O POETA DO AZUL
por Frederico
Spencer*
Carlos Pena
Filho, o poeta do azul
Img: reprodução
O DCP celebra neste domingo (17) a
data de aniversário de um dos poetas mais importantes de Pernambuco, que se
vivo fosse completaria 86 anos de idade, Carlos Pena Filho, o poeta do azul.
Sua poesia é considerada pela crÃtica como uma das mais importantes depois de
João Cabral de Melo Neto.
Carlos Pena Filho militou intensamente
na polÃtica universitária e também atuou em campanha eleitoral, sempre atento
aos problemas da cidade do Recife, como também do estado. Além de poeta foi
também compositor, fez parceria com Capiba e foi também autor de letras de
músicas como “A mesma rosa amarela”, gravada inicialmente por Maysa, e depois
por outros artistas como Vanja Orico, Tito Madi e Nelson Gonçalves.
Dono de uma poética carregada de
musicalidade e de um lirismo profundo, suas poesias trazem um forte apelo ao
visual e ao plástico. Escrevia como se estivesse pintando um quadro. Seus
versos redesenham as palavras, impregnadas de cores e luzes. Foi premiado pela
Secretaria de Educação e Cultura de Pernambuco, com o livro “A Vertigem Lúcida”
em 1958 e com o “Livro Geral” no ano de 1959 recebeu o Prêmio de Poesia do
Instituto Nacional do Livro.
*Frederico
Spencer é
poeta, editor e produtor cultural
Dois poemas de
Carlos Pena Filho
SONETO DO
DESMANTELO AZUL
Então,
pintei de azul os meus sapatos
por
não poder de azul pintar as ruas,
depois,
vesti meus gestos insensatos
e
colori as minhas mãos e as tuas,
Para
extinguir em nós o azul ausente
e
aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim,
nós derramamos simplesmente
azul
sobre os vestidos e as gravatas.
E
afogados em nós, nem nos lembrarmos
que
no excesso que havia em nosso espaço
pudesse
haver de azul também cansaço.
E
perdidos de azul nos contemplamos
e
vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente
azul: Azul.
SONETO
O
quanto perco em luz conquisto em sombra.
E
é de recusa ao sol que me sustento.
Às
estrelas, prefiro o que se esconde
nos
crepúsculos graves dos conventos.
Humildemente
envolvo-me na sombra
que
veste, Ã noite, os cegos monumentos
isolados
nas praças esquecidas
e
vazios de luz e movimento.
Não
sei se entendes: em teus olhos nasce
a
noite côncava e profunda, enquanto
clara
manhã revive em tua face.
DaÃ
amar teus olhos mais que o corpo
com
esse escuro e amargo desespero
com
que haverei de amar depois de morto.
O POETA DO AZUL
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
09:42
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