CONTO DO DOMINGO
Libélula tatuada (conto) Paulo Caldas
Paulo Caldas
Foto: Divulgação
Pareciam o sol no limo, umas bolhinhas bestas
grudadas no buço, quando não, equilibradas na ponta gordinha do nariz. Lábios
grossos, só os de baixo, os de cima nem tanto, são mais uma linha sinuosa
riscada entre as barrocas, traço sutil, ainda mais quando o riso movimenta a
face rosada de manga madura, expondo jeito inocente quando nasce, mas sedutor
quando se completa.
Volátil, me escapou entre os dedos incrédulos,
inseguros, inábeis, inibidos.
Hoje amanheci você. Vejo-a como fora. Gentil
parceiro, mais que isso, o tempo lhe ama também. Porém, com mais sorte, está em
você. E eu? Eu só na espreita da esperança, olhos vazios de sua imagem que
apenas me farta quando vinda ao colo das lembranças.
Se ele lhe é fiel, penso que a escolheu para si,
musa ou amante, quem sabe as duas coisas, é tirano comigo, me jogando as más
querências, pragas da maldade que sempre faz valer.
Contudo esquece ele que a saudade socorre minhas
penas. Com ela em mim revejo aqueles olhos meio tristes, nem castanhos nem
verdes, nem azuis, um matiz exclusivo, concebido pra você. Toco os cabelos
lisos, escorridos quando soltos, escondendo a libélula tatuada que habita no
seu ombro.
CONTO DO DOMINGO
Reviewed by Natanael Lima Jr
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09:58
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