Poemas da Semana
Poemas de
Alberto da Cunha Melo, Manuel Bandeira, Jade Dantas, Lau Siqueira e Taciana
Valença
Oração pelo poema
(Fragmento)
Alberto da Cunha Melo (1969)
Alberto da Cunha Melo/Foto: Arquivo
XVI
Senhor,
este poema sabe
o
número certo de mortos:
acaba
de ler os jornais
do
dia, e não está contente.
Olha
teus anjos, mas não perde
de
vista as patrulhas que rondam
as
alamedas do teu reino,
como
disse, desencantado.
Entra
furioso no templo
para
pedir-te explicações,
e
tocar os sinos mais altos
e
provocar tua inocência.
Volta
sem flores do mercado
(para
não falar noutra coisa
que
magoa a forma discreta
de
acusar o tempo que passa).
Segue
furtivo e camuflado
como
um lagarto, pelas folhas:
Senhor,
este poema sabe
de
tudo, e não pode dizer.
Desencanto
Manuel Bandeira
Manuel Bandeira/Foto: Arquivo DCP
Eu
faço versos como quem chora
De
desalento. . . de desencanto. . .
Fecha
o meu livro, se por agora
Não
tens motivo nenhum de pranto.
Meu
verso é sangue. Volúpia ardente. . .
Tristeza
esparsa... remorso vão...
Dói-me
nas veias. Amargo e quente,
Cai,
gota a gota, do coração.
E
nestes versos de angústia rouca,
Assim
dos lábios a vida corre,
Deixando
um acre sabor na boca.
–
Eu faço versos como quem morre.
Teresópolis, 1912
Manifestação
Jade Dantas
Img: Reprodução
sou
hóspede perdida
na
imensidão do tudo
visionária,
procuro o infinito
além
do meu percurso
já
viajei em praias azuis
mergulhei
em outros mares
foi
inútil
não
consegui caminhar
no
ritmo que queria, só amarras
procuro
os caminhos das travessias
que
sigam além do acomodado
além
das covardias, além dos muros
Da imortalidade poética
Lau Siqueira
Img: Reprodução
eternas
mesmo
são
as nuvens
essas
dissonâncias
do
infinito
eternas
e
mutantes
mas
a vida
e
suas dobras
de
estupidez e
coragem...
a
vida é aqui
e
agora
e
é frágil
como
uma caipora
é
tão frágil a vida
que
uma única morte
não
basta
por
isso sempre
amanheço
um pouco
esta
memória
o
que está posto
poderia
ser dito
numa
oração
num
tratado
numa
tese
num
conceito
reformado
mas
eis aqui
um
poema
besta
e
hoje nem é sexta
Naufragando
Taciana Valença
Img: Reprodução
Desconheço-me!
se
estive onde dizes
traze-me
a prova!
Recuso-me
a esta prosa
que
em vão vive
sem
idas nem voltas!
Nunca
estive
onde
ousas dizer
Jamais
saí daqui
donde
vejo-te naufragando
num
eterno entardecer...
Poemas da Semana
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
10:03
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Bela seleção de poemas e justa homenagem a esses grandes poetas. Parabéns!
ResponderExcluirValeu Negreiros.
ExcluirSomos agraciados com o prazer da leitura!
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