POEMAS DA SEMANA
A
poesia de terra de Manoel de Barros
Manoel de Barros (1916 – 2014)
Foto: Reprodução
Manoel
Wenceslau
Leite de Barros nasceu em Cuiabá
(MT) em 19 de dezembro de 1916, e viveu a maior parte de sua vida em Corumbá
(MS), para transforma-se em advogado, fazendeiro e numa das maiores expressões
da poesia brasileira. Faleceu no último dia 13 do corrente mês, deixando uma
obra de mais de 30 livros de onde a natureza brotava através de versos de rara
beleza, qual a terra que o cercava e o encantava para encantar a todos.
Escreveu seu primeiro livro aos 18
anos: “Nossa Senhora de Minha Escuridão” que não foi publicado. Fato pitoresco
é que este livro o salvou de ser preso, havia feito uma pichação numa estátua
da cidade: “Viva o comunismo!”, sendo descoberto pela polÃcia, o policial foi
recebido pela dona da pensão que informou que ele havia escrito um livro, este
pediu para ver o livro, ficou com a brochura e soltou o rapaz.
Seu primeiro livro foi publicado no
Rio de Janeiro: “Poemas concebidos sem pecado”, com uma tiragem de vinte e um
exemplares, os quais foram distribuÃdos para vinte amigos, sobrando um único
exemplar para o autor.
O poeta recebeu vários prêmios como: o
“Prêmio Orlando Dantas” em 1960, conferido pela Academia Brasileira de Letras.
Em 1969 recebeu o Prêmio da Fundação Cultural do Distrito Federal, em 1997
recebeu o Prêmio Nestlé, de âmbito nacional e em 1998, recebeu o Prêmio CecÃlia
Meireles (literatura/poesia), concedido pelo Ministério da Cultura e ganhou o
Prêmio Jabuti por duas vezes, em 1990 e 2002.
Sobre sua obra, o poeta dizia:
"Exploro os mistérios irracionais dentro de uma toca que chamo 'lugar de
ser inútil'. Exploro há 60 anos esses mistérios. Descubro memórias fósseis.
Osso de urubu, etc. Faço escavações.
Os
editores
Três
poemas de Manoel de Barros
O apanhador de
desperdÃcios
Uso
a palavra para compor meus silêncios.
Não
gosto das palavras
fatigadas
de informar.
Dou
mais respeito
à s
que vivem de barriga no chão
tipo
água pedra sapo.
Entendo
bem o sotaque das águas
Dou
respeito às coisas desimportantes
e
aos seres desimportantes.
Prezo
insetos mais que aviões.
Prezo
a velocidade
das
tartarugas mais que a dos mÃsseis.
Tenho
em mim um atraso de nascença.
Eu
fui aparelhado
para
gostar de passarinhos.
Tenho
abundância de ser feliz por isso.
Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdÃcios:
Amo os restos
como as boas moscas.
Queria que a minha voz tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da informática:
eu sou da invencionática.
Só uso a palavra para compor meus silêncios.
Tratado geral
das grandezas do Ãnfimo
A
poesia está guardada nas palavras — é tudo que eu sei.
Meu fado é o de não saber quase tudo.
Sobre o nada eu tenho profundidades.
Não tenho conexões com a realidade.
Poderoso para mim não é aquele que descobre
ouro.
Para mim poderoso é aquele que descobre as
insignificâncias (do mundo e as nossas).
Por essa pequena sentença me elogiaram de
imbecil.
Fiquei emocionado.
Sou fraco para elogios.
Os deslimites
da palavra
Ando
muito completo de vazios.
Meu órgão de morrer me predomina.
Estou sem eternidades.
Não posso mais saber quando amanheço ontem.
Está rengo de mim o amanhecer.
Ouço o tamanho oblÃquo de uma folha.
Atrás do ocaso fervem os insetos.
Enfiei o que pude dentro de um grilo o meu
destino.
Essas coisas me mudam para cisco.
A minha independência tem algemas.
POEMAS DA SEMANA
Reviewed by Natanael Lima Jr
on
10:25
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Poemas da Semana poderia se transformar em um livro com a coletânea de todos os poemas publicado durante o ano e seu lançamento no mês janeiro.
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