MOVIMENTO DE CULTURA POPULAR (1960–1964): A POSSIBILIDADE DE UM MUNDO MELHOR (CRÔNICA DE SALETE RÊGO BARROS)
Salete Rêgo Barros
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Divulgação
Finda a Segunda Guerra Mundial
(1939-1945), o sentimento libertário toma conta da juventude, que começa a se
organizar em associações, diretórios acadêmicos, movimentos ligados às igrejas
e partidos políticos, entre outros.
Entusiasmados com o movimento francês
“Peuple et Culture”, o casal Norma e Germano Coelho retorna a Pernambuco, após
alguns anos de permanência na Europa, com a meta de elevar o nível cultural do
povo, preparando-o para a vida e para o trabalho. O projeto envolve a parceria
do poder público e da iniciativa privada, sendo acatado, de imediato, pelo então
prefeito do Recife, Miguel Arraes de Alencar.
Em 1960, a sede do MCP foi instalada no
Arraial do Bom Jesus, em Casa Amarela, e inaugurada no dia 13 de maio, em
homenagem ao dia da abolição da escravatura.
A instituição tinha entre suas
finalidades: promover e incentivar a educação de crianças e adultos;
proporcionar a elevação do nível cultural do povo; formar quadros destinados a
interpretar, sistematizar e transmitir os múltiplos aspectos da cultura
popular.
Aderiram ao movimento líderes
operários, artistas, intelectuais e jovens estudantes comprometidos com a
erradicação da miséria do povo do Recife, centrados nos anseios populares,
ressaltando os valores regionais, ministrando o ensino da língua e da
gramática, instrumento de cultura para a emancipação de um povo.
A paixão pelo saber foi mobilizada
através do folclore nordestino, das artes plásticas e do artesanato, teatro,
música, dança, literatura, ciência, pesquisa e esportes. Essas atividades já
estavam consolidadas ao final de 1962, através de 20.000 alunos distribuídos
entre 201 escolas isoladas e grupos escolares; uma rede de escolas radiofônicas
com 30.000 adultos se
alfabetizando, um centro de artes
plásticas e artesanato, 452 professores e 174 monitores do ensino fundamental,
supletivo e educação artística, praças de cultura com bibliotecas, cinema, teatro,
música, tele-clube, orientação pedagógica, recreação e educação física. Inaugurou
o plano editorial do MCP, a coleção Meninos do Recife, de Abelardo da Hora.
Faziam parte do movimento, intelectuais
e artistas do quilate de Francisco Brennand, Ariano Suassuna, Hermilo Borba
Filho, Abelardo da Hora, José Cláudio e o educador Paulo Freire, cujo legado ao
MCP se traduz através da Lei 12.612 de 13 de abril de 2012, sancionada pela
presidente Dilma Rousself, que lhe confere o título de Patrono da Educação
Brasileira.
O movimento alcançou repercussão
nacional e serviu de modelo para outros estados do Brasil. No entanto, em 31 de
março de 1964, a sede do MCP foi invadida pelos que temiam um país
alfabetizado, consciente de sua cidadania. Sobre o gramado do jardim, dois
tanques de guerra apontavam seus canhões para as duas entradas do sítio. Todas
as escolas foram fechadas e todas as cartilhas foram queimadas. Os integrantes
e simpatizantes do movimento são estigmatizados até os dias atuais. E a
possibilidade de um mundo melhor, mais uma vez, adiada.
MOVIMENTO DE CULTURA POPULAR (1960–1964): A POSSIBILIDADE DE UM MUNDO MELHOR (CRÔNICA DE SALETE RÊGO BARROS)
Reviewed by Natanael Lima Jr
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