ENTREVISTA COM A PROFESSORA VIRGÍNIA LEAL
Por Maria de Lourdes Hortas
“Fui das primeiras docentes/pesquisadoras da UFPRE a usar regularmente
as ferramentas para um curso de graduação na modalidade educação à
distância (EAD) e de um grande projeto nacional de extensão no campo
das Mídias Digitais...”
Com exclusividade para o site Domingo com Poesia, a colunista e
poeta luso-brasileira Maria de Lourdes Hortas entrevista Virgínia Leal, Doutora
em Semiótica e Linguística pela Universidade de São Paulo (USP) e Université
Paris X (Nanterre/França). Professora Titular de Linguística da Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), atuando nos Programas de Pós-graduação em
Direitos Humanos (PPGDH) e em Letras (PPGL). Afirma Virgínia que, “Escritora
nas horas dedicadas ao Ócio Criativo. Gosta de conversar, rir, ler, varandar,
dançar, filhotar, vovozear, beber, comer, brincar, e amar – tudo em excesso...”
Maria de Lourdes Hortas - Virginia Leal, você só
recentemente começou a publicar os seus poemas. Já escrevia antes, ou o chamado
só agora surgiu?
Vírgília Leal - Uma
boa pergunta, Maria de Lourdes, sobre a qual muito pensei quando estava
escrevendo meu memorial para o Concurso de Professora Titular da UFPE. Disse lá
que apreendi, após a um só tempo prazerosa e dolorosa rememoração de meu
passado, antes de o processo ser formalmente iniciado na escola primária. Para
que isso fosse possível, tive o fundamental exemplo de meus pais – leitores
contumazes, e de uma farta biblioteca à mão. Lembranças muitas há na “cachola”
(muitos risos...) de estar sentada no colo deles a ouvi-los passar os dedos
sobre as folhas dos livros, a contar histórias… muitas e sempre…
Li de tudo,
sem classificações etárias, sem fronteiras topológicas, sem cerceamentos
morais... Dos contos de fadas de Grimm e de Perrault, às obras de Oscar Wilde,
Miguel de Cervantes e Hermilo Borba Filho – considerados impróprios à minha
idade pela minha mãe; mas, na queda de braço com meu pai, venceu o argumento de
que, não importa a idade, nunca entenderemos bem o que lemos; nunca vamos ler
uma obra, em momentos diferentes, da mesma forma. Portanto, aos 6, 16, 36, 56
ou (quiçá) 86 anos, sempre terei comigo um “novo” Don Quixote... Prevaleceu
ainda a implicância de meu pai com o rótulo “Literatura Infanto-Juvenil”. Ele
não aceitava o didatismo de certas produções literárias destinadas às crianças
e adolescentes, nem as adaptações que só mantinham o enredo, sem o acesso à
maravilha das construções linguísticas... Então, a biblioteca da minha casa
virou literalmente o meu mundo, onde bonecas e outros brinquedos eram raros,
muito raros...
Lá pelos 6,
7 anos, fiz algumas tentativas de escrita, das quais muito gostou o Vicente do
Rego Monteiro quando lia esses textos, em estada no Recife e em visita aos meus
pais. Tais escritos, porém, foram abortados em seguida pelo argumento materno
de que, na sociedade daquela época, imaginar um futuro para uma mulher,
escritora, filha de escritor não parecia nada alvissareiro...... Parei de escrever...
Mas continuei uma leitora extremamente gulosa, lendo muito e sobre tudo e em
todos os gêneros...
Voltei a
escrever, mas muito pouco se comparado a outros colegas, no âmbito da escrita
acadêmica, a partir do momento em que entrei na universidade, com 17 anos, para
fazer Letras.
Bem,
resumindo uma longa história, cheia de vais e vens até março de 2016
(muitos
risos...), estava vivendo para (tentar) escrever e a partir dessa data, passei
a escrever para viver! Ou seja, a escrita, em suas variadas formas (resenhas,
ensaios, poemas, crônicas, artigos etc), tornou-se um alimento, tornou-se vida.
Tive,
então, essencialmente uma vida de leitora - como tenho o hábito de dizer: por
(des)razões várias, algumas delas inconfessáveis publicamente… (muitos risos..),
mas agora ando correndo atrás do prejuízo (oh, expressão estranha!)...
Apenas para
sinalizar a dimensão que esse fato tomou em minha vida, atualmente tenho cerca
de uns 180 poemas; umas 20 crônicas, várias e várias páginas em um caderno que
batizei de Diários de Viagem.... Serão bons, literariamente falando? Não sei...
