Poemas da Semana
Poemas de Arnaldo Tobias, Samuca Santos, Juareiz
Correya, José Inácio Vieira de Melo e Fred Caju
Sem título
Arnaldo Tobias*
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Pelo que bem
pareça
uma palafita
não é uma
embarcação
segura
é uma canoa
furada
(encalhada)
de porco na
lama
não é uma arca
feito a de Noé
muito embora
embarque
a bordo
(pro/lixo)
pessoas como
bichos
em suma:
uma palafita
é o esqueleto
e o féretro
do seu
arquiteto.
*Arnaldo Tobias foi um poeta,
ficcionista, editor, artista gráfico, nasceu em 15 de novembro de 1939.
Pertenceu à Geração 65 e atuou intensamente na vida literária do Recife, onde
faleceu 2002.
Ars poética
Samuca Santos*
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A ideia está no ar
Pegue-a
Usando a suave firmeza
Com que se aperta
A mão do amigo
:quente
Nem morno nem brasa
A mão que acalma o filho
Molda-se na argila
E faz versos pra amada
Pegue
Areia pra fazer cristal
Farinha pra bolo de feijão
Matéria espiritual
Carinho zelo tesão
Agora solte o poema
*Samuca Santos foi poeta, radialista, nasceu no Recife em 1960, foi um
dos fundadores do Movimento de Escritores Independentes de Pernambuco, onde
faleceu 2013.
Sem
amanhecer*
Juareiz
Correya (PE)
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amanhece.
mas eu sinto
que não amanheço
sombras
amadurecem em meu rosto
e um cansaço
eterno mora neste corpo
que eu pensei
guardar
revivido para
hoje.
amanhece agora
- a cidade
está pronta para o dia que nasce
limpa e clara
se instala a manhã
no coração dos
homens que despertam,
sem sombras no
rosto
e sem cansaço,
renascidos
também.
amanhece.
só eu não vejo
a luz e os caminhos.
*Do livro
Americanto Amar América e Outros Poemas do Século 20, 2010
O ser e o
tempo
José Inácio
Vieira de Melo (AL)
Eu chego no silêncio que queima
as quatro ferraduras do tempo
e encontro a inesgotável jazida,
catedral do rubi que me habita.
Na madrugada sonho por todos os rumos
com o gesto que inventa o cristal das palavras,
a surpreender as pedras com a chuva
derramando em seu ventre a escritura sagrada.
Agora, apenas ando com os pássaros
a escutar as belezas da minha terra
e descasco as parábolas da salvação
a apalpar a medula que me carrega.
Escuta, meu amor, dos confins do dia,
a chegada da noite — cortina de versos
que revelam as estrelas de abril
aos meus olhos calados de
tanto ver.
O papel da vida*
Fred
Caju (PE)
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Sobre um pedaço de papel
eu alcanço o alto do céu,
um frágil e simples pedaço
me deixa forte como o aço.
Nele, que a água destrói,
é que a vida se constrói;
nele, que o fogo consome,
é que eu deixo o meu nome;
nele, que o vento carrega,
a minha vida se entrega;
nele, que tua mão amassa
é onde minha vida passa;
nele, rejeitado, ao chão,
ponho todo o meu coração.
O papel que você guarda
da carta que lhe agrada
ou o que você joga fora,
é o mesmo em que outrora
fiz um verso sem medida
te chamando para a vida.
*Do e-book Pentágono
Poemas da Semana
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
16:25
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