LUÍS MURAT
(Itajaí /RJ, 04/05/1861 - Rio de Janeiro/RJ,
03/07/1929)
Poeta,
político e jornalista. Sua produção oscilou entre o Parnasianismo e o Simbolismo. Foi fundador da Academia
Brasileira de Letras. Publicou seu primeiro livro de poesia, “Quatro Poemas” em 1885. Fundou o jornal Vida
Moderna (1886/1887) em parceria com Artur de Azevedo. Aos vinte e nove anos de
idade foi eleito Deputado Federal pelo estado do Rio de Janeiro. Participou da
Assembleia Constituinte, que formulou a nova Constituição do país, mas se
recusou a assinar o documento final, por considerar que a Constituição
Brasileira era mero plágio da constituição americana. Era um poeta culto e
investigador, e produziu uma poesia sem parecer preocupado em filiar-se a uma
escola.
Principais
Obras: Quatro poemas (1875); A última
noite de Tiradentes (1890); Ondas, primeira série (1890); Poesias (1892);
Ondas, segunda série (1895); Sarah (1902); Ondas, terceira série (1910);
Poesias escolhidas (1917); Rirmos e ideias (1920).
Penas perdidas*
Perguntas porque meus versos
Choram, em vez de sorrir...
É que eles são universos
Que estão quase a se extinguir.
Choram, em vez de sorrir...
É que eles são universos
Que estão quase a se extinguir.
Tristes deles, minha filha,
Tristes deles, minha irmã,
Raro é aquele que brilha,
Quando desponta a manhã.
Tristes deles, minha irmã,
Raro é aquele que brilha,
Quando desponta a manhã.
São pequeninos fragmentos,
Pedaços da minha cruz,
Errando ao sabor dos ventos,
Como planetas sem luz.
Pedaços da minha cruz,
Errando ao sabor dos ventos,
Como planetas sem luz.
As lágrimas que vieram
Umedecer este chão,
Num coração estiveram
Que já foi meu coração.
Umedecer este chão,
Num coração estiveram
Que já foi meu coração.
Pobre estrela desgarrada
Foi essa estrela de amor,
Hoje de todo apagada
No seu fumeiro de dor.
Foi essa estrela de amor,
Hoje de todo apagada
No seu fumeiro de dor.
Irrompa, embora, no Oriente,
Qualquer aurora, qualquer,
Quem tem o Ocaso, somente,
Não vê a aurora nascer.
Qualquer aurora, qualquer,
Quem tem o Ocaso, somente,
Não vê a aurora nascer.
Houve uma dama formosa
Que meu coração colheu,
Como se colhe uma rosa
Mal o dia amanheceu.
Que meu coração colheu,
Como se colhe uma rosa
Mal o dia amanheceu.
Que quadra feliz foi essa!
Que meninice ideal!
O sonho que assim começa,
Quase sempre acaba mal!...
Que meninice ideal!
O sonho que assim começa,
Quase sempre acaba mal!...
Um dia, a dama querida
Para outro país partiu...
Não cicatriza a ferida
Que uma ingratidão abriu.
Para outro país partiu...
Não cicatriza a ferida
Que uma ingratidão abriu.
Ela sumiu-se entre os astros,
Sem que a pudesse alcançar...
Quem é que, andando de rastros,
Pode um pássaro apanhar?
Sem que a pudesse alcançar...
Quem é que, andando de rastros,
Pode um pássaro apanhar?
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O que hoje faço, portanto,
É fazer o que não fiz:
Enxugar, a furto, o pranto,
E fingir que sou feliz.
É fazer o que não fiz:
Enxugar, a furto, o pranto,
E fingir que sou feliz.
*Poesias
escolhidas, 1917
LUÍS MURAT
Reviewed by Natanael Lima Jr
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09:51
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