Literatura e Tecnologia da Informação
por Frederico Spencer*
O livro Admirável Mundo Novo, romance ambientado na Londres do ano de 2540 dC, tratava sobre questões que se tornaram contemporâneas do século 20: tecnologia da reprodução; manipulação psicológica e condicionamento operante - procedimento através do qual é modelada uma resposta no organismo através do reforço (qualquer semelhança com os tempos atuais é mera especulação).
No livro 1984, George Orwell narra o romance ambientado num lugarejo chamado Oceania, onde a vida das pessoas era vigiada 24 horas pelo grande irmão, que traz a história de amor vivida por Winston Smith, amor este proibido pelas normas do Partido por pertencerem a castas diferentes. Winston trabalha no Ministério da Verdade e tem como função reescrever antigos artigos publicados nos jornais, manipulando seus conteúdos em prol do Partido. Ele é um trabalhador dedicado e eficiente, mas sonha e trama secretamente como se rebelar contra o Big-Brother (olha a globo ai, gente).
Tendo por berço o lago cristalino,
Folga o peixe, a nadar todo inocente,
Medo ou receio do porvir não sente,
Pois vive incauto do fatal destino.
São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
A beleza das coisas te devasta
como o sol que fascina mas te cega.
Delas contundo a luminosa entrega
nunca se dá, melhor, nunca te basta.
Se, no seio da pátria carinhosa,
“Na verdade, se admitíssemos que a desumanização é vocação histórica dos homens, nada mais teríamos que fazer, a não ser adotar uma atitude cínica ou de total desespero. A luta pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos homens como pessoas, como seres para si, não teria significação.” (Paulo Freire – Pedadgogo)
Três livros que tratam do assunto
sobre a tecnologia da informação mexeram com o mercado editorial na época dos
seus lançamentos: Admirável Mundo Novo de Aldoux Huxley (1931), 1984
de George Orwell (1949) e A Terceira Onda de Alvin Toffler (1980). Esses três livros tratavam sobre as
questões do uso da tecnologia da informação, como forma de manipulação política
e/ou pressão econômica, exercidas por governos totalitários ou por fortes
grupos econômicos, como meio de perpetuação de poder.
O livro Admirável Mundo Novo, romance ambientado na Londres do ano de 2540 dC, tratava sobre questões que se tornaram contemporâneas do século 20: tecnologia da reprodução; manipulação psicológica e condicionamento operante - procedimento através do qual é modelada uma resposta no organismo através do reforço (qualquer semelhança com os tempos atuais é mera especulação).
No livro 1984, George Orwell narra o romance ambientado num lugarejo chamado Oceania, onde a vida das pessoas era vigiada 24 horas pelo grande irmão, que traz a história de amor vivida por Winston Smith, amor este proibido pelas normas do Partido por pertencerem a castas diferentes. Winston trabalha no Ministério da Verdade e tem como função reescrever antigos artigos publicados nos jornais, manipulando seus conteúdos em prol do Partido. Ele é um trabalhador dedicado e eficiente, mas sonha e trama secretamente como se rebelar contra o Big-Brother (olha a globo ai, gente).
Alvin Toffler publicou em 1980 o livro
A Terceira Onda. Trata-se de um
ensaio que mostrava como deveria ser a sociedade pós-moderna do século 21.
Livro visionário que narra as etapas da evolução econômica do homem moderno,
sendo a primeira agrícola, a segunda industrial e a terceira denominada como a
era da informação, onde mente, informação e alta tecnologia são os tipos de
capitais essenciais para o sucesso das corporações num mundo de alta
competitividade.
Tais publicações mostram que a
preocupação com a tecnologia da informação e a manipulação desta por grupos,
sejam econômicos ou políticos, já se faziam presentes nas mentes de escritores
visionários que anteviam a possibilidade de construção de sociedades, onde os
homens seriam vítimas de governos totalitários, onde a liberdade de expressão
estaria suprimida em prol de ideologias de pequenos grupos.
Atualmente vemos, minuto a minuto, as
revoluções propulsionadas pelas inovações na área da tecnologia da informação.
A rapidez da internet nos traz um mundo de informações instantâneas, que a cada
instante se multiplica no clicar do mouse.
Esta multiplicidade transforma os
conceitos que temos da realidade rapidamente, transformando o mundo e os
relacionamentos em produtos descartáveis. Nada perdura às inúmeras
possibilidades que temos em frente às telas dos computadores. Freneticamente
nos tornamos frágeis perante a rapidez das demandas do mundo moderno.
A literatura, neste momento, deve
desempenhar um papel de mediador entre permanência e dissolvência da humanidade
do homem moderno; seja por um papel mais ativo daqueles que fazem literatura,
indo em busca de adequação de suas obras para um mercado virtual, nervoso e
altamente competitivo; seja por um encontro com o novo leitor, viciado pela
tela do computador.
