Poemas da Semana
Poemas de
Tereza Soares, Flávia Suassuna, Jade Dantas, Ducabellaflor, Cida Pedrosa e
Márcia Maracajá
POESIA FÉRREA
Tereza
Soares*
Bonitos
brincos de feira
Tiritam
e enfeitam a senhora
Sentada
de costas p’ro mundo
Passando
na estrada de ferro...
Meninos,
camisas abertas
Carregam
Jesus no pescoço
A
prata falsa em seu peito
Reluz
que nem o luar
O
negro de olhar tão profundo
Ensaia
o dia que vem
Está,
sem saber, na labuta
Nas
curvas da estrada de ferro
Passa
assustado ambulante
Com
medo do braço do guarda
Mas,
o esforço só vale
Se
for pela mulher amada
Criança
se arrasta aleijada
Já
acostumada com aquilo
Mãos
pretas, do chão levantadas
Pedindo:
“me dê um auxílio!”
E
os filhos do sol estão lá
Valentes
meninos de rua
Aprendem
e brincam de herói
Nos
trilhos da estrada de ferro
Essas
cenas se repetem
Esbanjando
poesia
Não
fosse a miséria e a fome
Estampadas
em rostos sofridos
E
a pressa de quem espera logo
Chegar
em algum destino
Sentiria
eu mais longo
Esse
caminho diário
Essa
poesia latina
Dos
trens, da estrada de ferro...
*Tereza
Soares é poeta, jornalista e da Academia Cabense de Letras
OUTRA ONTOLOGIA
Flávia
Suassuna
O
que me dói
não
é a falta
de
ninguém.
Minha
vida
sempre
doeu
antes
de ser
ferida
por
essa solidão.
O
que me dói
nem
sei direito
o
que é.
Talvez
o que doa
em
todos
exatamente:
é
o que falta
naquele
íntimo
recinto
que fala
o
que sou
sem
articular
sequer
uma
palavra.
DO QUE NÃO SABERÁS
Jade
Dantas
tu
nunca saberás
dos
horizontes
da
inteireza da espera
da
saudade
não
saberás das pontes
que
baixei
para
a tua voz de mel
e
ardências. da entrega
do
horizonte esfacelado
da
tristeza disfarçada
da
trajetória sem rumo
não
saberás da poesia
CORES
Ducabellaflor
Que
as cores incolores
Devastem
minhas dores
Causadas
pelos rios de estrumes
Dos
costumes do amor, adubes
Invade
o que em mim é correnteza
E
lambe-me os quadros instáveis
De
rostos a sorrirem sem certezas
Pela
ausência de cores memoráveis
Que
rebelam a nossa feroz natureza
Pintai
minhas habitações, imploro
Como
pintou Frida Kahlo, os quadros
No
México do surrealismo, notório
Retratando
seus mundos acrômicos, abstratos
Guiados
pela algofilia doença, impróprio
Que
tudo seja arte, escarlate
De
nuances de cinza a preto
Que
nada seja poesia ou parte
De
uma melodia em tons; soneto
URBE
Cida
Pedrosa
Hoje
na minha boca
Não
cabem girassóis
Cabe
um poemapodre
Cheiro
de mangue capibaribe
Um
poemaponte
Galeria
esgoto chuvas de abril
Um
poemacidade
Fumaça
ferrugem fuligem
Hoje
na minha boca
Cabe
apenas o poema
O
poema hóspede da agonia
TORMENTA
Márcia
Maracajá
No
sonho estou
De
quem me deseja
Mas no sonho de quem me beija
Não
posso entrar
Minha
noite é solitária
Fria
e vexatória
De
juventude que se perde
Ilusória,
para breve me deixar
E
o amor não vem inteiro
Em
pedaços se apresenta
De
um jeito ele me tenta
De
outro quer me libertar
Contudo
os dois já me condenam
E
assisto a tudo em tormenta
Eu,
um nada, mui pequena
Distante
de quem quero estar.
Poemas da Semana
Reviewed by Natanael Lima Jr
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