O REINO DE DEUS ESTÁ EM VÓS, DE LIEV TOLSTÓI

Por Natanael Lima Jr.*

“Escrever tornou-se para mim uma necessidade

diante de Deus.”

Trecho do diário de Liev Tolstói, em 28/10/1895

“A leitura de O reino de Deus está em vós me curou

do ceticismo e fez de mim um firme seguidor da

não violência.”

Mahatma Gandhi

Edições BestBolso, Rio de Janeiro, 2011.

Quando estudamos e/ou citamos o notável escritor russo Liev Tolstói, remete-nos as obras que o consagraram mundialmente: “Guerra e Paz” (1869); “Anna Karenina” (1877); “A morte de Ivan Ilitch” (1886); “A sonata a Kreutzer” (1889); “Ressurreição” (1899), entre outras. Mas há uma totalmente esquecida pelo grande público, publicada por Tolstói em 1894, “O reino de Deus está em vós”.

A obra gerou tanta polêmica que chegou a ser vetada pelo czar, e seu autor excomungado pela Igreja Ortodoxa Russa. O livro desapareceu por quase cem anos. Por iniciativa da sua neta Tania Tolstói empenhou-se de republicá-lo em 1988 na Europa, e fez questão de incluir a seguinte mensagem: “Espero que muitos o leiam e que esta leitura os ajude a viver nessa época tão atormentada.”

Liev Tolstói (1828-1910)

Tolstói defende neste livro a ideia de que o cristianismo não é uma doutrina abstrata, mas uma proposta prática para a nossa vida. Outro aspecto marcante é o princípio da não violência ante a outro ato de violência, como ensinado por Jesus Cristo. Tolstói afirma que a frase proferida por Cristo “Oferece a outra face” significava abolir completamente a violência, até para se defender, e desistir de vingar-se.

“Como poderei matar

homens, quando a lei de

de Deus diz: ‘Não matarás’?”

Consta também neste livro alguns trechos de revistas e jornais relativos a experiências pessoais do autor, sua percepção aguçada sobre a gênese da não violência a partir da própria base do Cristianismo, relatado por uma minoria de seguidores. Pessoalmente, ele confronta aqueles que procuram manter status quo:

“Se te é ainda dito que tudo isto é necessário para a manutenção

da ordem, e que esta ordem, com a penúria, com os

espancamentos, com as prisões, com os patíbulos
com as guerras, é necessária à sociedade; que, se esta ordem desaparecesse, haveria desventuras maiores, isto te é dito por aqueles que se beneficiam com esta ordem, enquanto todos aqueles que devido a ela sofrem – e são dez vezes mais numerosos – pensam e dizem o contrário.”