CONTO DO DOMINGO
Visita Ãntima
(conto) de Abigail Souza
Abigail Souza
é da Academia
de Letras do
Cabo e Jaboatão
A fama do cara corria mundo. A habilidade para roubar galinhas começara
cedo. Após dez anos no duro e arriscado ofÃcio, recebia encomendas - as mais
variadas: roubava galinhas gordas, pintos e galos de briga famosos. Pedia
resgates caros. O vÃcio não o deixava em paz desde o primeiro furto, aos
dezesseis anos. Nunca mais comprou frango em açougues, nunca mesmo!
Naquele dia fatÃdico, data
do seu aniversário, foi preso em flagrante. Desceu para o Complexo Prisional do
Curado, após ter experimentado uma diária no Cotel.
Um, dois, três, quatro dias
sem falar com ninguém. Aos poucos, ouvia daqui e dali uma conversa. Falavam
sobre uma mulher – uma tal de “Tereza”. Alguém que contemplaria a todos os
solteiros!
A curiosidade lhe aguçou os
ouvidos. Não parava de pensar em “Tereza”. Será que é bela e devotada aos
prazeres carnais? Uma fêmea avassaladora? Ou será que é feia e sem atrativos
para aplacar um pouco a carência de tantos apenados, numa visita Ãntima?
Sexta-feira. Rosto
barbeado, cabelos cortados, banho tomado. O circo estava armado desde a
primeira vez que ouvira falar da benfeitora.
Casados de um lado, solteiros do outro, próximos ao portão principal.
Sentavam em bancos de cimento, numa fila quase indiana, aguardando a vez. Como
era o último, relaxou inteiro aguardando seu momento, num tempo que não
passava.
Lá dentro, lençóis pendurados dividiam a cela em quatro ambientes.
Casais se viravam nos trinta, nos vinte minutos a que tinham direito.
Zumbidos, sussurros, gemidos e urros - de tudo se ouvia - não havia tempo a
perder.
De repente, mãos finas e quentes enlaçaram seu tronco.
Numa busca louca encontra o seu troféu. Uma boca carnuda beija-lhe
sofregamente. Pernas se escancham sobre seu ventre. Era ela – maravilhosa,
terna, louca. “Tereza” estava ali – totalmente sua, nua e em pleno gozo...
Alguém toca seu ombro desajeitadamente. Era o guarda chamando a todos no
toque de recolher. Atônito ele olha ao redor: Cadê “Tereza”?
Seu companheiro de cela ri e explica finalmente: vamos pra cela, lá eu te
mostro. Por traz de um cartaz na parede, ele mostra a “Tereza” – uma corda
feita com lençóis usada pelos presos para descerem as muralhas do presÃdio.
CONTO DO DOMINGO
Reviewed by Natanael Lima Jr
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08:26
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