POEMAS DO DOMINGO
Poemas de Marcelo
Mário de Melo, Leonardo Silva, Malungo e Maria de Lourdes Hortas
Culinária da
poesia
Marcelo Mário de
Melo
Quem manda em mim é a palavra
eu só espero por ela
que pode vir pela porta
ou entrar pela janela
trazendo os alimentos
que eu ponho na panela.
eu só espero por ela
que pode vir pela porta
ou entrar pela janela
trazendo os alimentos
que eu ponho na panela.
Traz a palavra cantada
dançando melodiosa
traz a palavra encrencada
ponta de espinho de rosa
traz a palavra pintada
objeto esculturosa.
dançando melodiosa
traz a palavra encrencada
ponta de espinho de rosa
traz a palavra pintada
objeto esculturosa.
Traz a palavra ligada
idéia acesa na tocha
traz a palavra moleca
mijando em cima da rocha
traz a palavra-malícia
que do poeta debocha.
idéia acesa na tocha
traz a palavra moleca
mijando em cima da rocha
traz a palavra-malícia
que do poeta debocha.
Traz a palavra lembrança
traz a palavra visão
traz a palavra delírio
e traz a palavra-pão
traz a palavra-medula
traz o verso-cidadão.
traz a palavra visão
traz a palavra delírio
e traz a palavra-pão
traz a palavra-medula
traz o verso-cidadão.
Traz tudo que pulsa e vive
entre o sim e o não
traz tudo que vem da nuvem
traz tudo que vem do chão
traz tudo que deita e dança
na hora e na tradição.
entre o sim e o não
traz tudo que vem da nuvem
traz tudo que vem do chão
traz tudo que deita e dança
na hora e na tradição.
Traz tudo que vem da vida
de todos de qualquer um
que o poeta recolhe
sem preconceito nenhum
lava descasca e cozinha
servindo o prato comum.
de todos de qualquer um
que o poeta recolhe
sem preconceito nenhum
lava descasca e cozinha
servindo o prato comum.
Presente
destino
Leonardo Silva
(Buíque/PE)
Impossível
esquecer o passado
Muito
mais meu presente destino,
Feito
homem ou feito menino
Neste
mundo de louco jogado.
Vejo
triste o terror ao meu lado
Sem
poder nem ao menos tocar,
Sou
bandido, sou pobre sem lar
Um
mendigo por todos deixado.
Meu
barraco ao fogo queimado
Minha
vida de graça morrendo,
Você
finge que não tá me vendo
E
eu fingindo que estou acordado.
Ilustrações de Cuba*
Malungo
Para Felix Farfan
Um céu bandeiroso
tremulando
em nossas almas latinas
olhos de chuva
lentes
no vidro embaçado datarde
avenidas vermelhas
carros rosa-choque
um pedestre lilás
ruas de chumbo
veículos carrancudos
de duzentos anos atrás
anciões de quatro rodas
Fidel e Guevara
amorcegando um caminhão
amarelo guaracha
mãos fugitivas
anseiam pelo mar
liberdade de navio
automóveis verdes
o amadurecer democrático
*Do Livro Digitais
Mala*
Maria de Lourdes Hortas
Espécie de mala
a alma
do poeta
porão onde se guarda
tudo o que serve
para a poesia:
cartas por enviar
labirintos de intenções
partituras inacabadas
vertigens inominadas
catedrais de silêncio
mapas indecifrados
eclipses, horizontes
icebergues, vulcões
sonatas de chuva
retratos em sépia
arquivo de auroras
e crepúsculos
maravilha de instantes
tempo avulso
que se escoa e nos leva
na voragem da ciranda.
O que guardo na alma
Abro na poesia:
Nela interrogo a vida
Dia após dia.
*In Rumor de
Vento, 2009
POEMAS DO DOMINGO
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
07:02
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