Poemas da Semana
Poemas
de Natanael Lima Jr, Frederico Spencer, Affonso Romano de Sant’Anna, Adélia
Prado, Luiz Alberto Machado e Meimei Corrêa
Quem vai conter a vida*
Natanael Lima Jr
Img: Reprodução |
Quem vai
conter a vida
se é
sutilíssimo
o seu poema
em cada
amanhecer?
Aqui ninguém é
dor
ninguém passa
a limpo o tempo
e o excesso é
a conta da vida.
Em nós há
primaveras
e manhãs
insuladas.
Ninguém há de
conter
a vida
transitória.
*Do livro À
espera do último girassol & outros poemas, 2011
Poema da vida*
Frederico Spencer
(fragmento)
Img: Reprodução |
Não te queria
assim
tatuada, trago
no braço
do tempo
prisioneiro:
teu compasso
me fere
o relógio
marca meu tempo ligeiro.
Em tuas águas
minhas
estradas me fazem a ferro
não te consigo
assim
devagar, entre
os dedos
escorres e
fundo pisas
meu coração
apressado
vago paralisa.
*Do livro Abril
sitiado, 2011
Nota: O
poema da vida
é composto por 12 poemas que compõem a obra, os quais passamos a editar um por
domingo.
A higiene do corpo*
Affonso Romano de Sant’Anna
Img: Reprodução |
Toda manhã a barba
cresce sobre a face
da terra e do homem
pedindo o orvalho
– e a navalha.
Presto, acordo a lâmina
e deslizo um óleo santo
sobre o imolado rosto da manhã.
cresce sobre a face
da terra e do homem
pedindo o orvalho
– e a navalha.
Presto, acordo a lâmina
e deslizo um óleo santo
sobre o imolado rosto da manhã.
Do chuveiro escorre a água
sobre as partes circundadas pela mão
alegre. Os poros se aliviam
descendo brancas bolhas perna abaixo.
sobre as partes circundadas pela mão
alegre. Os poros se aliviam
descendo brancas bolhas perna abaixo.
É o banho: ritual aquático e diário
Daquele que se purifica e matinal
Desdobra as felpas da toalha
E sai ungido em veste pura.
Daquele que se purifica e matinal
Desdobra as felpas da toalha
E sai ungido em veste pura.
Te vestirei com meu suo,
Te banharei toda manhã,
Te alimparei , te cuidarei
Nas unhas e dentições .
Te banharei toda manhã,
Te alimparei , te cuidarei
Nas unhas e dentições .
Os teus pelos polirei,
Os teus fios cortarei
E como potro bravio
Pelos pastos crescerei.
Os teus fios cortarei
E como potro bravio
Pelos pastos crescerei.
*Poema
extraído do blog: palavrarte.com
Com
licença poética*
Adélia Prado
Img: Reprodução |
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.
*Nota:
O
poema "Com licença poética" parafraseia o "Poema de Sete
Faces", de Drummond.
Canto
verde
Luiz Alberto Machado
Img: Reprodução |
Convém lembrar, companheiro, a vida
Para os olhos de todas as manhãs
Não permitindo ao fedor das sentenças
Vender o dia às trevas;
Convém lembrar, companheiro, a terra
Onde pisam os pés de todas as cores, raças e crenças;
O rio de todas as canoas, de todos os peixes,
De todas as cachoeiras que assobiam prá gente
Um outro sentido de vida;
O sol, manifestação real da própria existência.
Convém lembrar, companheiro,
Do sopro de todos os ventos,
Das matas de todas as flores,
Do quintal de todas as infâncias,
De todas as várzeas, todos os campos,
Todas as selvas dos bichos de todas as feras e mansas;
Das águas de todos os mares,
Todos os brejos, lagos e lagoas;
Convém lembrar, acima de tudo,
O direito de viver e deixar viver.
Não permitindo ao fedor das sentenças
Vender o dia às trevas;
Convém lembrar, companheiro, a terra
Onde pisam os pés de todas as cores, raças e crenças;
O rio de todas as canoas, de todos os peixes,
De todas as cachoeiras que assobiam prá gente
Um outro sentido de vida;
O sol, manifestação real da própria existência.
Convém lembrar, companheiro,
Do sopro de todos os ventos,
Das matas de todas as flores,
Do quintal de todas as infâncias,
De todas as várzeas, todos os campos,
Todas as selvas dos bichos de todas as feras e mansas;
Das águas de todos os mares,
Todos os brejos, lagos e lagoas;
Convém lembrar, acima de tudo,
O direito de viver e deixar viver.
*Luiz Alberto Machado é poeta, escritor, compositor musical e radialista pernambucano. É
pesquisador, contador de história, editor do blog Varejo Sortido e do Guia de
Poesia do Projeto SobreSites (RJ). É cônsul em Alagoas do Poetas del Mundo.
Parte do seu trabalho está reunido na sua home www.luizalbertomachado.com.br
Bells across
the meadows
(Sinos além dos campos )
Meimei Corrêa*
Img: Reprodução |
Além, muito além dos campos,
Onde os olhos já não alcançam,
Existe a magia de cores,
O perfume de mil flores,
A brisa suave do vento...
A carícia envolvente da Lua
E o beijo ardente do Sol,
Despertam desejos adormecidos,
Enquanto as estrelas brindam
Aos sentimentos solitários e silenciosos,
Cravados para sempre no peito.
Além, muito além dos campos,
Há sinos incansáveis que tangem
Espalhando a melodia embriagada
Que o coração embebedou na madrugada
De sonhos e lágrimas, talvez...
Também há rimas perdidas
Brincando com as folhas no chão,
Correndo, deixando as pegadas
Marcadas no tempo que jamais as destrói.
É... além, muito além dos campos,
Alguém se esquece na dor,
Se perde na vida não reencontra o amor
Pois a estrada é muito longa
E os caminhos tortuosos demais,
Formando um labirinto sem saída.
E os sinos além dos campos
Tangem incessantemente...
Eles não param...
Não param... não param...
Não param...
*Meimei Corrêa
é poeta, membro fundadora e efetiva da Academia
Tricordiana de Letras e Artes (MG), apresentadora do Programa Domingo
Romântico, pela Cidade FM (Campos Gerais – MG) e editora do blog Baú de Ilusões
http://www.meimeicorrea.blogspot.com.br/
Poemas da Semana
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
10:23
Rating:
Fazer parte deste recanto encantador ao lado de grandes nomes da nossa poesia, é uma honra. Obrigada, amigo Natanael e também a todos que aqui estão. Por mim e por Luiz Alberto Machado, até sempre. Abraços.
ResponderExcluirPrazer é todo nosso poeta. Abç!
ExcluirNatanael Jr
Fazer o Domingo com Poesia com um time como este é muito mais fácil e prazeroso. Um forte abraço para os dois poetas.
ExcluirFrederico Spencer
Frederico, Luiz Alberto e eu agradecemos de coração. A alegria, a honra é nossa fazer parte deste trabalho maravilhoso de vocês. Abraços nossos.
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