TransWinter

A Poesia (viva) Pernambucana

POEMAS DE ANTONIO DE CAMPOS, ROBERTO MENEZES, IVAN MARINHO, NATANAEL LIMA JR E FREDERICO SPENCER



Canção do marasmo nacional
Antonio de Campos*


Tudo está na santa paz!
Nos céus do país, o Halley,
em terra os "artistas" entreguístas
e os malandros do ano sem lei.


Tudo está na santa paz!
Bolívar em Tacaruna sem salves
e os conformados conformistas,
na palma, o sabiá do Gonçalves.


Tudo está na santa paz!
As horas dadas na Malakoff,
nas docas, quem ouviu jamais
o Big Ben, mas esse roscofe.
Tudo está na santa paz! .
Nas clínicas, os lunáticos
que cantam a lua dos loucos,
afastando o mal dos práticos.


Tudo está na santa paz!
Os de centro, trás e frente,
só não, em qualquer posição,
meu coração consciente.


*Antonio de Campos é poeta e crítico literário




À esfinge que finge
Roberto Menezes*


Porque hoje é sábado
como disse um poeta
a tua ausência prenuncia
a minha noite de agonia ?
Ou porque
a noite de sábado
é a certa
para acertar
no pianista
que um dia tocou
o teu corpo
com o tom do Jobim ?
Tem nada não:
se vestida de negro
como  um luto
apareces de repente
o meu desejo silente
vai  te dizer
no pé do ouvido
que te olvido
para sempre.
Mas vou me trair
no acorde  dissonante
de um enigma final:
decifra-te
ou te devoro!  


*Roberto Menezes é Jornalista



Desmunde
Ivan Marinho*


Como é tolo acreditar nas palavras!
Como é tolo acreditar!
A vida é beijo, é esquiva,
Depois do almoço, o jantar.


Quem reza o terço da vida
Não conta a mesma conta,
E se o faz é cativa
Do mundo, seqüência pronta.


Trinca de ás, sonho besta,
Quando o garçom traz a nota
Da conta


*Ivan Marinho é poeta e membro da Academia Cabense de Letras





Voz por toda parte
Natanael Lima Jr*


um acordo fiz contra o acordo:
sangrar de vez a voz,
ser grito e lábios eternamente


um acordo fiz contra o acordo:
ser palavras qual extensão da vida
e ser mãos, olhos e alma


um acordo fiz contra o acordo:
jamais limitar os sonhos
e viver até desflorescer



um acordo fiz contra o acordo:
jamais ressuscitar a dor,
ser amor presente
e voz por toda parte


janeiro/2010

(do livro “À espera do último girassol & outros poemas)

*Natanael Lima Jr é poeta, membro da Academia Cabense de Letras e editor do blog “Domingo com Poesia”




Exilado abril
Frederico Spencer*


Aberta
na janela a manhã:
flores, casas e bichos – desatados
sobre os trilhos vêm, na lágrima
pelo vento da partida desbotados:
longe fremindo
a paisagem que ficou
alheia se eterniza.


(do livro “Abril sitiado”)

*Frederico Spencer é poeta e sociólogo
A Poesia (viva) Pernambucana A Poesia (viva) Pernambucana Reviewed by Natanael Lima Jr on 23:23 Rating: 5

Um comentário

  1. Não conhecia os versos do Menezes, o resto me deixou me sentindo em casa. Bem legal esse espaço, Natanael!

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