O tempo dirá sobre isso... De qualquer modo, escrevo por necessidade interna de
potencializar a vida, estando o “reconhecimento” em plano absolutamente secundário;
mas sem falsas afirmativas do tipo: “o público não me interessa”... Interessa,
sim... Só não sei a qual público agradarei com meus exercícios com, na e para a
linguagem porque boa parte do que escrevi como poema se inscreve no que chamo
de experimentalismos radicados em uma formação morfológica em linguística que
passa por um desossar das palavras com um novo desenho que lhes apresento ou
imprimo......
Em que pese
todo esse material, nada ainda está publicado em livro. Tenho alguns poemas e
outros escritos, como crônicas ou excertos de um Diário de Viagens, publicados
em revistas literárias aqui, no Brasil, e em Portugal, Espanha, França e EUA...
A ver se e quando será esse momento inaugural ou de batismo da escritora!
MLH - Como mestra em linguística, trabalhando com a
palavra, você acredita que a poesia pode ser fabricada? A inspiração e o dom
são pré-requisitos nos grandes poetas universais?
VL - Se fabricar
contiver apenas a ideia de técnica, de exercício, direi que não. Mas, nossa,
Maria de Lourdes, como adivinhou que gosto demais desse tema? (risos...). É que
estudei durante alguns anos, fiz pesquisa e até ministrei cursos sobre os
bastidores da produção textual escrita. Trata-se de um tema dentro de uma área
praticamente conhecida apenas dos acadêmicos: a chamada crítica genética. Esse
campo tem se ocupado da análise dos rascunhos, manuscritos, notas de pesquisa
para tentar seguir o percurso do escritor, desde os primeiros esboços até o
texto impresso. Grosso modo, pode-se responder à sua pergunta filiando-se a uma
das duas perspectivas hegemônicas no campo: uma idealista, que toma o processo
de escrita como resultado de um dom divino, inato, de uma inspiração do
escritor; e outra, marxista que o toma como resultado de um trabalho sobre a
linguagem, com o domínio de algumas ferramentas, de algumas técnicas.... Eu
prefiro uma espécie de “conciliação” entre estas duas perspectivas as quais,
insisto nesse ponto, estão agrupadas dicotomicamente, mas em realidade fazem
parte de um continuum em que comparecem muitas outras formas de abordar a
produção, a criação literária. Assim, penso na esteira de muitos pesquisadores
a me precederem que, na verdade, seria interessante, “desejável”, olhar o
fenômeno literário através de uma nova ordem interpretativa: a literatura como
fruto do dom/intuição do escritor e, ao mesmo tempo, como trabalho. Em ambas
estaríamos a enfrentar movências discursivas do tipo “pistas”, “traços”,
“encruzilhadas”, “bifurcações”, “impasses”, “retornos” cujo acesso nos é
possível pelos manuscritos ou documentos vários em que podemos chegar às
versões anteriores à editada finalmente pelo escritor.
MLH
- E você, acha que a poesia lhe chegou pelo DNA do se pai, o poeta César Leal?
VL - Sem dúvida
alguma, parte do que sou quando escrevo e como escrevo vem dele! Explico: junto
a minhas próprias leituras silenciosas, estive desde criança, bem menina,
rodeada pelas leituras em voz alta realizadas por meu pai e por minha mãe,
sempre, sempre, sempre.... E no campo das primeiras impressões acústicas sobre
os discursos que povoaram a minha infância, lembro-me exatamente do fascínio
pela indefectível leitura em voz alta e cantada de César quando estava a escrever
seus poemas. Parte do cancioneiro hispânico, que povoa agora a minha memória,
chegou até a faculdade (César que foi também contingencialmente meu professor,
costumava cantá-lo em suas aulas e palestras), e mais recentemente ao universo
de minha neta porque foi magistralmente gravado por Antônio Carlos Nóbrega, em
projeto de recuperação das raízes armoriais de nossa cultura nordestina. Bem,
voltando!, eu nada entendia do cancioneiro ou dos poemas de César, mas a música
que ficava daqueles sons engraçados marcou definitivamente meu olhar-ouvido-comprido
sobre a linguagem e a compreensão dos sentidos que saltam dos significantes –
mesmo ou até mais presentes quando são excessivos... Também faz parte desse
DNA, Maria de Lourdes, o amálgama que faço entre semioses, entre diferentes
linguagens artísticas. E explico talvez a razão para que eu seja assim: as
paredes das salas das casas onde morei, desde a mais tenra idade, estavam
povoadas por telas de Francisco Brennand, Reynaldo Fonseca, Vicente do Rego
Monteiro, Maria Carmem, Guita Charifker e tantos e tantas artistas que seria
difícil nomear a todos. Eram casas cheias de formas e cores. Muitas formas.
