A poesia nossa de cada domingo
Natanael Lima Jr
Existirmos
Existirmos
Acabo de traduzir o acaso,
existirmos o que se destina a ser.
O acaso me serve
no gozo de sê-lo
tão infinito, eterno.
Minha crença, o universo
qualquer outra não me acrescenta
exceto a voz
e a palavra que nomeia.
Existirmos,
o que se destina a ser?
Maurício de Macedo (RJ)
Girassol*
Raiz e seiva num sítio qualquer.
Flor bêbada de luz,
rodando, rodando...
Ah,deixai arrancar-se do caule
a flor
que já bastaram raiz e seiva,
que já não bastam mais.
Deixai que seja a flor
o nome que lhe cabe.
Deixai que seja nome.
Ah, libertai do chão a palavra.
(Não percebeis
que está enamorada
de estrelas?!)
Deixai que possa voar,
louca, despetalada,
ainda que, feito mariposa cósmica,
se consuma,
girando, girando,
em torno da luz.
*Poema extraído de Macedo,Maurício de."Palavras Tortas".Rio de Janeiro,ed.7Letras,2009.
Eli Mota
Deusa negra*
Quem é esta deusa negra, faceira, a desfilar,
Atraindo os olhares que buscam perfeição,
Fazendo pulsar impetuoso, o meu coração
Que se rende a leveza do seu caminhar?
Quem é esta mitológica mulher que ao passar
Deixa o suave encanto e a personificação
De Afrodite com o misticismo da canção
Doce, inimitável balanço da onda do mar?
Quem é esta mulher com jeito de menina,
Que traz na pele o encanto da melanina,
Sobre seu corpo, esculpido suavemente?
Esta mulher que vos falo nesta canção,
É mui cortejada por um pobre coração
Que a ela se curva reverentemente.
*20/04/2010, madrugada.
Vertigem
Devagar me envolvo num vento leve
De leve sou varrido a um vão sem volta
Na vaguidão de um vacilo
Viajo como um violento vício
Num vôo vasto de um vampiro
Vestido com um véu de viúva
Que se vê numa vitrine viva
Que se esvai como um vulto
Que se vira como vírus
E de vez me vejo vencido
Em espelho ou vasos de vidro
Sem ver nem ouvir a verdade
Sem viver de vez a vida
A poesia nossa de cada domingo
Reviewed by Natanael Lima Jr
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17:26
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Ótimas escolhas, amigo! Obrigado!
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