Poemas da Semana
Poemas de
Carlos Drummond de Andrade, CecÃlia Meireles, Cyl Gallindo, Alberto da Cunha
Melo e Lourdes Nicácio
Cortar o tempo
Carlos Drummond de Andrade
Img:
Reprodução
Quem
teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a
que se deu o nome de ano,
foi
um indivÃduo genial.
Industrializou
a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze
meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
AÃ
entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra
vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente.
Retrato*
CecÃlia Meireles
Img:
Reprodução
Eu
não tinha este rosto de hoje,
assim
calmo, assim triste, assim magro,
nem
estes olhos tão vazios,
nem
o lábio amargo.
Eu
não tinha estas mãos sem força,
tão
paradas e frias e mortas;
eu
não tinha este coração
que
nem se mostra.
Eu
não dei por esta mudança,
tão
simples, tão certa, tão fácil:
-
Em que espelho ficou perdida
a
minha face?
*poema extraÃdo de “Flor de poemas”,
p. 63-64
Ser criança em noite de Natal
Cyl Gallindo
Img:
Reprodução
Tantas
vezes a fadiga se desmancha
na
mão que faz aurora e faz orvalho
e
fez a vida fez o homem e faz verdade.
Tantas
vezes a aurora se levanta
expondo
as manhãs como crianças
nas
peripécias sutis da claridade.
Tantas
vezes a vida se acorda
e
se joga a fazer a coisa feita
que
para colhê-la ao homem bastaria
lançar
o coração feito uma rede
a
diluir entre nós essa parede
de
indiferença erguida a cada dia.
Mas
se os dias se vestem destes fatos
dada
a colheita de frutos imediatos
tracemos
novos rumos sem segredos
que
a partir dum crepúsculo universal
igualitários
na posse dos brinquedos
sejamos
crianças em Noite de Natal.
BrasÃlia, 1986
Ergonomia*
Alberto da Cunha Melo
Img:
Reprodução
O
grande trabalho é do amor
sem
bronzes, sem assinaturas,
no
ar do espaço, na hora do tempo,
pólen
de Deus nas criaturas,
a
palavra quase sem eco
a
injetar humos no deserto,
mãos
de franciscos, de terezas,
que
repartem, ocultamente,
suas
migalhas sob as mesas,
ou
energia sem fronteiras,
que
acende todas as estrelas.
*poema dedicado ao ergonomista
Norberto Loureiro
O lavrador e o templo*
Lourdes Nicácio
Img:
Reprodução
Sê
como o templo natural,
este Universo,
de
onde emana
a humildade;
onde
um calendário
além dos olhos
tece
as estações,
a eternidade.
Há
tantas safras
de estrelas nesta vida;
tantos
espaços
ou troncos da verdade.
Sê
mais que um servo
desse plantio de luz:
lavra,
em ti,
a mansidão, a paz.
*Transcrito de “Pernambuco, terra da
poesia”, 2010, p. 405
Poemas da Semana
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
08:02
Rating:

Parabéns pela seleção de poemas, recebo-os como presente de final de ano, separei algumas passagens que ficaram marcadas. Obrigado!!
ResponderExcluir1. a ideia de cortar o tempo em fatias
2. Em que espelho ficou perdida a minha face?
3. injetar humos no deserto
4. safras de estrelas nesta vida
5. que a partir dum crepúsculo universal
igualitários na posse dos brinquedos
sejamos crianças em Noite de Natal.
Muito legal o registro dessas passagens. Feliz 2014 amigo!
ExcluirNossa intenção era dar um fechamento de alto nÃvel em 2013. Obrigado pelo comentário, é muito importante para todos nós.
Excluir