POEMAS DO DOMINGO
A poesia de Isaac
Luna*
Isaac Luna é
poeta, acadêmico da ALJG e professor
da Faculdade dos
Guararapes
O TROMBADINHA
A tarde que
cai enfadonha
Anuncia outra
noite gelada
O vento seco
do outono
Derruba as
folhas na calçada
Que mora
aquele menino
E dorme na
madrugada
O jornal que
traz a notÃcia
Das verbas pra
educação
E do
fechamento de mais uma escola
Essa noite
será o colchão
Daquele
importuno menino
Que sonha
chorando ou sorrindo
Com dias
melhores que virão
O sinal já
está fechado
E lá está o
menino
Indo,
voltando, pedindo
- uma esmola
senhora...
O que mais faz
o menino?
O que mais
sabe fazer?
Com um pouco
de atenção
Talvez aprenda
a vender
Fetiches,
drop’s e balas
E assim
sobreviver
Mas os vidros
continuam fechados
Afinal,
meninos de rua são perigosos...
Vai acabando
mais um dia
E o menino não
vendeu nada
Vai lembrando
a dureza
De outra longa
madrugada
Assim retorna
a calçada
Pensando no
que fazer
Pra que talvez
amanhã
Consiga o que
comer
E ao chegar em
seu leito
Sua cama de
jornal
Adormece sobre
a manchete
Do anseio
nacional:
“Chega de
compaixão
É hora da
redução
Da maioridade
penal!”.
PÓS-MODERNIDADE
Não sei se sou
quem eu sou
Não sei se eu
sou ou não
Não sei se sou
a lógica
Ou a pura
emoção
Não sei se eu
sou feliz
Não sei se eu
sou tristonho
Não sei se sou
de verdade
Ou
simplesmente um sonho
Nem mesmo sei
de onde sou
Se daqui desse
lugar
Se eu sou filho da terra
Do fogo, da
água ou do ar
Talvez seja
tudo o que digo
Talvez também
seja nada
Talvez seja a
sombra do dia
Talvez a da
madrugada
Quem sabe seja
tudo isso
Quem sabe nada
eu seja
Quem sebe
apenas eu sou
Quem o mundo
deseja
Também posso
ser por ventura
Apenas mais um
normal
Que vê futebol
na tv
E gosta de
carnaval
Porém talvez
possa estar
Na tal
anormalidade
Que enxerga o
mundo as avessas
Em busca de
outra verdade
Acho que já
descobri
O que
realmente eu sou
Apenas mais
insano
Inquieto e
sonhador.
UM LUGAR CHAMADO CULTURA
Perguntar não
ofende
Está escrito
na moldura
Principalmente
se a pergunta
É dirigida com
candura
Então responda
sem mas:
O que é que de
fato se faz
Lá pra's
bandas da cultura?
Essa pergunta
sincera
Feita de
supetão
A um vivente
da cultura
Que a leva no
coração
Pode ser
respondida
De forma
desinibida
Com uma feliz
gratidão
Gratidão pela
bela música
Que anima o
nosso dia
Tocando o
fundo da alma
Com a sua
melodia
Provocando a
reflexão
Chamando a
nossa atenção
Com a mensagem
que anuncia
O fascÃnio que
nos toca
Com a
coreografia
Do espetáculo
de dança
Envolto em
pura magia
Do passo da
bailarina
Ou do sorriso
da menina
Que requebra
com alegria
É o frio que
dá na barriga
E acende o
fogo da paixão
Quando no
escuro do cinema
A mão encosta
a outra mão
Da pessoa
desejada
Quem sabe até
da amada
No enredo da
sessão
O exame sobre
si mesmo
Que o
inconsciente constrói
Na
dramatização da obra
De Dostoyevsky
ou Tolstoi
Na peça de
Ariano
Que atinge o
ser humano
Anima,
angustia e dói
O prazer
visual que temos
Ao ver a
arquitetura
Do prédio que
foi construÃdo
No tempo da
escravatura
Uma parte da
nossa história
Preservando na
memória
PerÃodos de
amargura
Ainda o
impacto da pintura
Da imagem
sobre a tela
Que a sutileza
do artista
Procura a
forma mais bela
O traço, a
sombra, a cor
Retratando o
esplendor
Da
sensibilidade singela
Festa, evento,
espetáculo
Explosão de
alegria
Réveillon e
carnaval
