POEMAS DO DOMINGO
Poemas de Raimundo de Moraes, Paulo Rocha,
Samarone Lima, Sérgio Vaz e José Gomes
Descruzando as pernas com Anne Sexto*
Raimundo de Moraes
Sorria
disse o fotógrafo
Sobrevivi
Escreva
disse o médico
Sobrevivi
Arda
disse o poema
Ardi
*Transcrito do livro Coesia,
2015
Poema da despedida
Paulo Rocha
(cinco sentidos)
Só vou dizer o que sei
e o que eu sei que tu sabes:
Que não olhes de olhos baixos
a fome a dor e a festa
das verdades encantadas.
Que não escutes nas noites
gemidos presos nas frestas
das manhãs e madrugadas.
E não sintas mais que o cheiro
da flor, do fruto, da aresta
das vontades confirmadas.
Que nada digas que ofenda
nem que macule o que resta
dos poucos sinais da estrada.
E que tua mão não toque
na febre Ãmpia das almas
em testas vis aninhadas.
E não digo mais do que sei
porque eu sei que tu o sabes.
e o que eu sei que tu sabes:
Que não olhes de olhos baixos
a fome a dor e a festa
das verdades encantadas.
Que não escutes nas noites
gemidos presos nas frestas
das manhãs e madrugadas.
E não sintas mais que o cheiro
da flor, do fruto, da aresta
das vontades confirmadas.
Que nada digas que ofenda
nem que macule o que resta
dos poucos sinais da estrada.
E que tua mão não toque
na febre Ãmpia das almas
em testas vis aninhadas.
E não digo mais do que sei
porque eu sei que tu o sabes.
Memória do corpo
Samarone Lima
Muitas
quedas
Nada deixaram.
Nada deixaram.
Não
importa a altura, o impacto.
O
corpo desdobra-se, renasce
Refaz
tecidos e ossos.
Arranhões
deixaram rastros, sangue, lágrimas.
A
pele, mais que revela: oculta.
Dois
dentes quebrados
Não
me desfizeram o sorriso.
Mas
certos silêncios nunca mais voltaram.
Os miseráveis
Sérgio
Vaz (SP)
VÃtor
nasceu… no Jardim das Margaridas.
Erva daninha, nunca teve primavera.
Cresceu sem pai, sem mãe, sem norte, sem seta.
Pés no chão, nunca teve bicicleta.
Já Hugo, não nasceu, estreou.
Pele branquinha, nunca teve inverno.
Tinha pai, tinha mãe, caderno e fada madrinha.
VÃtor virou ladrão, Hugo salafrário.
Um roubava pro pão, o outro, pra reforçar o salário.
Um usava capuz, o outro, gravata.
Um roubava na luz, o outro, em noite de serenata.
Um vivia de cativeiro, o outro, de negócio.
Um não tinha amigo: parceiro.
O outro, tinha sócio.
Retrato falado, VÃtor tinha a cara na notÃcia,
enquanto Hugo fazia pose pra revista.
O da pólvora apodrece penitente, o da caneta
enriquece impunemente.
A um, só resta virar crente, o outro, é candidato a presidente.
Erva daninha, nunca teve primavera.
Cresceu sem pai, sem mãe, sem norte, sem seta.
Pés no chão, nunca teve bicicleta.
Já Hugo, não nasceu, estreou.
Pele branquinha, nunca teve inverno.
Tinha pai, tinha mãe, caderno e fada madrinha.
VÃtor virou ladrão, Hugo salafrário.
Um roubava pro pão, o outro, pra reforçar o salário.
Um usava capuz, o outro, gravata.
Um roubava na luz, o outro, em noite de serenata.
Um vivia de cativeiro, o outro, de negócio.
Um não tinha amigo: parceiro.
O outro, tinha sócio.
Retrato falado, VÃtor tinha a cara na notÃcia,
enquanto Hugo fazia pose pra revista.
O da pólvora apodrece penitente, o da caneta
enriquece impunemente.
A um, só resta virar crente, o outro, é candidato a presidente.
Templo velho*
José
Gomes, Poeta Vaqueiro
Eu
sou igual a um templo abandonado,
Por
entre o mussambê, voltando ao chão,
Um
deserto e sombrio casarão
Entre
os braços musgosos do passado.
O
tempo arruinou-o, foi condenado,
Onde
tudo era amor, religião,
Sonha
agora coberto de melão
Como
um pobre lugar, mal assombrado!
Ouvi
a derradeira Ave Maria!
E
vi levar a Padroeira um dia
Num
cortejo levando castiçais...
Hoje
em noites argentes, sem cortinas,
A
minha alma passeia entre as ruÃnas,
Onde
tudo nasceu, descansa em paz!
*Transcrito da
Revista do IHJ – maio/2013
POEMAS DO DOMINGO
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
09:47
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