Entrevista com o editor e poeta Juareiz Correya

“Acredito nos ebooks, nos livros eletrônicos, como escritor e como editor, e vejo, com a Internet, um futuro muito promissor para a nossa literatura, pernambucana e nordestina, para toda a literatura brasileira”.

Poeta Juareiz Correya/Foto: Arquivo DCP
  
O DCP traz mais uma marcante entrevista com um importante nome da literatura pernambucana e brasileira o poeta Juareiz Correya, que dirige, no Recife, a Panamerica Nordestal Editora e Produções Culturais.

Juareiz Correya nasceu em Palmares, cidade da Mata Sul do Estado de Pernambuco, conhecida como terra dos poetas. Juareiz é poeta, contista e editor. Na década de 1970, residiu e trabalhou em São Paulo, onde foi colunista de arte do Diário do Grande ABC. Dirige, no Recife, a Panamerica Nordestal Editora e Produções Culturais. Idealizador do projeto de criação da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho e dirigiu a instituição da Prefeitura dos Palmares em dois períodos distintos: 1987/1991 e 1997/2204. Publicou os livros de poesia AMERICANTO AMAR AMÉRICA (1975/1982/1993), CORAÇÃO PORTÁTIL (1984/1999) e tem outros livros de poesia e de contos inéditos. Seus poemas foram publicados em antologias paulistanas, pernambucanas, e em revistas e jornais brasileiros. Organizou e publicou as antologias POETAS DOS PALMARES (1973/1987/2002), POESIA VIVA DO RECIFE (1996) e o ebook FUTEBOL É POESIA (2014). Publica na internet os blogs: JORNAL DO JUAREIZ, LETRAS&LEITURAS, POESIA VIVA DA CIDADE e AMERICANTO AMAR AMÉRICA.


DCP - Você fez parte da geração dos poetas Independentes de Pernambuco? Passado tanto tempo, o movimento literário do estado avançou?

JC - Não fiz e não faço parte da geração dos poetas Independentes de Pernambuco. Sou simpatizante do grupo desde a sua origem, que ocorreu depois das atividades do grupo da Edições Pirata do Recife, ao qual estive também ligado por simpatia e amizade. Na verdade, sou um solitário poeta marginal, de um tempo anterior ao desses grupos citados, vindo de atividades literárias e experiências editoriais em São Paulo e, de volta a Pernambuco, na minha cidade natal – Palmares – e no Recife. Passado tanto tempo, como vocês dizem, estamos vivendo em um novo século e, sinceramente, mesmo considerando as conquistas sociais, as oportunidades profissionais e os avanços tecnológicos, o movimento literário em Pernambuco pouco ou nada avançou. Tudo cresceu e a vida literária não.  Há grupos de escritores em tudo quanto é canto, encontros, festas e feiras de livros, eventos a torto e a direito, mas, leitores - gente interessada realmente por livros - são um número proporcionalmente insignificante. É o vermelho das estatísticas que fecham as livrarias... E Literatura só existe mesmo se alguém lê. As escolas e faculdades estão cheias de professores e estudantes que não sabem nem querem saber o que é Literatura.


DCP - Nos anos 60 surgiu em Jaboatão dos Guararapes um grupo de poetas, o qual foi denominado mais tarde como “Geração 65”. Qual o legado deixado por esta geração para o Estado de Pernambuco?

JC - Não sou crítico ou historiador. Como escritor e editor que tento ser há mais de 40 anos, e também como amigo e admirador de alguns nomes da GERAÇÃO 65, tenho de aplaudir todos os seus nomes, que estão vivos para além do tempo literário marcado pela sua geração. O legado está vivo e, infelizmente, Pernambuco ainda não o conhece como merece ser conhecido.


DCP - Você já editou livros impressos e agora singra para os ebooks, como você ver o futuro do livro impresso?

JC - Tenho mais de 40 anos dedicados ao livro impresso e uma razoável produção literária e editorial. Acredito nos ebooks, nos livros eletrônicos, como escritor e como editor, e vejo, com a Internet, um futuro muito promissor para a nossa literatura, pernambucana e nordestina, para toda a literatura brasileira. O futuro da Literatura está nas nossas mãos. E pode ser facilmente compartilhado com o mundo. Por outro lado, acredito que o livro impresso ainda vai permanecer vivo no dia-a-dia da nossa cultura, ao lado dos livros eletrônicos, mas a sua produção vai ser reduzida e a sua ação cultural será a cada ano mais limitada. Somente os governos e as instituições culturais e educacionais poderão manter o livro impresso vivo, preservado e validado em projetos editoriais e ações nas áreas da Cultura e da Educação nos municípios, Estados e no País.


