Poemas da Semana
Poemas de
Frederico Spencer, Natanael Lima Jr, Anderson Paes Barreto, Paulo Rocha e
Lenemar Santos
Em um verão
Frederico Spencer
à uma abelha entre flores
Img: Reprodução
Tua
voz soa
na
tarde entre sombras
de
coqueiros. A areia fina
em
tua pele castiga esta solidão
dos
verões que trazes
entre
os dentes
o
sabor de sal e brasa
em
meus ouvidos
um
zumbido de ais:
zangões
se entregam
ao
deleite na morte
anunciada,
dedica-se à sua amada
em
tardes de verão.
*Do livro inédito Código de Barras
Vadio
Natanael Lima Jr
Img: Reprodução
Um
poema cruzou no meu caminho,
na
madrugada fria dos desalentados,
desrespeitou
o vazio,
violou
o silêncio, vadio
e
lambeu –me a cara.
Gozou
da minha agonia,
fez
labirintos da solidão,
descortinou
o amanhecer
e
se despediu
sem
deixar rastros.
A hora final*
Anderson Paes Barreto
Img: Reprodução
A
hora da morte pode ser agora.
Mas,
muita calma,
querida
alma.
Não
ainda, embora.
Qual
será a hora
da
minha morte?
Rogo
por mim mesmo,
para
escapar do golpe.
Que
o corpo não se esgote.
Que
na minha hora
eu
não tenha qualquer tipo de preocupação com hora
ou
com seja lá o que for.
Muito
menos com solidão e dor.
A
verdade é que não sabemos quando,
nem
onde, nem como.
Qual
será o ano?
Mas
haverá uma hora exata,
o
minuto exato e sofrido.
Haverá
o segundo do último suspiro.
Ele
morreu às vinte horas...
Saudade,
nostalgia.
Mas
já deu meia-noite, por Nossa Senhora,
ganhei
mais um dia.
Como
seria saber a hora da nossa morte?
Exatamente
isso, uma agonia.
E
pensar que passamos por ela todo santo dia...
Que
me cortem os medos!
Deus
é bom até em nos poupar do transtorno de ansiedade.
E
evitar calamidades.
Por
isso esse segredo.
Não
que me falte reza.
Não
que se tenha pressa.
Não
que se tenha culpa.
As
horas passam e a vida vai junto.
Até
que uma hora algo acontece,
acabam
as pilhas do relógio.
Ou
ocorre o óbvio,
o
coração esmorece.
Como
deve ser
o
coração parar de bater?
Alguém
já voltou
para
contar como foi a dor,
a
experiência do quase morrer.
Alguém
eufórico.
Mas
voltou de onde?
Foi
de longe?
E
quando foi o coração metafórico
quem
parou de bater?
E
por quê?
Aí
já é dor de amor.
Também
não, por favor!
Mas
como a poesia
já
nos leva para caminhos incertos!
E
é preciso se manter esperto,
nessa
euforia,
para
não fugir ao tema.
Toda
vida tem um lema.
E
toda vida tem uma sina.
Ensina...
Mas,
em suma,
a
poesia, assim como a vida,
é
como uma pipa que a gente empina.
E
sobre isso há quem já disse:
às
vezes depende da sorte.
Então,
eu cito Clarice:
"Vamos
voltar a falar de morte?"
*Disponível em:
www.multipersonalismo.com/2013/07/a-hora-final.html
Últimas Palavras
Paulo Rocha
Img: Reprodução
Minha
palavra é um trem que nem Deus governa.
Mal
agradecida,
Não
pediu pra ser parida
Minha
palavra inverna.
É
filha de uma luta interna
Crime
que se autoimputa
Brasa
escondida no verniz da cinza
Raio
sem luz nem trovão.
Minha
palavra é meu esconderijo.
É
sumo, suor e mijo
Chave
enferrujada de tua prisão.
Espera
de emboscada, minha palavra.
Vive
às tuas custas, ri enquanto crava
Em
teu corpo tenro o viés da traição.
Nada
encerra de bom, minha palavra justa.
Escute
então o que a palavra diz:
Sem
virar-me as costas, obedeça
Sem
adeus sem verbo, desapareça
E
seja feliz
Negra
Lenemar Santos
Foto: Reprodução
Sou
uma ilha negra
cercada
de preconceitos
por
todos os lados.
Sou
mulher, pobre e nordestina
sou
negra e excluída.
Carrego
dentro de mim
ecos
dos tambores.
A
benção dos ancestrais.
O
suor dos caçadores
proteção
dos meus deuses.
A
selva, o deserto e a savana
rugido
dos tigres
liberdade
das aves
e
as águas do Nilo
correm
em minhas veias.
Por
isso cuidado o vermelho
dos
meus olhos tem a
fúria
das florestas.
Evoco
os guerreiros a lança
e
a zarabatana.
Sou
negra sem correntes
sem
chibata sou mulher
sou
livre como os ventos
da
África.
Poemas da Semana
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
08:02
Rating:

Belo poemas e a abelha entre as flores, demostra uma sensibilidade incrível. Parabéns para todos.
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