Macondo está de luto
por Fernando Farias
Quem me contou foi o cigano Melquíades.
Gabriel García Márquez se foi depois de viver uma
morte aos poucos anunciada pelo câncer em seus pulmões. Todas as gerações de
Macondo em volta do corpo de Gabo.
Vejo que o coronel Aureliano Buendía está chorando
ao lado de suas mulheres. Úrsula Iguarán com olhar distante já esperava pela
partida, pois todos morrem antes dela. Pilar Ternera me disse que tudo já
estava previsto nas cartas, dia 17 de abril.
Maria dos Prazeres que nada sabia sente um pouco de ciúmes. Nervosa, a
Rebeca come bolos de terra seca num canto da sala.
Do quarto onde está a menina Remédios, a Bela, e o
Mauricio, percebo saindo as borboletas amarelas. No outro quarto, mesmo sabendo
da morte de Gabriel, a Erêndira continua atendendo a fila de homens sedentos,
para poder pagar sua dívida com a avó desalmada. Dezessete ingleses envenenados
com os 17 filhos de Aureliano em fila. Pobre da senhora Forbes, lagrimeja na
varanda.
As crianças ainda brincam navegando luz como água.
Alugo-me para sonhar com tantos personagens tristes. A louca do telefone, o
presidente aposentado e a menina santa conversam baixinho.
Nena Daconte entra na sala e, com dedo sangrando,
coloca uma rosa no peito do Gabriel.
Da cozinha o Arcádio grita “muitos anos depois,
diante do pelotão de fuzilamento, o coronel Aureliano Buendía haveria de
recordar aquela tarde remota em que o pai o levou a conhecer o gelo”.
O cigano Melquíades sorrindo fala ao meu ouvido.
“grandes escritores quando morrem vão se encontrar com seus personagens”.
Mestre Gabriel, obrigado per ter criado tantos personagens
que agora habitam dentro de minha mente e choram tua morte. Estão tão vivos
que, eu creio, também, agora, sou um deles.
Macondo está de luto
Reviewed by Natanael Lima Jr
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08:01
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É verdade Fernando. Ele era um grande escritor e com certeza foi se encontrar com seus personagens ;)
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