DCP - Quais as vantagens dos ebooks frente aos impressos? 

JC - São diversas, prováveis e incomparáveis. O livro impresso, físico, é perecível; o livro eletrônico é imperecível. O livro físico é impresso (caro), distribuído (preço acrescido de custos de distribuição) e vendido (preço acrescido de custos de vendas). E com tudo isso tem um alcance muito restrito e localizado de leitores. O livro eletrônico tem apenas o custo de edição/editoração e é distribuído/vendido diretamente para leitores que tenham acesso à publicação em todo o mundo. Para conhecer um livro eletrônico, você não vai a uma livraria. A livraria está nas suas mãos. Isto é a dimensão da eternidade.


DCP - A Internet atrapalha o movimento literário ou o rejuvenesce?

JC - A Internet está salvando e rejuvenescendo a Literatura. Acredito que, nestas poucas décadas de comunicação digital, a Internet já fez muito mais leitores do que o livro, as revistas e os jornais impressos em séculos de informação cultural.


DCP - Você acha que o livro impresso vai deixar de existir? Por quê?

JC - Não acho que o livro impresso vai deixar de existir. Os livros impressos e eletrônicos vão conviver ainda por um longo tempo. Mas acredito que as revistas e os jornais impressos vão deixar de existir em breve.


DCP - O número de leitores está cada vez menor. O que você acha que deve ser feito para mudança deste quadro?

JC - Os leitores de livros impressos estão desaparecendo há algum tempo. O processo educacional no Brasil não cria leitores, não valoriza a Literatura nos períodos dos estudos, do ensino fundamental ao ensino universitário. Temos professores em todas as áreas que não leem. Há muito tempo o livro impresso vem sendo desvalorizado por todos: professores, alunos, pais, comunidade em geral. Quando comecei a publicar, na década de 1970, como escritor e editor, a edição de um livro impresso era normalmente de 1.000 exemplares. Circulava, tinha livrarias e leitores para essa produção. Hoje um autor é lançado em edição de 300 exemplares e menos do que isso... E vai se contentar se distribuir, muitas vezes de graça, entre parentes e amigos. Tem mais: não é distribuindo livros gratuitamente que existirão leitores para valorizá-lo. Autor, editor, instituição cultural que faz isso está desrespeitando o livro, o autor, a Literatura e a Cultura da sua cidade, do seu Estado, do nosso País.  E livro eletrônico também não deve ser distribuído gratuitamente, na base do “pegue e leve”.  Pegue e leve uma ova ! Livro é um produto de valor, não está pedindo “a esmola de um leitor pelo amor de Deus”. A mudança deste quadro vai exigir muito trabalho e investimento dos governos municipais, estaduais e federal. Um trabalho educacional e cultural permanente para a valorização, em conjunto, dos livros impressos e dos livros eletrônicos.


DCP - Você está fundando a Associação dos Blogueiros do Nordeste, como está este processo e qual o futuro desta Instituição?

JC - Estamos fundando – e neste empreendimento estão vocês, Natanael Lima e Frederico Spencer, de Pernambuco, e Luiz Alberto Machado, de Alagoas. O objetivo da ABLNE - Associação de Blogs Literários do Nordeste é o de fortalecer o trabalho dos blogueiros literários da nossa região, ampliando a ação literária e cultural desenvolvida por todos e em todos os sentidos. Ainda neste segundo semestre de 2014 trabalharemos para que se concretize a eleição da primeira diretoria da associação que já conta, em sua organização provisória, com mais de 40 associados de Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Bahia, Rio Grande do Norte e Piauí.  O futuro é do tamanho da Internet.
Entrevista com o editor e poeta Juareiz Correya Entrevista com o editor e poeta Juareiz Correya Reviewed by Natanael Lima Jr on 09:29 Rating: 5

2 comentários

  1. Juareiz é um dos bravos defensores do livro, numa época em que poucos leem (incluindo professores), palmas pra vc.

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  2. JUAREIZ CORREYA editou meu primeiro livro de poemas "À Noite no Parque", Nordestal, 1993. Grande poeta e amigo

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