MARCAS NAS MÃOS SEM LUVA*
por Vernaide
Wanderley*
Geometria
das pedras, poemas reunidos,
de
Vernaide Wanderley / Capa: Reprodução
Quis o amor com seus mistérios na
improvisação de um tempo de sol que trazia escondido da infância. Quis o sabor
fugaz da paixão, rosto banhado pela incandescência de manhãs vividas ou
antevistas em cartões. Quis o amor de estações definidas, os amados perderam o
gosto de vestir-se, a capacidade de se aconchegar nas sombras ou se despir à
luz do dia. A poética do espaço vivido restou desfigurada, murcha, inútil.
Por herança ou destino, carregou
ansiedade e medo antecipado de perdas. Suportou o fardo do querer muito...
querer demais - como se cada amor fosse o último toque de noite ou final de rua
quando se dobra com pressa. Nunca tivera a calma e sensatez para impedir a
fúria do amor e seu acordar em trevas.
Foram muitas as quedas antes de
tropeçar. Assumiu a pressa dos afobados que encurtam a vida usando becos e
ruelas. Com maestria e contradição, soube permanecer no semicírculo dos amores
e lançar fertilizantes para seu Cantar.
Surgem possibilidades de permanência,
mas o tempo já não é mais seu aliado - a estrada a ser percorrida é menor que a
desbravada. Corpo e memória já insinuam desgastes de incêndio, estiagem
ventania e o desamor. Resta-lhe a integridade da alma, lugar universal de
sonhos de homens e mulheres.
Não
deixava as roseiras florir
botões
foram extraídos
sem
perfume e sem sabor
de
estrume e águas de chuva.
Nas
suas mãos restaram tatuagens
imitando
ramalhetes de espinho,
mangas-espadas
sendo colhidas
com
sabor amargo e travoso.
Talvez
por descaso ou não saber
que
frutos da terra e todos os amores
ficarão
estéreis sem nunca desabrochar
secos
e natimortos, enquanto tempos de sol
e
de adubo forem meras improvisações.
*In Geometria das pedras, 2019
Contatos
e pedidos através do email: vernawander30@gmail.com
*Vernaide
Wanderley é
poeta, escritora e pesquisadora social.
MARCAS NAS MÃOS SEM LUVA*
Reviewed by Natanael Lima Jr
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