Domingo de Drummond
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Poeta, contista e cronista. Carlos Drummond de
Andrade foi sem dúvida, um dos nomes mais importantes da literatura do século
XX. Nascido em Itabira (MG) em 1902, completaria se vivo fosse 111 anos neste
31 de outubro. Começou sua carreira literária em 1930 com o livro “Alguma
poesia” e escreveu por mais de 50 anos em prosa e versos, marcando o século que
viveu. Sua literatura virou música e páginas de jornais. Sem sua poesia ficamos
qual “José” que se perdeu na vida, dançando na “Quadrilha” fomos surpreendidos
por personagens que não existiam na história, só sobrou a náusea desse tempo
onde nenhuma flor venceu este asfalto.
Quatro poemas
de Carlos Drummond de Andrade
Congresso Internacional do Medo
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso
companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos
desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das
igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos
democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da
morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e
medrosas.
Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos
meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.
Canção Final
Oh! se te amei, e quanto!
Mas não foi tanto assim.
Até os deuses claudicam
em nugas de aritmética.
Meço o passado com régua
de exagerar as distâncias.
Tudo tão triste, e o mais triste
é não ter tristeza alguma.
É não venerar os códigos
de acasalar e sofrer.
É viver tempo de sobra
sem que me sobre miragem.
Agora vou-me. Ou me vão?
Ou é vão ir ou não ir?
Oh! se te amei, e quanto,
quer dizer, nem tanto assim.
O mundo é
grande
O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.
Domingo de Drummond
Reviewed by Natanael Lima Jr
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07:04
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