MENSAGEM DE FERNANDO PESSOA
Por
Diego Mendes Sousa*
Clássico
é o que perdura ante os descaminhos do tempo. O alto nível de elaboração de uma
peça literária marca a memória, bem como alimenta o coração. Li muito cedo,
“Mensagem”, de Fernando Pessoa, poeta português de linguagem formidável e
moderna, que ficou registrado nos meus impulsos de leitor voraz.
A
arquitetura armada por Fernando Pessoa, em “Mensagem”, é de força épica,
todavia, a sua beleza advém do extremo lirismo que salta a cada movimento
verbal pensado e/ou sentido pelo bardo.
Da
visão dos castelos, “Mensagem” abre-se imagética, com a personificação
geográfica da Europa. A obra é repleta de versos brilhantes: “Os Deuses vendem
quando dão.”; “O mito é o nada que é tudo.”; “Louco, sim, louco, porque quis
grandeza.”; “Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.”; “Tudo é disperso, nada é
inteiro.”.
Nesse
jogo de joias raras, eis que o mar do país natal do eu lírico aparece pleno,
sendo, para mim, o seu enlevo maior, a sua realização consagradora. O enigma
das águas salgadas rasga a eternidade, e quanta sabedoria guarda o seu
fundamental poema “Mar Português”:
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosse nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Comovente,
Fernando Pessoa proporciona uma viagem encantatória pelos mistérios da grande
poesia. Relendo agora os seus bravos lemes poéticos, toca-me deveras a sua
“Prece”, que calha verdades e emoções inteiras, dentro de mim. Saudade, que
palavra arrebatadora e única! E sinto como a dose alada da Estética é primorosa!
Senhor, a noite veio e a alma é vil.
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade.
Mas a chama, que a vida em nós criou,
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda.
Dá o sopro, a aragem – ou desgraça ou ânsia
-,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistaremos a Distância –
Do mar ou outra, mas que seja nossa!
A
obra-prima de Fernando Pessoa espelhou os meus cantos em “Velas Náufragas”,
onde o destino imaginário se reinventa, pois a perenidade está exatamente na
ressurreição do que nos deixa mudo, já que “o sonho é ver as formas
invisíveis”.
*Diego
Mendes Sousa, poeta brasileiro
MENSAGEM DE FERNANDO PESSOA
Reviewed by Natanael Lima Jr
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