Joaquim Cardozo
O DCP
traz nesta edição mais um grande poeta pernambucano, esquecido pelos
“iluminados” produtores culturais que desbotam a cena literária do estado.
Joaquim Maria
Moreira Cardozo, o pernambucano que calculou os edifícios de Oscar Niemeyer.
Cardozo era um intelectual da Renascença no Recife da primeira metade do século
XX. Poeta (parceiro modernista de Manuel Bandeira e João Cabral de Melo Neto), contista,
chargista, professor universitário, editor e filósofo, entrou para a história do
país como o engenheiro civil que transformou possibilidades em certezas. Para
Niemeyer, com quem trabalhara na Pampulha, era o brasileiro mais culto que
existia.
Começa a
escrever a partir de 1924, entretanto seu primeiro livro “Poemas” só foi editado em 1947, por iniciativa
do poeta João Cabral de Melo Neto. Ocupou a Cadeira nº 39 da Academia
Pernambucana de Letras. Ao todo, foram publicados onze livros de sua autoria,
dos quais se destaca o de estreia “Poemas”, que teve como prefaciador o poeta
Carlos Drummond de Andrade.
Numa primeira fase, Cardozo parece
aderir ao Modernismo nacionalista, cantando nos poemas aspectos típicos da
capital pernambucana. Numa segunda fase (Signo Estrelado), é Carlos Drummond de
Andrade (Passeios na Ilha) a aproximá-lo do lirismo valéryano, racionalista,
abstrato e de sábia arquitetura verbal e métrica. Em qualquer das fases está a
afirmação de um artista do verso, que impressiona sobretudo pelas metáforas, surpreendentes
associações verbais (chão de cinza e fadigas; saudade pura/de abril, de sonho,
de azul; aurora verde; rastro de luz macia), economia da expressão, sintaxe e
ritmo cheios de sutileza e subjetividade.
Para o crítico literário César Leal, “Joaquim
Cardozo é o maior poeta brasileiro do século XX. Não creio que seja apenas o
mais completo poeta da língua, pois, ao publicar o livro Trivium, em 1970, ele atinge a transcendência, deixando de ser um
representante da poesia da língua portuguesa, para situar-se num plano
universal: o plano da língua poética pura, uma língua geradora de símbolos e
imagens e que não tem um interesse meramente comunicativo.”
Joaquim Cardozo faleceu em Olinda, no dia 04
de novembro de 1978. Deixou diversos livros inacabados, que foram publicados
posteriormente.
Os editores
Dois poemas de Joaquim Cardozo
Soneto somente
Nasci
na várzea do Capibaribe
De
terra escura, de macio turvo,
De
luz dourada no horizonte curvo
E
onde, a água doce, o massapé proíbe.
Sua
presença para mim se exibe
No
seu ar sereno que inda hoje absorvo,
E
nas noites com negridão de corvo,
Antes
que ao porto do céu arribe.
A
lua assim só tenho essa planície...
Pois
tudo quanto fiz foi superfície
De
inúteis coisas vãs, humanamente.
De
glórias e de alturas e de universos
Não
tenho o que dizer nestes meus versos:
-
Nessa várzea nasci, nasci somente.
Menina
Os
teus olhos de água,
Olhos
frios e longos,
Esta
noite penetraram.
Esta
noite me envolveram.
Bem
querida madrugada...
Olhos
de sombra, olhos de tarde
Trazem
miragens de meninas...
Bundas
que parecem rosas.
Sob
o caminho de muitas luas
O
teu corpo floresceu.
Joaquim Cardozo
Reviewed by Natanael Lima Jr
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10:24
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