Razão, Poesia e Sociedade
Frederico Spencer*
frederico_spencer@hotmail.com
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Em
entrevista recente a um programa de televisão, o poeta e membro da Academia
Brasileira de Letras, Carlos Nejar, falou sobre a importância da linguagem para
a vida humana. Disse o poeta: “enquanto houver a palavra, que seja ao menos
uma, saberemos que estamos vivos”. Fruto da preocupação do homem no decurso de
sua história as questões com a linguagem e seu estudo remontam a um passado
distante.
A
linguagem cria a razão como forma de consciência para a vida em sociedade.
Conforme Mosé: “a razão é a capacidade humana de criar valores e se guiar por
eles, o que significa ir além da determinação instintiva; é a capacidade,
especificamente humana de criar uma conduta mediada por signos e determinada
por valores e princípios”. A linguagem neste sentido encerra um valor para as coisas
agregando o sentido da moral na vida dos homens. O pensamento racional, na
história da humanidade, tornou-se o fio condutor do comportamento humano nas
sociedades ocidentais.
A
razão como forma de pensamento, modelador do comportamento humano, busca a
classificação das coisas e dos objetos através de um modelo específico de
pensar através do exercício de uma linguagem que exclui as contradições e as
emoções, enrijecendo o sentido das palavras para dar sentido às verdades
incondicionais para as coisas e a vida.
Platão
é o primeiro filósofo a sistematizar a razão como meio de entendimento dos
processos da vida. Para ele há uma distinção entre o mundo inteligível, fruto
da origem das coisas classificado através do conceito das ideias e o mundo
sensível que compreendemos através dos sentidos, fonte dos erros e do mal.
Aristóteles
refuta essa ideia trazendo à tona o conceito do dizer e do significar. Para o
mesmo, a palavra deve estar vinculada a um sentido reforçando a linguagem como
meio de se buscar o verdadeiro sentido da vida. Diferente de Platão,
Aristóteles admitia que o pensamento e os sentidos, mesmo sendo diferentes, não
seriam antagônicos.
Os
discursos filosóficos sobre o papel da linguagem no contexto social nos remete
a um outro posicionamento do poeta Nejar , quando este nos fala sobre o fazer
do escritor no mundo atual que seria o daquele que “perturba” o contexto e a
ordem das coisas, buscando redefinir a realidade que nos circunda, esse é o
papel da arte através dos tempos.
Exemplo
da contestação e subversão da palavra em favor da reinterpretação do contexto
social e que mostra a inquietação de um homem que trabalha com poesia,
encontram-se estampadas na música Haiti, de Caetano Veloso: “Pense no Haiti,
reze pelo Haiti/o Haiti é aqui/o Haiti não é aqui”. E, ainda mais à frente: “e
se, furar o sinal, o velho sinal habitual/notar um homem mijando na esquina da
rua sobre um saco/brilhante de lixo do Leblon”. É muita realidade para poucas
palavras, “salve aqueles que se prestam a esta ocupação”, como está em outra
canção.
*Frederico Spencer é
poeta, sociólogo e psicopedagogo
Razão, Poesia e Sociedade
Reviewed by Natanael Lima Jr
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10:07
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