O HOMEM, A MÁQUINA E O SONHO
Alberto da Cunha
Melo é considerado
um dos mais
importantes poetas
de nossa língua.
Foto: reprodução
O DCP vem nesta edição celebrar o
aniversário de nascimento de um dos maiores poetas brasileiros: Alberto da
Cunha Melo, nascido na cidade do Jaboatão dos Guararapes (PE) em 08 de abril de
1942, completaria nesta data 73 anos de idade. Neto e filho de poetas, estreou
na literatura em 1966 com o livro Círculo
Cósmico.
Vários poemas seus foram publicados no
Diario de Pernambuco na coluna Panorama
Literário, editada pelo poeta César Leal. Juntamente com outros poetas como
Jaci Bezerra, José Luiz Melo, foi um dos principais articuladores do movimento,
batizado pelo jornalista Tadeu Rocha, como a Geração 65, um dos mais importantes movimentos literários ocorridos
no pais.
Como sociólogo trabalhou na Fundação
Joaquim Nabuco e como jornalista foi editor do Commercio Cultural do Jornal do Commercio e da Revista Pasárgada. Foi também colaborador da coluna Arte pela Arte, do Jornal da Tarde de
São Paulo, e da coluna Marco Zero,
da Revista Continente Multicultural. Nos anos 1980 foi um dos maiores
incentivadores do Movimento de Escritores
Independentes de Pernambuco.
Atualmente Alberto da Cunha Melo é
considerado como um dos maiores poetas de nossa língua, tendo sido reconhecido
por profundos conhecedores da arte poética como o professor e ensaísta Alfredo Bosi e pelo poeta Bruno
Tolentino. Seu nome consta na obra Os Cem
Melhores Poetas Brasileiros do Século,
organizada pelo poeta, escritor e jornalista José Nêumanne Pinto.
Os editores
Poemas
de Alberto da Cunha Melo
Poemas
Moro
tão longe, que as serpentes
morrem
no meio do caminho.
Moro
bem longe: quem me alcança
para
sempre me alcançará.
Não
há estradas coletivas
com
seus vetores, suas setas
indicando
o lugar perdido
onde
meu sonho se instalou.
Há
tão somente o mesmo túnel
de
brasas que antes percorri,
e
que à medida que avançava
foi-se
fechando atrás de mim.
É
preciso ser companheiro
do
Tempo e mergulhar na Terra,
e
segurar a minha mão
e
não ter medo de perder.
Nada
será fácil: as escadas
não
serão o fim da viagem:
mas
darão o duro direito
de,
subindo-as, permanecermos.
*
O
céu parece revestido
de
uma camada de cimento:
deixo
as marquises porque sei
que
esta chuva não passará.
Se
esperasse um tempo de paz,
nem
meu túmulo construiria.
Começo
e recomeço a casa
de
papelão em pleno inverno.
Um
plano, um programa de ação
debaixo
de uma árvore em prantos,
e
voltar à primeira página
branca
e ferida pela pressa.
A
poesia já não seduz
a
quem mais forte ultrapassou-a,
libertando
um pouco de vida
e
luz, da corrente de estrelas.
Toda
renúncia nos convida
a
recomeçar outra busca,
porque
algo a inocência perdeu
no
chão, para arrastar-se assim.
*
Cai
um silêncio de ondas longas
e
sucessivas como a chuva.
E
que silêncio será esse
que
cai assim antes de mim?
Fauna
marinha, gestos lentos
de
anjos calados golpeando
um
polvo em fúria que me espera
(sob
os sonhos). Há quanto tempo?
Poucos
amigos, tudo salvo,
ainda
temos nossas raivas
e
uma esperança ilimitada
nos
setembros. Mas, até quando?
Caem
livros silenciosos
das
prateleiras: baixa a luz
morna
e abundante sobre as capas.
Que
foi feito de tanta noite?
A
esperança nova se agarra
entre
as barreiras e as ossadas
de
nossos morros. E por que
morremos
antes de salvá-la
O HOMEM, A MÁQUINA E O SONHO
Reviewed by Natanael Lima Jr
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10:13
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