Disciplina e
anarquia
Iemanjá e São
João
O desfile e a
procissão
Essências
dessa alquimia
O boneco
forjado a barro
Retratando o
cangaceiro
A estátua
feita no gesso
Do padre do
Juazeiro
A mais sublime
escultura
Talhada na
pedra dura
Com precisão e
esmero
Poemas que são
escritos
Por menestréis
letrados
Ou por
sertanejos sofridos
Em seus
cordéis retratados
O verso do
trovador
Do apaixonado
sofredor
E dos poetas
não publicados
O baião na
panela de barro
A tapioca e o
mungunzá
Que é
doce em Pernambuco
E salgado no
Ceará
Café pilado no
pilão
Buchada
costurada a mão
É a culinária
a nos encantar
O folclore que
está na base
Da cultura
popular
Saci-Pererê e
Boto
Mil estórias
pra contar
Cumade
Fulozinha e sua brabeza
E a Mula sem
cabeça
Curupira e
Boitatá
Os cortejos
populares
Como o
maracatu rural
A dor do
caboclo de lança
Cortando o
canavial
O boi e o
Caboclinho
Uma pedra no
caminho
E o pastoril
no natal
A história da
humanidade
Contada na
literatura
A herança da
tradição
Para a geração
futura
Eis aqui
alguns exemplos
Do que se tem
feito nos tempos
La pra's
bandas da cultura...
A cultura é o
espelho
Que reflete a
identidade
Dos grupos
mais diversos
Que povoam a
humanidade
É o sagrado e
o profano
A certeza e o
engano
É a dura
realidade
É o sonho de
felicidade
As asas da
imaginação
A esperteza de
João Grilo
E a força de
Sansão
É tudo que se
imagina
É a certeza
cristalina
Dos mistérios
da criação
É a dimensão
simbólica
O orgulho de
ser o que é
O coração do
guerreiro
E a alma da
mulher
A epopeia da
verdade
Um sopro de
liberdade
É tudo que se
quiser!
Voltando então
ao começo
Da questão que
foi suscitada
O que se faz
na cultura?
Muita coisa?
Quase nada?
A resposta vai
depender
Do coração de
quem ler
A resposta
apresentada.
*Isaac de Luna Ribeiro é poeta, advogado, professor
universitário e membro fundador da Academia de Letras do Jaboatão dos
Guararapes. Nasceu na cidade de Barbalha, região do Cariri cearense, no sopé da
Chapada do Araripe, onde durante toda a infância conviveu com repentistas,
violeiros e poetas populares. Em terras pernambucanas há mais de duas décadas,
tornou-se bacharel em Direito, especialista em Ciências PolÃticas e mestre em
Sociologia do Direito. Foi presidente da Comissão Especial de Prevenção e
Combate à Corrupção da OAB/PE e atualmente exerce o cargo de secretário
executivo de Cultura e Patrimônio Histórico do Jaboatão dos Guararapes (PE). No
campo literário apresenta trabalhos que navegam entre a produção e publicação
de textos acadêmicos e poéticos, sempre marcados pela transversalidade dos
conteúdos que envolvem os temas centrais da sua formação, quais sejam: direito,
cultura e democracia. Nessa esteira são exemplos da sua produção, dentre
outros, a coautoria nos Livros Direito e Literatura (Editora
Juruá) e Norberto Bobbio: Democracia, Direitos Humanos e Relações
Internacionais (Editora da UFPB), além de folhetos de
literatura de cordel publicados em escala regional e nacional, como os
livretos Bullying Escolar: A peleja da covardia com a senhora
educação e A Justiça em Cordel. É filho de Antonio
Joaquim Ribeiro e Antonina de Luna Ribeiro, casado com Wellida Valois Alves e
pai dos pequenos Artur e MarÃlia bem como do Eduardo, que chega em julho a esse
mundo.
POEMAS DO DOMINGO
Reviewed by Natanael Lima Jr
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