POEMAS DA SEMANA
Poemas de Ivan Marinho, Raimundo de
Moraes, Miró, Cícero Melo e Antonio de Campos
ELO*
Ivan
Marinho
As
lembranças,
não
dos sonhos,
mas
da sensação de sonhar
alentam
o estado de pedra
exposta
ao sol mais causticante
e
traz às narinas o suspiro
e
o descanso das pálpebras
sobre
a face iluminada
por
um riso sonolento.
Estado
de graça
embalado
por chorinhos,
cheiro
de terra molhada
e
pingos sobre as telhas.
Como
cão farejador
rastreio
o elo perdido
entre
o desengano e a vontade de viver.
Sina
malograda
esse
tempo de morrer.
*Transcrito do
livro Anti-horário, 2000
O DESEJO*
Raimundo
de Moraes
Quantas
vezes o Tigre
fez-me
domado
com
patas sobre o peito e garganta
–
boca aberta babando em meu rosto?
Não
sei. Não sei.
Lembro
amores em variados bíceps
corpos
em arco a disparar serpentes.
O
Tigre acossa-me. Vejo!
Sou
seu espelho.
“Narciso”
– escreve com garras
em
meu ventre.
E
começa a lamber
o
que me resta.
*Transcrito de
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AQUI JAZZ*
Miró
Abro
a porta de mim
dou
de cara
com
um cheiro de álcool insuportável
toco
fogo e saio andando
cinzas
de Luna e Espinhara
deixam
meus cabelos brancos
e
o fígado pedindo calma
Ando
mais um pouco
e
encontro no sofá antigo
os
82 anos de Dona Joaquina
sento
meus 46 anos
e
vou folheando um álbum cheio de retratos
(descubro
que eu não era assim)
e
assim
toco
fogo no álbum
fecho
a porta
e
saio de soslaio
pra
não ser pego de surpresa
pelos
cacos de cerveja
*Transcrito de
Miró até agora, 2013
ECLIPSE
Cícero
Melo
Ultrapassado
o ponto de retorno,
outro
rosto se purga no soturno
redesenhar
do morto.
Amargo o anoitecer para o expurgo.
A
face turva e posta a farsa espelha
o
dessangrar da faca.
O
lobo oculta o lar enquanto sombra.
Há
sempre mais um ponto no repouso
onde
se tomba.
QUANDO MORRE UM POETA, O MUNDO MORRE
UM POUCO, TAMBÉM
Antonio
de Campos
à memória de Nivaldo Lemos
Como
poeta,
na
vida foste um sobrevivente,
também
à
morte sobreviverás
Ainda
estás comigo pelos bares,
tomando
cervejas
e
contanto tuas histórias
que
ao espírito, como luva, me desciam
Finda
a noite,
feito
um menino grande,
voltava
pra casa com inveja
de
tua coragem
Muito
mais coragem
tens
agora,
muito
mais agora,
invejo-te
eu
agosto 28, 2014
POEMAS DA SEMANA
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
09:59
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