ENTREVISTA COM A ESCRITORA ANA MARIA CÉSAR
Postado por DCP em 10|07|2022
*Entrevista concedida a poetisa e colaboradora do site Maria de Lourdes Hortas
Escrever não é opção, nem lazer. Escrever é um pacto com o universo, do qual os assinalados não podem se eximir.
Ana Maria César (Anna Maria Ventura de Lyra e César) é Pernambucana do Recife. Bacharelou-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade do Recife - atual - UFPE - e em Letras Neolatinas pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade Católica de Pernambuco. Filha de dois paraibanos: Amaro de Lyra e César (de Cajazeiras) e Áurea Ventura de Lyra e César ( de Monteiro). Morou em Garanhuns, Carpina e Caruaru, mas é no Recife, entre os rios Capibaribe e Beberibe que pretende "se encantar". É membro da Academia Pernambucana de Letras, da Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro, Academia Recifense de Letras, da União Brasileira de Escritores e da Sobrames. Publicou os livros: Versos Voláteis; No Limiar do Tempo; Poemas Arcaicos & Outros Mais (Poesia); Versos Voláteis; No Limiar do Tempo; Poemas Arcaicos & Outros Mais (Ficção); Lira e César, Juiz de Caruaru; A Bala e a Mitra; A Faculdade Situada; Último Porto de Henrique Galvão; Três Homens chamados João - uma tragédia de 1930 (Ensaio-Reportagem); 50 anos de Senac em Pernambuco (História); Genesis; Habemus Panem; Atravessando a Selva Escura - memórias de uma portadora de fibromialgia (Memória).
Maria de Lourdes Hortas – Para começar
a conversa, Ana Maria, aquela pergunta clássica, que se faz aos escritores: Por
que escreve?
Ana Maria César - Escrevo para
entender o mundo e a mim mesma.
MLH - Você se sente
mais à vontade como historiadora, ficcionista ou poetisa? Qual dessas é a sua
verdadeira "persona"?
AMC - Creio que é
sempre a historiadora que se apossa da ficcionista e da poetisa, num processo
híbrido, qual uma quimera. Por isso a linguagem literária que reveste minha
escrita. Minha persona é aquela que busca a verdade, persegue o conhecimento e
se espanta com as descobertas. Em simbiose.
MLH - Nós nos
conhecemos na Faculdade de Direito do Recife e nos formamos em 1964. Fizemos
parte de uma geração que viveu em dois séculos, atravessando grandes e
significativas mudanças de valores e comportamentos. Como você se situa, diante
do momento atual?
AMC - Como se meu
mundo estivesse desaparecendo na neblina. Sou um protótipo do século XX. Está
sendo instigante viver no terceiro milênio, mas minhas mais belas imagens estão
no passado.
MLH - Você acredita
que a literatura dos nossos dias teve alguma coisa a ganhar com os avanços
tecnológicos?
AMC - Sim. Para o
escritor, a mágica do computador, o texto ágil, com recursos ilimitados. Para a
literatura, a rapidez da informação, o mundo online.
MLH - Gosta de
redes sociais? Acredita que podem ser
uma valiosa plataforma para divulgação da literatura? E o e-book? Crê que pode
vir a substituir o livro impresso?
AMC - Redes sociais
aproximam as pessoas. Mas ainda prefiro o contato telefônico - é mais caloroso.
Ótima plataforma para divulgação, embora não saiba usá-la. E-book? E a
sinestesia? O toque, o cheiro, o som da página sendo virada, tudo ao mesmo
tempo? Escrevo para ser lida no papel impresso.
MLH - Entre os seus
livros, qual considera o carro-chefe da sua obra?
AMC - Acredito que
A Bala e a Mitra, atualmente em terceira edição.
MLH - Ana, você
pertence a várias Academias Literárias: como vê esse tipo de entidade no mundo
contemporâneo?
AMC - As Academias
Literárias são tabernáculos do Saber, do Belo, do Convívio entre pares. Para
tentar vencer a Morte.
MLH - Atualmente,
em nosso país, há uma forte corrente de escritores que colocam o seu trabalho a
serviço de ideologias políticas. E você,
o que pensa da " literatura engajada"?
AMC - As artes não
devem se colocar a serviço de homens, nem de ideologias, nem mesmo de deuses.
Diante da pintura de uma Madona, de uma poesia de Santa Tereza D'Avila, o que
percebo são as cores, as palavras. Ideologia política tem uma visão marcada por
fanatismo. Olhar limitado.
MLH - Você já me
disse que lê poesia com frequência quase diária. Para você, o que é Poesia? E a
sua poesia, como acontece?
AMC - Poesia é
linguagem dos deuses, repete-se em todas as esquinas. Mas até os deuses precisam alcançar a terceira margem
do rio para escrever poesia. Só lá é possível ser poeta. Já a minha poesia
nasce do espanto diante do mundo e do homem.
MLH - Em nome do
site Domingo com Poesia, agradeço por este bate-papo. Para encerrá-lo, que
mensagem gostaria de deixar para os nossos seguidores?
AMC - Escrever não
é opção, nem lazer. Escrever é um pacto com o universo, do qual os assinalados
não podem se eximir.

É muito bom ouvir a palavra de uma poeta. Sempre tem algo novo e belo prá dizer. Quero agora conhecer a obra de Ana Maria César. A de Maria de Lourdes Hortas já tenho algum conhecimento. Mas é sempre interessante conhecer mais. Meus parabéns.
ResponderExcluirCarlos Daconti.