Muitas cores. Tudo impregnando definitivamente as retinas e as preparando para
entender as múltiplas semioses do real. Sim, convívio cotidiano com o belo –
sempre discursivizado pela filosofia, mais precisamente pela estética.
Havia ainda
o “convívio oblíquo com a musicalidade dos teóricos quando participava, com 6,
8, 10, 12 anos, das sessões literárias promovidas no Gabinete Português de
Leitura do Recife”. Aqui roubartilho um modo de falar deste tempo descrito pelo poeta e amigo José
Rodrigues de Paiva, ao me presentear com um bonito panegírico quando assumi a
Direção do Centro de Artes e Comunicação, da UFPE. Foi desse modo que ele falou
da menina, das palavras e dos dias.
Lá , no Gabinete Português de Leitura,
chegava muitas vezes às 20 e só saía depois das 22 horas. Momentos de deleite
com a imponência e gigantismo de estantes, escadas e corrimões, mas
essencialmente com alguns signos formados de modo inusitado com o que era
ouvido a partir de junções feitas por mim entre significantes e
significados…
Também costumava ficar encantada com
os ruídos da máquina constantemente ligada ao mundo (o telex) da redação do
jornal Diário de Pernambuco (DP), e isso enquanto brincava com os linotipos
especialmente feitos para mim pelo Zé Maria – linotipista que se confundia na
década de 1960 com o próprio jornal.
Mas esses momentos de aprendizado
ativo ainda se estenderam a outros ambientes. Entre uma brincadeira e outra nos
jardins ou quintal, pegava carona nas conversas travadas nos almoços aos
domingos no Engenho São Francisco, promovidos por Deborah e Francisco Brennand,
e dos quais também participavam (alguns mais assiduamente que outros) Tomás
Seixas, Ariano Suassuna, Renato Carneiro Campos, Marcelo Carneiro Leão, César
... Não raro, havia ainda convidados ilustres de outros estados, até de outros
países. As conversas sempre giravam em torno de arte, filosofia, história e literatura…
Então, esse gosto que tenho pela
interdisciplinaridade, esse roçar da linguagem verbal com outras linguagens,
essa vontade de compreensão da inteireza das coisas radicam no que aqui trago –
sem uma origem precisa porque o marco zero, nesse presente caso, é marcadamente
uma impossibilidade, mas sei que está nele, em César, e também com a minha mãe – em que pese a sua
condição de um longe das artes literárias, mas bem próxima de uma assídua
leitora.
Nesses anos iniciais, que até hoje
ainda parecem ter uma certa função estruturante do que faço, muito vi, muito
senti, muito ouvi, muito li... e em lugares variados: no quarto, na sala, no
banheiro, no jardim, na praia, na escola, na rede… lugares cheios de poesia... Sim,
definitivamente a poesia veio com César e, nessa ambiência temporal e espacial
que acabei de descrever, com um modo “natural” de descobrir que a linguagem
estava na origem das coisas do mundo as quais precisaram ser nomeadas mítica,
religiosa, mágica, cientifica e poeticamente...
MLH
- Como vê a literatura pernambucana no panorama literário brasileiro?
VL
- Ah,
vai muito bem no sentido de ser um lugar cujos “poros, peles, papilas e
pupilas” estão tecidos poeticamente, artisticamente... Há grandes nomes que
ficaram na história da literatura radicados aqui mesmo no estado de Pernambuco,
e para além dos pernambucanos que
emigraram e, em razão de um eixo cultural centralizador no sudeste do país,
tornaram-se mais conhecidos tanto dos críticos quanto de um público mais vasto.
Contudo, a situação em termos de panorama literário não está fácil para ninguém
neste momento e me pergunto se esteve para alguém um dia - se tirarmos uma meia
dúzia de nomes como os de João Cabral, Joaquim Cardozo, Manuel Bandeira, Nélson
Rodrigues... Problemas com edição, distribuição, divulgação sempre foram
marcantes.... Soma-se a estes outros problemas ou zonas turbulentas mais
recentes como premiações, feiras literárias, acesso à mídia de modo mais global
etc etc etc... Questões vinculadas às políticas culturais que tornam cada vez
mais complexo e polêmico este “panorama”! Certo é, no entanto, que a literatura
pernambucana existe/resiste mesmo entre os que deveriam respeitá-la e
reconhecê-la como grande e não o fazem.
