CRÔNICA DE DOUGLAS MENEZES (DEZEMBRO DAS ACÁCIAS E AÇUCENAS)
Douglas Menezes / Foto: divulgação
Aqui na terra
quente explodem as flores como se fosse abril. Dezembro só de luz das acácias,
vários sóis a enfeitar a vida, anunciando uma esperança irrealizável. Difícil
viver um otimismo cada vez menos visível. Um dia um escândalo, outro dia mais
um. E vivência que segue. As acácias são puras, inocentes e de beleza
estonteante, cachos que encandeiam a vista. No entanto crianças são mortas nos
crimes estúpidos manchando de vermelho as flores
mal desabrochadas. Meninas partindo sem o enfeite das açucenas no cabelo.
Câncer que os doutores da mente não sabem explicar. Beatriz partindo também,
sem o direito de entender o fascínio das flores.
Enxergo, então, as açucenas brotando nas margens do rio tão sujo quanto bonito aos meus olhos de sonhador. Colho a flor branca, popular, democrática, que nasce onde o feio predomina, nasce para embelezar onde não há beleza. Mas ela se expressa em dezembro e diz da perda e diz da angústia de chorar entes que se foram, flor também da saudade e da tristeza, essa açucena.
Acácia magoando com espinhos a cabeça doída de Jesus, no dezembro das sujeiras dos homens, insensíveis à miséria, à dor dos que não têm nada, sem escola, sem saúde, sem segurança, sem a água que dá vida, porque os homens levaram o que a gente pagou. Jesus, um menino nascido na humildade do exemplo, vê o que fazem até no mês do seu nascimento.
Mas há, em dezembro, as açucenas tão bonitas como as moças bronzeadas desse sol nunca se pondo. Graça e beleza nas duas flores, altivez dessas moças, de peitos arrebitados, no bambolê dengoso e no encarar da existência nunca tão fácil.
Em dezembro, a explosão das acácias, ouro de Minas, cheiro bom, trazendo a espiritualidade para melhorar os homens, dando-lhes a sabedoria que parece ir embora.
Dezembro, mês último. As esperanças alimentam o calor dessa fantasia. Ano que vem, talvez a igualdade fraterna, nunca vinda, mas assim mesmo uma nesga pequena, um fio de luz que apareça nesse túnel e que seja enfeitado de acácias e açucenas...
*Douglas Menezes
é escritor e membro da Academia Cabense de
Letras
CRÔNICA DE DOUGLAS MENEZES (DEZEMBRO DAS ACÁCIAS E AÇUCENAS)
Reviewed by Natanael Lima Jr
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