Poemas da Semana
O
DCP traz a partir desta edição o melhor da poesia brasileira, poetas que
marcaram épocas e gerações. Uma mostra dos mais importantes poetas brasileiros
(encantados). Tudo isso semanalmente aqui no DCP. Mas, sem esquecermos os
contemporâneos, os novos e os novÃssimos poetas da atual cena literária
brasileira e pernambucana.
Os editores
Poemas
de Ascenso Ferreira, Mário Quintana, Austro Costa, Carlos Pena Filho, Lula Côrtes
Misticismo
Ascenso
Ferreira
Ascenso Ferreira/Foto:
Reprodução
(Palmares/PE, 09/05/1895 –
Recife, 05/05/1965)
Na paisagem da rua calma,
tu vinhas vindo… vinhas vindo…,
e teu vestido era tão lindo
que parecia que tu vinhas envolvida na tu’alma…
Alma encantada;
ama lavada
e como que posta ao sol para corar…
E que mãos misteriosas terão feito o teu vestido,
que até parece o de Maria Borralheira,
quando foi se casar…!
─ Certamente foi tecido
pelas mãos de uma estrela fiandeira,
com fios de luz, no tear do luar…
no tear do luar…
O teu vestido era tão que parece o de Maria Borralheira
quando foi se casar…
─ “Cor do mar com todos os peixinhos…!
─ Cor do céu com todas as estrelas…!
E vinhas vindo… vinhas vindo…
na paisagem da rua calma,
e o teu vestido era tão lindo
que parece que tu vinhas envolvida na tu’alma…
Nota: (Catimbó, em POEMAS, org. de Souza Barros, Edição e Impressão de
I. Nery da Fonseca & Cia. Ltda. 1931, Recife.).
O poema
Mário Quintana
Mário Quintana/Foto:
Reprodução
(Alegrete/RS, 30/07/1906 –
Porto Alegre, 05/05/1994)
Um
poema como um gole d’água bebido no escuro.
Como
um pobre animal palpitando ferido.
Como
pequenina moeda de prata perdida
para sempre
na floresta noturna.
Um
poema sem outra angústia que a sua misteriosa
condição de poema.
Triste.
Solitário.
Único.
Ferido
de mortal beleza.
Nota: Transcrito de Melhores poemas de Mário Quintana, p. 20
O canto do cisne
Austro Costa
Austro Costa/Foto:
Reprodução
(Limoeiro/PE, 06/05/1899 – Recife,
29/10/1953)
Mil
amores cantei. Fáceis amores...
Vagas
Quimeras... leves utupias...
Vãos
devaneios de que enchi meus dias
Nos
vinte anos azuis dos sonhadores...
Mil
amores cantei... mas, entre flores,
Beijos,
risos, promessas, fantasias,
Vi-os
bater as asas fugidias...
Não
me deixaram lágrimas, nem dores.
Este,
porém, que se aprimora em pranto
E
renúncia em minh’alma – estranho e santo
Amor,
a que não trazes teu socorro.
Este,
sim! vale o canto que te oferto.
Ouve-o,
e guarda-o! Ele é teu. Será, decerto,
O
meu canto de Cisne. Canto-o e morro!
Nota: Transcrito de Pernambuco, terra da poesia, 2010, p.
144
Soneto do
desmantelo azul
Carlos Pena
Filho
Carlos Pena Filho/Foto:
Reprodução
(Recife, 17/05/1929 – Recife,
01/07/1960)
Então,
pintei de azul os meus sapatos
por
não poder de azul pintar as ruas,
depois,
vesti meus gestos insensatos
e
colori as minhas mãos e as tuas.
Para
extinguir em nós o azul ausente
e
aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim,
nós derramamos simplesmente
azul
sobre os vestidos e as gravatas.
E
afogados em nós, nem nos lembramos
que
no excesso que havia em nosso espaço
pudesse
haver de azul também cansaço.
E
perdidos de azul nos contemplamos
e
vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente
azul. Azul.
Nota: Transcrito de Pernambuco, terra da poesia, 2010, p.
246
O ator
Lula Côrtes
Lula Côrtes/Foto: Adriano
Sobral
(Recife, 09/05/1949 –
Jaboatão/PE, 26/03/2011)
Contamina-se
assim o pobre homem
Que
ansiando a fama
Exala
um vÃrus forte nos versos que proclama
Enquanto
esbraveja solene ante a turba que o aclama
Ou
se une inocente à sua alma
Não
há mais calma
Se
espelha a epidemia
E
como um rio de forma caudalosa
Carrega
o coração de quem lhe ouvia
É
assim que apunhala a alegria, a sua prosa
Contendo
em si
Propositadamente
ou não
O
mal de toda guerra e o apogeu da glória
O
lÃquido extraÃdo das folhas da história
Numa
alquimia maligna de ilusão
SapientÃssima
essa alquimia
E
por si só oculta
Tão
perigosa que deveria ser secreta
E
ele segrega e baba
Com
febres e delÃrios enquanto versa
E
morre agonizando ao fim da peça
Candeias – Janeiro/2000
Nota: Transcrito de Amor em preto & branco, 2000
Poemas da Semana
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
10:20
Rating:

Maravilha! Domingo assim,
ResponderExcluirquem não quer?
Vestida de azul e lendo versos
Faço sim e digo a quem puder
Vem viver de poesia,
de riso de alegria, quem não quer... (LÃgia Beltrão)
Quem bom LÃgia, esse seu comentário só referenda nosso trabalho. Uma boa semana.
ExcluirValeu apena esperar por mais uma semana, sem palavras. Obrigado DCP!!
ResponderExcluir" pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas " Incrivel...