O CONTO DA SEMANA
Águas salgadas (conto) de Paulo Caldas
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O
caixão com o corpo de José Salgado a correnteza levou. Impiedosas, as águas
tragaram o barraco, resultado de tantas horas de labuta e economia forçada. Na
enchente se afogaram a pequena Michelliny Rayanny, os três mais novos e Sandra,
a segunda mulher, que o atormentava com as discussões que o mataram. Infarto
fulminante, conforme o médico do SAMU.
Não
resistira às provocações, levado ao extremo implodira a revolta íntima, fora
insultado em sua masculinidade, ouvira as verdades que não admitia. Ela, voz
estridente, alta, o ar de rebeldia fincado no sorriso debochado, boca torta,
beiço dobrado, nariz pra cima, olhar de desprezo. E a insolente pose: mãos nos
quadris e um pé tocando o chão, dando compasso às palavras.
Em
cada frase uma facada na suposta virilidade do marido. Sem falar dos atributos
físicos dos atores da novela, habitualmente comparados com os dele. Enfurecido,
desesperado pelo ciúme, sentiu explodir as coronárias entupidas pela gordura do
pirão com osso buco, cardápio permanente no almoço dos sábados.
O CONTO DA SEMANA
Reviewed by Natanael Lima Jr
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08:00
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