MLH
- E, dentro da literatura pernambucana, como situa a chamada Geração 65,
apadrinhada pelo querido mestre César Leal?
VL
- Sem
dúvida algum, um importante movimento literário do estado que reuniu poetas de
grande expressão nacional e até internacional, dentre os quais começo pelo
grupo originário batizado de Grupo de Jaboatão, formado por Alberto da Cunha
Melo, Jaci Bezerra, José Luiz de Almeida Melo e Domingos Alexandre... Outros
nomes se associaram aos de Jaboatão e foram agigantando o conjunto: José
Rodrigues de Paiva, Lucila Nogueira, Marcus Acciolly, Terêza Tenório... Uau,
fico com receio de citar nomes e deixar escapar pela memória que falha aqui,
ali e acolá, algum nome que não poderia de modo algum deixar de ser citado.... Mas
quero marcar a riqueza e pluralidade das poéticas da Geração 65. Quero
assinalar o quanto esse grupo aportou como fôlego aos apneicos tempos da Ditadura
Civil-Militar de 1964-1985.... Época ainda dos Suplementos Literários que
faziam parte dos grandes jornais em circulação neste país e que serviam como
divulgadores, difusores de novos talentos e de ratificação dos antigos, bem
como incentivava a saudável polêmica, com as réplicas e tréplicas que faziam a
delícia dos leitores em geral e dos assinantes, em particular. Época sem
discursos de ódio e sem que adversários ideológicos fossem vistos como
inimigos.... Ah, poeta Maria de Lourdes, saudades daqueles anos.... Essa
Geração também esteve muito próxima das Artes Visuais.... Era muito comum,
lembro, encontrar na minha casa aos sábados poetas e pintores, contistas e
escultores, a discutirem arte, filosofia, poesia, pintura..... E ainda um
encontro de gerações porque a diferença de idade entre muitos deles ia além dos
20 anos....Seguiu-se a ela, a Geração 65, o Movimento Pirata; a presença
importante de um ponto de encontro que se deslocou do Savoy para a Livro 7... Momentos
de efervescência cultural que se constituiu politicamente fazendo face aos
anseios de redemocratização do país e aos sentimentos empáticos e de comunhão
entre amigos, em plena recessão econômica... Período de sonhos, matéria de que
somos feitos segundo Shakespeare, não é mesmo, Maria de Lourdes (risos, muitos,
de novo!).
MLH
- Você costuma usar as redes sociais. Tem muita visibilidade no facebook e
Instagram. O que pensa da divulgação da literatura pela internet: positiva ou
negativa?
VL
- Bem,
sou suspeitíssima para falar desse assunto porque nasci como escritora nas
redes sociais, especialmente no facebook ... Fui das primeiras
docentes/pesquisadoras da UFPRE a usar regularmente as ferramentas para um
curso de graduação na modalidade educação à distância (EAD) e de um grande
projeto nacional de extensão no campo das Mídias Digitais... Bem, digamos que
gosto das novas tecnologias de interação e comunicação; mas, continuo
completamente fetichizada pelas sensações hápticas, sonoras, olfativas ... que
me chegam dos escritos nas velhas formas... Ou sejam dos escritos em papel
(escritos vegetais? Risos...). Leio bem na internet por força que tive de
fazê-lo profissionalmente... Contudo, para alimentar meu espírito, minha
matéria mais profunda, meu amor que defino como algo “figadal abissal azul
absoluto”, só o livro impresso, o velho caderninho de alcova que trago junto ao
meu corpo todas as noites e onde ponho as iluminações que me chegam como restos
dos dias e das noites, das longas e “angelicais” conversas com que fecho minhas
madrugadas, tal uma espécie de encarnação de minha outra/Outra, uma estrangeira
- alma penada sem pena de penar com a pena (sem tinteiro, é claro!)....
MLH
- Qual a sua opinião sobre a escrita feminina? Acha que que tem características próprias? E como está,
hoje, a presença da mulher escritora no Brasil?
