MARCUS ACCIOLY, UM POETA COM “P” MAIÚSCULO
Marcus Accioly
(1943-2017)
Foto:
Divulgação
Por Natanael Lima Jr.
Numa entrevista concedida ao
jornalista e poeta Mário Hélio, publicada na Revista Continente Multicultural
(CEPE), em abril de 2001, afirmara Accioly, “A poesia é o meu instrumento, o
único que disponho. Logo, eu sou o meu próprio instrumento. A poesia é uma voz
e uma companhia. A poesia é a voz e a voz é poder”. Sua poesia foi e será uma
poesia em voz alta. Toda a sua obra foi e será uma afirmação de fé na poesia.
Accioly faleceu aos 74 anos, em plena
efervescência intelectual. Natural de Aliança, Mata Norte de Pernambuco, nasceu
em 21 de janeiro de 1943. Era Bacharel de Direito e professor de Teoria
Literária e Literatura Brasileira na UFPE. Foi integrante da Geração 65 e do
Movimento Armorial. Membro da Academia Pernambucana de Letras, na qual ocupava
a cadeira 19, deixada por João Cabral de Melo Neto e que tem como patrono Paulo
Arruda. Foi presidente do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco e
Secretário Executivo do Ministério da Cultura durante o ministério de Antônio
Houaiss, no mandato de Itamar Franco.
Publicou seu primeiro livro
“Cancioneiro”, em 1968. Em 1972, recebeu o Prêmio Recife de Humanidades pela
sua segunda obra, “Nordestinados”, publicada em 1971. Oito anos depois conquistou
o Prêmio Fernando Chinaglia, concedido pela União Brasileira de Escritores,
pelo livro “Guriatã”. O livro “Narciso”, publicado em 1984, recebeu o Prêmio de
Poesia concedido pela Associação Paulista dos Críticos de Artes e o Prêmio
Olavo Bilac, da Academia Brasileira de Letras. Ao longo de sua carreira, foram
publicados 15 livros, sendo o último deles uma reedição de “Nordestinados”, em 2016.
Deixa várias obras inéditas.
DOIS POEMAS DE MARCUS ACCIOLY
O SERTÃO*
A
— O Sertão principia
Depois
que acaba a terra,
Ou,
sendo mais exato,
Onde
começa a pedra.
E
segue o Sertão-Alto:
Pejeú,
Moxotó,
Onde
termina o mundo
E
então começa o sol.
Ou
desce o Sertão-Baixo
Do
rio São Francisco,
Que
ostenta uma paisagem
De
pássaros e bichos.
Embora
o tempo durma
Os
sonos da estiagem,
Nas
curtas invernadas
O
verde abre a folhagem.
E
quando as águas descem
Das
cabeceiras curvas,
A
pedra ressuscita
Lavrada
pelas chuvas.
*In:
ACCIOLY, Marcus. Nordestinados. 2.ed. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro;
Brasília: INL, 1978. p.23. (Tempoesia, 18)
Nota:
Poema integrante da série “A Pedra Lavrada - Canto I”. Poema composto de 6
partes: O Sertão, A Caatinga, O Agreste, A Mata-Seca, A Mata-Úmida e O Litoral,
todas compostas de 5 quadra.
ÉRATO*
"por
detrás o prazer é diferente
do
gozo pela frente" (diz) e a boca
suplica
("mais") aí toda a carne é pouca
para
todo o desejo (pela frente
o
amor no Próprio amor se satisfaz)
mas
é diverso o coito por detrás
da
fêmea (é como os animais copulam)
existe
um cio por detrás (um jeito
de
pegar os cabelos quando ondulam
suas
crinas) que o gozo insatisfeito
precisa
de mais gozo para ser
em
sua plenitude ou gozar mais
(se
uma só vez o amor acontecer
é
preciso que seja por detrás)
*In:
“Érato, 69 poemas eróticos e uma ode ao vinho”
MARCUS ACCIOLY, UM POETA COM “P” MAIÚSCULO
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