A POESIA (VIVA) DE DEBORAH BRENNAND

por Natanael Lima Jr.*

Deborah era da Academia
Pernambucana de Letras
(Foto:Divulgação/APL)
  

Deborah Brennand é uma das mais importantes poetas pernambucanas de sua geração. Sobre ela, Ariano Suassuna deu este depoimento: “A poesia de Deborah Brennand é profundamente feminina, o que significa que é, ao mesmo tempo, suave e selvagem, possuindo uma estranha ligação com a corrente subterrânea da vida”.

Para a escritora Luzilá Gonçalves, ela é, junto com Celina de Holanda, uma das principais poetas pernambucanas. “Era uma pessoa maravilhosa do ponto de vista da imagem e da palavra. Deborah era muito modesta, costumava mostrar a amigos seus textos para perguntar se estavam bons e duvidava da nossa resposta”, conta a pesquisadora e escritora. “Era uma pessoa que amava os amigos, a natureza e a beleza de tudo.”

Deborah Brennand nasceu em 12 de fevereiro de 1927, no Engenho Lagoa do Ramo, Nazaré da Mata. Ao completar 80 anos, assumiu uma cadeira na Academia Pernambucana de Letras. Foi casada com o artista plástico Francisco Brennand, que se despediu dela em sua página no Facebook assim: “Vá... Vá brilhar, brilhar com as estrelas, minha cara senhora, lá é o seu lugar!”.

Deborah faleceu aos 88 anos, vítima de falência múltipla de órgãos, mas deixa para seus amigos e admiradores uma poesia viva e pulsante.



*Natanael Lima Jr.
poeta, editor e produtor cultural






Dois poemas de Deborah Brennand



ANJO DA NOITE

“Dá-me a ilha de Samos como brinde de noivado”
Bengierd


E sendo o ser todo ser
eu, vetusta ou jovem lusa,
dei o meu olhar de claridade
à vastidão única das brumas
e só no coração uma saudade
era de havidos campos,
campos quase não vistos,
ó enamorado de minha formosura.

Sombria ou ruiva foi a cabeleira
o pouso da coroa em garras.
Abutre no alvor da minha fronte
cravando unhas de diamantes
assim em disse que as mulheres
não deviam usar trajes escarlates.
Talvez dez dias e oito noites passassem
nas distantes florestas de Lorvão.

E o meu reino era cinzento em culpas,
o meu legado agouro e mal.
Ó enamorado da minha póstuma formosura,
por que de mim tão pouco sabes?



NÃO É CRIME

O degredo das flores
da umidade da mata
para uma varanda acesa
em arcos verdes

É permitido.

Atar os ramos em sombras?
e desatá-los na colina
ou varrer as cinzas de fogueiras
Na clara tarde de março

Ainda, ainda

Mas aquele pássaro voltando
querendo entrar na gaiola
já do lado de fora, do lado das rosas
é uma afronta às nuvens e à brisa.

Assim, matá-lo não é
Crime.
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