no Estado.
DCP – A UBE como casa que congrega o autor brasileiro, quais as
perspectivas e ações para os novos autores?
AS - Embora seja uma agremiação de índole política, além de fazer
a representação nacional dos escritores que atuam no Brasil, a UBE mantém uma
intensa programação cultural, inclusive como forma de estimular o gosto pela
arte de escrever. Nesta perspectiva, a UBE vem desenvolvendo um conjunto de
programas literários, que percorre vários gêneros e temáticas literárias para
criar ambiente propício à participação de escritores de diversos matizes e
preferências. Assim, neste começo de temporada, além de festejar a 500ª'sessão
do programa 'Quarta às Quatro' (o mais antigo em funcionamento nas Américas), a
UBE vai investir em outros programas - como 'A temática do amor', por exemplo,
que melhor se adequa aos escritores e leitores das coisas do coração; 'O
fantástico na literatura' para amantes de obras fantásticas, maravilhosas e
estranhas; 'Clube do Livro', que aprecia livros de autores locais; 'Seminário
de Historiologia', 'Cordel na UBE', 'A arte de narrar' e todos os outros - e
intensificar o programa de homenagens a personalidades e localidades, de modo a
lançar mensagens sobre comportamentos que julgamos exemplares à sociedade. Com
portfólio tão amplo de possibilidades, a UBE está apta a acolher novos autores
não só com a orientação para o affair literário, mas, também, com ambiência
apropriada para a apresentação da arte que o anima.
DCP – Qual o balanço que você faz para a literatura no cenário
nacional?
AS - Sou um otimista por natureza e, confiante na capacidade
criativa dos autores brasileiros, concentro a minha preocupação na
democratização dos incentivos culturais ao setor. Nunca é demais lembrar que,
das linguagens artísticas, a literatura é o 'primo pobre', merecendo atenção
infinitamente menor do que, por exemplo, o cinema ou, mesmo, música. Além disso,
reproduzindo aquilo que se observa em outros aspectos, em processo extremamente
facilitado pelo atual mecanismo de incentivo cultural, há uma concentração
excessiva dos estímulos culturais na região sudeste, beneficiando, basicamente,
artistas de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Nesta perspectiva, a
mudança na Lei de Incentivo Cultural, substituindo o mecenato por um sistema de
fundo cultural, é essencial para ampliar a participação de autores de outras
regiões no panorama artístico literário do País. De qualquer forma, vemos, com
orgulho, o progressivo reconhecimento mundial da literatura produzida no Pais,
insinuando que é mais que chegada a hora de um autor brasileiro ser premiado
com o Nobel de Literatura.
DCP – O que representa o Congresso Mundial de Engenheiros
Escritores para Pernambuco?
AS - Ao realizar o Congresso Mundial de Engenheiros Escritores em
Pernambuco, dando palco para a apresentação de escritores com a dimensão
artística e literária dos engenheiros Ernesto Melo e Castro, Marc Meyers,
Carlos Verjar, Evando Mirra, Fernando Sandronni e outros, a Associação
Brasileira de Engenheiros Escritores (ABRAEE) coloca o Estado no foco das
atenções do mundo da literatura. A escolha do local de realização do Congresso
- o tricentenário Forte das Cinco Pontas, no bairro de São José, no Recife -
obedeceu a rigoroso critério de modo a concentrar as atividades literárias do
evento em construção marcante para a engenharia do século XVII, quando
Pernambuco situava-se no centro das decisões econômicas mundiais. Agora, pelas
mãos da literatura, o Estado volta ao centro das atenções do seguimento.
DCP – O escritor e o engenheiro, como estas duas forças formam a
personalidade de Alexandre Santos?
AS - Estou convencido que, independentemente da formação profissional,
dentro de cada pessoa, mora um artista. Nas horas de lazer, uns cantam, outros
tocam algum instrumento musical, outros gostam de cozinhar, outros pintam,
outros gostam de ler. Eu gosto de música e literatura. Infelizmente, não
consigo cantar ou tocar qualquer instrumento. Em compensação, leio e escrevo. E
leio e escrevo muito. Até algum tempo, eu pensava que um Alexandre, o
engenheiro, manuseasse números e o outro Alexandre, o escritor, manuseasse
letras. Hoje, se que ambos lidam com números e letras. O engenheiro procura
impregnar a sua ação com a sensibilidade associada à arte literária e o
escritor vem impregnando a sua obra com variações da estética observada na obra
de Deus. Assim, sou, ao mesmo tempo, um engenheiro-escritor - um profissional
técnico, que se deixa embalar pela arte - e um escritor-engenheiro - um artista
da palavra, que usa a lógica para ordenar ideias e contamina a beleza com novos
padrões, contribuindo para a definição de novos padrões estéticos.
DCP – Fale um pouco sobre a sua mais recente obra “O livro dos
livros”?
AS - O poder é o tema central da minha obra literária. O romance
'O livro dos livros', que tem tudo para suscitar tanta polêmica quanto
'Maldição e fé', fala da construção de uma Igreja como instrumento de controle
social e peça fundamental de um plano para completo domínio econômico, social e
político da sociedade. É nesta ambiência que surge 'O livro dos livros' - uma
coletânea de ensaios morais e de novelas, rigorosamente ajustada às esperanças
das pessoas, capaz de, ao mesmo tempo, socorrê-las nos momentos de dificuldade,
oferecendo-lhes segurança nos momentos de incerteza, esperança nos momentos de
debilidade, conforto nos momentos de dor, perdão nos momentos de
arrependimento, apontando-lhes a possibilidade de vida após a morte e,
finalmente, talvez o mais importante, determinando um padrão ético e uma regra
geral de comportamento (criando, assim, o modelo de controle social por ele
desejado). É um livro que ainda vai dar muito que falar.
ENTREVISTA COM O PRESIDENTE DA UBE ALEXANDRE SANTOS*
Reviewed by Natanael Lima Jr
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