Poemas da Semana
Poemas de Ferreira Gullar, Antonio de Campos,
Marcus Accioly, Sérgio Vaz e Arnaldo Antunes
Aprendizado*
Ferreira Gullar
Foto: Reprodução
Do mesmo modo que te abriste à
alegria
abre-te agora ao sofrimento
que é fruto dela
e seu avesso ardente.
Do mesmo modo
que da alegria foste
ao fundo
e te perdeste nela
e te achaste
nessa perda
deixa que a dor se exerça agora
sem mentiras
nem desculpas
e em tua carne vaporize
toda ilusão
que a vida só consome
o que a alimenta.
*Do livro Barulhos, 1987
Os pássaros do
mal
(profecia para
um tempo que virá)
Antonio de
Campos
Não permitiremos um novo Japão
ao Sul do equador.
Henry Kissinger*
Img: Reprodução
Seu petróleo
me pertence!
Ao Sul*,
sempre ao Sul,
de plumas
encarnadas,
brancas & azuis,
canta
a araponga
americana
seu lento
agouro-blues
Acauã, dacauã,
ã,
geme a acauã,
pro país chamando a Morte,
enquanto em
cima,
da América do
Norte,
responde o corvo
de Allan*,
desde
Baltimore* –
o Sul
nevermore*,
mo(r)re,
mo(r)re, mo(r)re!
*este
psicopata ainda está vivo, com 90 anos de Morte, e nenhum
Tribunal o
julga e o condena, como condenou os nazistas da Segunda Guerra,
por Crimes Contra
a Humanidade, que praticou
*”Artigo na revista Forbes (de setembro
10, escrito por Christopher Helman,
leia-se
Hellman: Homem do Inferno, Satã, interpolação minha),
justifica o monitoramento da Petrobas pelo fato de
a companhia
ter papel chave na estabilidade da América do
Sul.” Ou seja, sobrevivência deles.
Manchete do
Jornal do Commercio, edição de setembro 11,
Dia de
Salvador Allende (quem com ferro fere),
Dia de Bin
Laden (com ferro será ferido), ironicamente
*Edgar Allan
Poe, gênio da poesia e da literatura norte-americana
*cidade onde
morou, morreu e está enterrado Edgar Allan Poe
*o Sul nunca
mais.
“Nevermore”
vaticinava o corvo da poesia homônima de Allan Poe
Marcel Proust*
Marcus Accioly
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igual a um
negativo que, Marcel
Proust, no
espaço fez-se revelado
na memória,
nas tiras de papel
e em tudo que
continha do passado
uma
“cintilação”, um ouropel,
um pó que te
abrigou a estar trancado
no quarto,
preso à cama, ao teu dossel
de cortiça –
segundo Cocteau –
escrevendo de
luvas, pois a asma
era (além de
Celeste) o teu fantasma,
o espectro que
se foi e que ficou
da mulher
gorda e negra, com seu porte
de mãe, de
amante, de enfermeira e morte.
*Do livro Daguerreótipos, 2008
Simplicidade
Sérgio Vaz*
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No princípio
quando era o verbo
de tão pequeno me achava grande,
uma enorme sombra diante de um sol pequeno.
Mas a grandeza das coisa pequenas,
que são as estrelas na órbita da lua,
ensina que a vida cabe somente
na sua via-láctea.
Porém,
se no teu infinito
não cabe a escuridão alheia,
você brilha tão intenso
que o universo cabe todo
numa casca de noz.
E aí, de tão grande a simplicidade
nasce em teu coração
um planeta melhor:
eu, tu, eles, nós, voz.
de tão pequeno me achava grande,
uma enorme sombra diante de um sol pequeno.
Mas a grandeza das coisa pequenas,
que são as estrelas na órbita da lua,
ensina que a vida cabe somente
na sua via-láctea.
Porém,
se no teu infinito
não cabe a escuridão alheia,
você brilha tão intenso
que o universo cabe todo
numa casca de noz.
E aí, de tão grande a simplicidade
nasce em teu coração
um planeta melhor:
eu, tu, eles, nós, voz.
*Poeta, fundador da Cooperifa em São Paulo. Poema
extraído do blog: www.colecionadordepedras1.blogspot.com
Iluminuras
Arnaldo Antunes*
Img: Reprodução
Pensamento vem
de fora
e pensa que vem de dentro,
pensamento que expectora
o que no meu peito penso.
Pensamento a mil por hora,
tormento a todo momento.
Por que é que eu penso agora
sem o meu consentimento?
Se tudo que comemora
tem o seu impedimento,
se tudo aquilo que chora
cresce com o seu fermento;
pensamento dê o fora,
saia do meu pensamento.
Pensamento, vá embora,
desapareça no vento.
E não jogarei sementes
em cima do seu cimento.
e pensa que vem de dentro,
pensamento que expectora
o que no meu peito penso.
Pensamento a mil por hora,
tormento a todo momento.
Por que é que eu penso agora
sem o meu consentimento?
Se tudo que comemora
tem o seu impedimento,
se tudo aquilo que chora
cresce com o seu fermento;
pensamento dê o fora,
saia do meu pensamento.
Pensamento, vá embora,
desapareça no vento.
E não jogarei sementes
em cima do seu cimento.
Poemas da Semana
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
08:05
Rating:
Salve o Poeta Ferreira Gullar!
ResponderExcluirLer Ferreira é sempre um APRENDIZADO...E milhares de emoções...