*Frederico Spencer é poeta,
sociólogo e psicopedagogo
MARÇO, UM MÊS QUE LEMBRA POESIA:
PATATIVA DO ASSARÉ, BASTOS TIGRE, CASTRO ALVES,
GILBERTO FREYRE, MENOTTI DEL PICCHIA, OLEGÁRIO MARIANO, LULA CÔRTES E NATIVIDADE
SALDANHA
O peixe
Patativa do Assaré*
Tendo por berço o lago cristalino,
Folga o peixe, a nadar todo inocente,
Medo ou receio do porvir não sente,
Pois vive incauto do fatal destino.
Se na ponta de um fio longo e fino
A isca avista, ferra-a inconsciente,
Ficando o pobre peixe de repente,
Preso ao anzol do pescador ladino.
A isca avista, ferra-a inconsciente,
Ficando o pobre peixe de repente,
Preso ao anzol do pescador ladino.
O camponês, também, do nosso Estado,
Ante a campanha eleitoral, coitado!
Daquele peixe tem a mesma sorte.
Ante a campanha eleitoral, coitado!
Daquele peixe tem a mesma sorte.
Antes do pleito, festa, riso e gosto,
Depois do pleito, imposto e mais imposto.
Pobre matuto do sertão do Norte!
Depois do pleito, imposto e mais imposto.
Pobre matuto do sertão do Norte!
*Patativa do Assaré (CE)
05/03/1909 – 08/07/2002
05/03/1909 – 08/07/2002
As duas flores
Castro Alves*
São duas flores unidas,
São duas rosas nascidas
Talvez do mesmo arrebol,
Vivendo no mesmo galho,
Da mesma gota de orvalho,
Do mesmo raio de sol.
Unidas, bem como as penas
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu…
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Das duas asas pequenas
De um passarinho do céu…
Como um casal de rolinhas,
Como a tribo de andorinhas
Da tarde no frouxo véu.
Unidas, bom como os prantos,
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar…
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Que em parelha descem tantos
Das profundezas do olhar…
Como o suspiro e o desgosto,
Como as covinhas do rosto,
Como as estrelas do mar.
Unidas… Ai quem pudera
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rodas da vida,
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
Numa eterna primavera
Viver, qual vive esta flor.
Juntar as rodas da vida,
Na rama verde e florida,
Na verde rama do amor!
*Castro Alves (BA)
14/03/1847 – 06/07/1871
Beleza
Menotti Del Picchia*
A beleza das coisas te devasta
como o sol que fascina mas te cega.
Delas contundo a luminosa entrega
nunca se dá, melhor, nunca te basta.
E a imensa paz que para além te arrasta
quanto mais se te esquiva ou te renega...
Paz tão do alto e paz dessa macega
que nos campos esplende à luz mais casta.
A beleza te fere e todavia
afaga, uma emoção (sempre a primeira e nunca
repetida) que conduz
quanto mais se te esquiva ou te renega...
Paz tão do alto e paz dessa macega
que nos campos esplende à luz mais casta.
A beleza te fere e todavia
afaga, uma emoção (sempre a primeira e nunca
repetida) que conduz
o teu deslumbramento para um dia
à noite misturado, na clareira
em que te sentes noite em plena luz.
à noite misturado, na clareira
em que te sentes noite em plena luz.
*Menotti Del Picchia (SP)
20/03/1892 – 23/08/1988
Soneto
Natividade Saldanha*
Se, no seio da pátria carinhosa,
Onde sempre é fagueira a sorte dura,
Inda lembras, e lembras com ternura,
Os meigos dias da união ditosa;
Se entre os doces encantos de que goza
Teu peito divinal, tua alma pura
Suspiras por um triste e sem ventura,
Que vive em solidão cruel, penosa;
Se lamentas, com mágoa, a minha sorte,
Recebe estes meus aís, oh minha amante,
Talvez núncios fiéis da minha morte.
E se mais nós não virmos, e eu distante
Sofrer da parca dura o férreo corte:
Amou-me, dize, então morreu constante.
*Natividade Saldanha (PE)
08/09/1796 – 30/03/1830
Diga aí!
“Nesta fase, a questão não é mais: como pode o
indivíduo satisfazer suas próprias necessidades sem ferir os outros, mas sim:
como ele pode satisfazer as suas necessidades, sem ferir a si mesmo, sem
reproduzir, através de suas aspirações e satisfações, a sua dependência de um
aparelho de exploração que, na satisfação de suas necessidades, perpetua sua
servidão.” (Herbert
Marcuse – Filósofo e Sociólogo)
Diga lá!
“Na verdade, se admitíssemos que a desumanização é vocação histórica dos homens, nada mais teríamos que fazer, a não ser adotar uma atitude cínica ou de total desespero. A luta pela humanização, pelo trabalho livre, pela desalienação, pela afirmação dos homens como pessoas, como seres para si, não teria significação.” (Paulo Freire – Pedadgogo)
Literatura e Tecnologia da Informação
Reviewed by Natanael Lima Jr
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