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A Cidade de Letras de Jaci Bezerra







por Frederico Spencer*











Jaci Bezerra
Foto: Reprodução



Poeta, contista, dramaturgo, cronista, editor e animador cultural, Jaci Bezerra, juntamente com o poeta Alberto da Cunha Melo, fundou em 1979 as “Edições Pirata”, movimento editorial marginal que culminou com a edição de mais de 200 livros. Lançamentos estes que trouxe à luz poetas de todas as tendências, esquecidos pela indústria nacional do livro.

Nascido em Murici (AL), chegou à cidade do Jaboatão dos Guararapes aos quinze anos de idade e iniciou seu contato com a poesia através da convivência com os poetas: Alberto da Cunha Melo, José Luiz de Almeida Melo e Domingos Alexandre, sob a orientação do poeta, pai de Alberto, Benedito da Cunha Melo.

Este grupo deu origem mais tarde à chamada “Geração 65”, denominação criada pelo historiador Tadeu Rocha e difundida pelo poeta e crítico literário, César Leal, através de sua coluna “Panorama Literário” do Diario de Pernambuco.

A “Geração 65”, importante movimento literário nascido nos anos 60 e consolidado na cidade do Recife, trouxe à tona, não só o grupo de Jaboatão, como também outros nomes, tais como: Gladstone Vieira, Marco Polo, Tarcísio Meira César, Ângelo Monteiro, Tereza Tenório, José Carlos Targino, Marcus Accioly, Raimundo Carrero, Arnaldo Tobias, entre tantos outros.

Dois momentos importantes marcaram a trajetória da “geração 65”: o primeiro, quando recebe da Universidade Federal de Pernambuco o apoio através de sua editora e o segundo, quando, ao final do expediente, inicia na gráfica da Fundação Joaquim Nabuco as impressões dos livros das “Edições Pirata”, culminando com os encontros de todos os poetas na Livro 7, espaço onde aconteciam as discussões sobre a poesia pernambucana.

As “Edições Pirata” foi importante porque não só divulgou poetas que viviam à margem do processo literário no país, como também deu voz a estes, através da impressão dos seus livros, muitos deles esquecidos dentro de uma gaveta por não ter a chance de vê-los publicados numa grande editora. Este movimento, mesmo embaixo de um processo político pesado de censura, furou o mercado editorial e fez ecoar para o resto do país as vozes dos poetas pernambucanos.

Mais tarde os poetas da cidade do Recife, acostumados com o apoio das “Edições Pirata” se sentem órfãos quando a editora encerra suas atividades. Resolvem então, aderir à poesia marginal, movimento literário que tem como característica as edições de baixa tiragem de pequenos livros e sua divulgação dava-se através dos saraus nos bares da cidade, onde livros eram trocados muitas vezes por cerveja.

A importância maior do surgimento das “Edições Pirata” foi de que não só podíamos ver nossos poemas publicados, como também vê-los divulgados, espaço aberto pelo livreiro Tarcísio Pereira (Livro7), impregnando em todos os poetas o sentimento de que a poesia é possível.

*Frederico Spencer é poeta, sociólogo e psicopedagogo






POEMAS DE NATANAEL LIMA JR, ANTONIO DE CAMPOS, CÍCERO MELO, MÁRIO QUINTANA E ALBERTO CAEIRO




Os barcos também dormem
Natanael Lima Jr


Imagem: Reprodução















Os barcos também dormem
como dormem sonhos
e esperanças

Os pescadores despertam
seus olhos, nuvens
colorindo a solidão, o mar

Onda após onda
dia após dia
tornam-se náufragos da sorte

A solidão do mar é implacável
torna porto e pedra os corações

fevereiro 19, 2013





Dark blues
Antonio de Campos


               sonhando com Billie & Janis cantando pra mim



Imagem: Reprodução












Você diz que eu não sou nada prático,
que coisa mais patética:
se eu fosse prático,
não teria me dedicado à Poética

Seria dono de banco ou algum bancário
e lhe faria feliz
comprando colares de brilhantes
ou levando com você papos estéreis, sem estética

Eu sei que você tem me estudado por longos anos,
em mim você já fez graduação,
mestrado, doutorado & pós,
mas de mim jamais saberá onde começa & finda a raiz linda de meu coração!

 Eu não sou mesmo o homem que você esperava,
o que sempre foi notório:
sou devagar, água profunda debaixo do mar,
emudeço & não apareço –

homem melhor você merece,
um cara ágil como Pistorius!


fevereiro 18, 2013





O Martelo
Cícero Melo

  
Imagem: Reprodução













Neste mundo nada muda.
Nunca muda o negro vento.
Nunca muda a noite muda
No reino que rei invento.

No reino que nunca invento
Nunca muda a morte, nunca.
Nunca muda, nada muda
No vinco do encantamento.

Neste mundo nada morre.
Nada corre atrás do vento.
Nunca é noite, nada escorre
da taça do pensamento.





O poeta é belo
Mário Quintana


Imagem: Reprodução













O poeta é belo como o Taj-Mahal
feito de renda e mármore e serenidade

O poeta é belo como o imprevisto perfil de uma árvore
ao primeiro relâmpago da tempestade

O poeta é belo porque os seus farrapos
são do tecido da eternidade




  
Alberto Caeiro


Imagem: Reprodução
















(...)

Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar.
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligados por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

(...)






Diga aí!






“Escrever é esquecer. A literatura é a maneira mais agradável de ignorar a vida. A música embala, as artes visuais animam, as artes vivas (como a dança e a arte de representar) entretêm. A primeira, porém, afasta-se da vida por fazer dela um sono; as segundas, contudo, não se afastam da vida – uma porque usam de fórmulas visíveis e portanto vitais, outras porque vivem da mesma vida humana. Não é o caso da literatura. Essa simula a vida. Um romance é uma história do que nunca foi e um drama é um romance dado sem narrativa. Um poema é a expressão de ideias ou de sentimentos em linguagem que ninguém emprega, pois que ninguém fala em verso.” (Fernando Pessoa)






Diga lá!






“A poesia é das raras atividades humanas que, no  tempo atual, tentam salvar uma certa espiritualidade. A poesia não é uma espécie de religião, mas não há poeta, crente ou descrente, que não escreva para a salvação da sua alma – quer essa alma se chame amor, liberdade, dignidade ou beleza.” (Sophia de Mello Breyner Andresen)







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