A Face Poética de Ariano Suassuna
Ariano
Suassuna/Foto:Divulgação
O DCP revela nesta edição comemorativa a face poética de Ariano
Suassuna. Romancista, poeta, dramaturgo e ficcionista. Ariano foi um poeta virtuoso,
de uma sensibilidade ímpar e comovente. De seu reino, partiram raridades
líricas, repletas de encanto, de grandeza onírica de suas perfeitas colocações
ao eterno, ao divino e à espera da sorte sobre o destino humano. A sua poesia é
incomum, visceral, distante de qualquer paralelo poético entre nós. Além das
obras já consagradas, Ariano publicou pela Editora Universitária da UFPE, em
1999, o livro ‘Poemas’, com seleção e
notas de Carlos Newton Júnior.
Conheça mais sobre a vida e a obra do mestre Ariano Suassuna acessando: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=305
Natanael Lima Jr e Frederico Spencer
editores
QUATRO POEMAS DE ARIANO SUASSUNA
A INFÂNCIA
(Com mote de Maximiano Campos)
Sem lei nem Rei, me vi arremessado
bem menino a um Planalto pedregoso.
Cambaleando, cego, ao Sol do Acaso,
vi o mundo rugir. Tigre maldoso.
O cantar do Sertão, Rifle apontado,
vinha malhar seu Corpo furioso.
Era o Canto demente, sufocado,
rugido nos Caminhos sem repouso.
E veio o Sonho: e foi despedaçado!
E veio o Sangue: o marco iluminado,
a luta extraviada e a minha grei!
Tudo apontava o Sol! Fiquei embaixo,
na Cadeia que estive e em que me acho,
a Sonhar e a cantar, sem lei nem Rei!
A ACAUHAN – A
MALHADA ONÇA
(Com mote de Janice Japiassu)
Aqui morava um Rei quando eu menino:
vestia ouro e Castanho no gibão.
Pedra da sorte o meu Destino
pulsava, junto ao meu, seu Coração.
Para mim, seu Cantar era divino,
quando, ao som da Viola e do bordão,
cantava, com voz rouca, o Desatino,
o sangue, o riso e as mortes do Sertão.
Mas mataram meu Pai. Desde esse dia
eu me vi como um Cego sem meu guia
que se foi para o Sol, transfigurado.
Sua Efígie me queima. Eu sou a Presa,
Ele a Brasa que impele ao fogo, acesa,
Espada de ouro em Pasto ensanguentado.
A MOÇA CAETANA A MORTE SERTANEJA
(Com mote de Deborah Brennand)
Eu vi a Morte, a moça Caetana,
com o Manto negro, rubro e amarelo.
Vi o inocente olhar, puro e perverso,
e os dentes de Coral da desumana.
Eu vi o Estrago, o bote, o ardor cruel,
os peitos fascinantes e esquisitos.
Na mão direita, a Cobra cascavel,
e na esquerda a Coral, rubi maldito.
Na fronte, uma coroa e o Gavião.
Nas espáduas, as Asas deslumbrantes
que, rufiando nas pedras do Sertão,
pairavam sobre Urtigas causticantes,
caules de prata, espinhos estrelados
e os cachos do meu Sangue iluminado.
com o Manto negro, rubro e amarelo.
Vi o inocente olhar, puro e perverso,
e os dentes de Coral da desumana.
Eu vi o Estrago, o bote, o ardor cruel,
os peitos fascinantes e esquisitos.
Na mão direita, a Cobra cascavel,
e na esquerda a Coral, rubi maldito.
Na fronte, uma coroa e o Gavião.
Nas espáduas, as Asas deslumbrantes
que, rufiando nas pedras do Sertão,
pairavam sobre Urtigas causticantes,
caules de prata, espinhos estrelados
e os cachos do meu Sangue iluminado.
LÁPIDE
(Com mote de Virgílio, o Latino,
e de Lino Pedra-Azul, o Sertanejo)
e de Lino Pedra-Azul, o Sertanejo)
Quando eu morrer, não soltem meu Cavalo
nas pedras do meu Pasto incendiado:
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.
Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.
Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido
que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!
fustiguem-lhe seu Dorso alardeado,
com a Espora de ouro, até matá-lo.
Um dos meus filhos deve cavalgá-lo
numa Sela de couro esverdeado,
que arraste pelo Chão pedroso e pardo
chapas de Cobre, sinos e badalos.
Assim, com o Raio e o cobre percutido,
tropel de cascos, sangue do Castanho,
talvez se finja o som de Ouro fundido
que, em vão – Sangue insensato e vagabundo —
tentei forjar, no meu Cantar estranho,
à tez da minha Fera e ao Sol do Mundo!
A Face Poética de Ariano Suassuna
Reviewed by Natanael Lima Jr
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