POEMAS DO DOMINGO
Poemas de Frederico Spencer, Natanael
Lima Jr., Ramos Sobrinho, Júlia Lemos e Taciana Valença
Cantiga do Capibaribe
Frederico Spencer
Sonhou-se um dia:
sobre tua pele, n(aves) deslizariam
e ao trabalho te darias:
carne para os pobres - lazer
para os ricos flamejantes - espigões
em tua periferia brotariam
e em cada janela corpos nus cantariam:
- muitos homens como chão, te
sonharam.
Outros, qual amantes
resgatariam sonhos de feudos
e se transbordariam do efêmero líquido
e durante a noite, no teu canto
úmido, acalentaria a sede das sedes
como panos mornos
sobre a cidade ofegante.
Hoje à pátina, nesta tela:
a libido proibida, contraído sexo
para não morrer, recusa
a escusa do limbo escaldo dos engenhos
que movem os homens da cana-de-açúcar:
em teus pulmões de espuma
a viagem intransitável em teu ser.
Assim,
amanheço em ti, Recife
Natanael
Lima Jr.
Desperta
Recife
nas
manhãs das pontes, rio
sossega
a agitação da Aurora.
Assim
te vejo mais bela, Recife
dos
meus sonhos.
Tuas
praças, sonâmbulas, vazias
amanhecem.
E
a Boa Vista,
além
do Atlântico, os rios
nunca
secam.
Assim,
amanheço em ti, Recife.
Poetas no
Recife*
Ramos
Sobrinho
O
poeta atravessa
a
ponte
qual
um cão atravessa
a
fome,
farejando
as pedras,
inventa
babilônias
com
ruas de poemas
e
jardins suspensos
contra
a tísica das horas.
E
ninguém vê.
*Poema
transcrito da antologia POESIA VIVA DO RECIFE, organizada por Juareiz Correya
Madrugada no
Recife
Júlia
lemos
Deus
abençoe os homens e mulheres
notívagos
desta cidade.
Deus
abençoe
o
povo dessa terra
de
lodosas margens.
De
caçoá nas mãos
seguem
os catadores de caranguejos,
que como esferas luminosas vão marchando
na
horizontal e têm em abundância
na
praia do Manguezal.
Deus
nos livre
dos
homens entrincheirados,
arma
branca, arma negra,
escondidos
entre as fendas
feito
escorpiões.
Notívaga,
eu a tudo assisto,
suplicando
por todos:
homens
justos e injustos.
Vazio
Taciana
Valença
E
nesse vazio
Apenas o silêncio do nada
Caminho escuro
Nenhum movimento na estrada,
Curvas sem sinalizações
Sem destino, nem porteiras
Caveiras pelo chão,
De gente que já foi um dia
Enquanto outros contam os passos
E se apressam, até que esquecem aonde vão
E os passos de repente seguem lentos,
Tristes, no breu d’uma vida em vão,
Lá em cima, constelações no negro universo
Piscando num insulto,
Um lembrete do que somos,
E donde estamos, soltos no infinito,
E no mais, esse nadismo...
Um nadar constante nesse mar de estrelas
E morre-se a cada dia,
Vivendo talvez a cada morte,
Quem sabe o nada precise de mim,
Desse abalo sísmico de interrogações
Que mexe com meu mundo
E tira tudo do lugar,
E vai, sem querer voltar
Perde-se nas braçadas em vão,
Nas borras do coração
Que jamais serão recompostas
Nesse mundo sem respostas
No rosto afundado no travesseiro,
Na entrada não havia letreiro,
Nem mesmo o quê de excursão,
Ninguém a ciceronear esse mundo
Que ninguém sabe onde vai dar.
Apenas o silêncio do nada
Caminho escuro
Nenhum movimento na estrada,
Curvas sem sinalizações
Sem destino, nem porteiras
Caveiras pelo chão,
De gente que já foi um dia
Enquanto outros contam os passos
E se apressam, até que esquecem aonde vão
E os passos de repente seguem lentos,
Tristes, no breu d’uma vida em vão,
Lá em cima, constelações no negro universo
Piscando num insulto,
Um lembrete do que somos,
E donde estamos, soltos no infinito,
E no mais, esse nadismo...
Um nadar constante nesse mar de estrelas
E morre-se a cada dia,
Vivendo talvez a cada morte,
Quem sabe o nada precise de mim,
Desse abalo sísmico de interrogações
Que mexe com meu mundo
E tira tudo do lugar,
E vai, sem querer voltar
Perde-se nas braçadas em vão,
Nas borras do coração
Que jamais serão recompostas
Nesse mundo sem respostas
No rosto afundado no travesseiro,
Na entrada não havia letreiro,
Nem mesmo o quê de excursão,
Ninguém a ciceronear esse mundo
Que ninguém sabe onde vai dar.
POEMAS DO DOMINGO
Reviewed by Natanael Lima Jr
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10:13
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Sempre um prazer estar aqui.
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