VL
-
Sim, acho que existe um modo próprio de se falar do mundo, mas não
necessariamente esse modo é uma prerrogativa do feminino por ser escrito por
mulheres... Há hoje uma extensa gama de gêneros que inscrevem dentro de si essa
espécie de modo particular de ver, pensar, organizar, compreender e falar sobre
o mundo... Mas acho que entendi a sua pergunta e ela mergulha fundo nos anseios
feministas de visibilização da escrita feita por mulheres....Se olharmos o
panorama brasileiro, já caminhamos bastante especialmente dimensionando um
certo início dessa caminhada do final do Século XIX aos dias atuais , mas ainda
é muito pouco diante do que existe escrito por mulheres e que, dadas as
condições culturais do país, não consegue desatar os nós que cerceiam a
publicação e circulação desses escritos....É preciso mais pesquisas, mais
movimentos, mais grupos, mais coletivos que reúnam essas mulheres para lhes
tirar as niqabs que lhes imprime na carne invisibilidade....Insisto que estamos
caminhando, mas há um retrocesso mundial no campo dos costumes e da moral que
não contribui em absoluto para o pagamento de uma dívida histórica das
sociedades... As mulheres vem lutando para obter o lugar que lhes é devido por
absoluto merecimento poético-literário-artístico e, aturdidos (note que não uso
a forma feminina de tratamento porque tenho, como linguista, uma posição
crítica sobre isso dificilmente explicável nesse momento da entrevista),
testemunhamos os vários passos para trás que estão sendo dados como se
tivéssemos nos animalizados e nos transformados em caranguejos imersos em lama,
muita lama...
Agora seria falso da minha parte
terminar esta entrevista com tal resposta à indagação feita sem um pequeno
reparo: acho que, talvez, tenha herdado de César uma certo modo ranzinza de
pensar em divisões, atomizações, segregações... Não gosto delas, ainda que
sempre tenha bem apreciado as dicotomias saussureanas, sem ser uma
estruturalista (ao contrário!) – paradoxo a ser explicado em outro momento
(risos muitos...) ....Gosto, sim, de pensar que gosto de literatura e de que
não leio especificamente literatura feita por mulheres porque sou mulher e devo
politicamente estar ao lado de quem “identifico” com esse rótulo, pagando dívidas
históricas e me associando às justas lutas que empreendem... Prefiro amar uma
Hilda Hilst, uma Cecília Meirelles, uma Teresa Horta, uma Maria de Lourdes
Hortas (risos...), uma Cora Coralina, uma Ana Cristina Cesar, uma Adélia Prado,
uma Lucila Nogueira, uma Marize Castro, uma Vernaide Wanderley, uma Patricia
Maês, uma Elizabeth Hazin, uma Márcia Maia, uma Eunice Arruda, uma Meimei
Bastos, uma Luna Vitrolira e tantas e tantas mulheres porque o que escrevem é
de uma densidade tamanha que fico hipnotizada por suas letras, palavras, versos,
gestos, voz, corpo... linguagens....E fico maravilhada quando leio e encontro
essas mesmas sensações estéticas e éticas em um João Cabral, um Drummond, um
Fernando Pessoa, um Alberto da Cunha Melo, um José Rodrigues de Paiva, um Tito
Leite, um Alexandre Guarnieri, um Luís Filipe Sarmento, um José Luiz de Almeida
Melo, um Leminski, um Ivo Barroso, um Delmo Montenegro, um Antonio Carlos
Secchin, um Miró, um Jaci Bezerra, um César Leal...
ENTREVISTA COM A PROFESSORA VIRGÍNIA LEAL
Reviewed by Natanael Lima Jr
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Muito grata, Virgínia Leal, pela oportunidade feliz de entrevista-la. Um belo momento de aprendizagem e amizade.
ResponderExcluirParabéns a entrevistadora, pela clareza e inteligência da entrevista; também a entrevista pela aula que nos deu nesta entrevista.
ExcluirQuerida Virgínia, impossível ler sua entrevista. concedida a Maria de Lourdes Hortas, sem não se emocionar! E no final dizer, "essa minha amiga é poeta e escritora sabida demais"! Parabéns triplo! Virgínia, Lourdinha e Domingo com Poesia (Natanael)!
ResponderExcluirObg pela parte que me toca, querida amiga Vernaide. Abç fraterno!
Excluirdeliciosa entrevista, um diálogo poético profundo e esclarecedor, uma verdadeira aula de muito aprendizado.....
ResponderExcluirParabéns a Maria de Lourdes Hortas por suas perguntas pertinentes, e a mestra e poetisa Virgínia Leal que respondeu com toda a sua competência e abnegação dos que buscam nas artes, um sentido para a vida nesta belíssima e instrutiva entrevista.
ResponderExcluirE viva a poesia!
Valmir Jordão
Lendo agora em 24/01/2021, show de entrevista. Parabéns pela explanação clara e leve nas perguntas e respostas.
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