A poesia vigorosa de Marcus (Moraes) Accioly
O poeta Marcus Accioly/Fliporto 2009
O
DCP nesta edição traz a poesia de mais um importante poeta pernambucano: Marcus
(Moraes) Accioly. Nasceu em 21 de janeiro de 1943, no engenho Laureano,
município de Aliança, Estado de Pernambuco, onde passou sua infância.
"Minha poesia vem de onde eu venho. Aprendi alguns bichos e sei de outros
pássaros, gosto do cheiro da terra e da cantiga dos rios. Sou dos canaviais que
já nasceram das mãos de minha família e agora crescem dos pés”, afirma o poeta
no seu livro Guriatã: um cordel para menino. Sua poesia já foi traduzida para o
espanhol, francês, alemão. Possui poemas musicados por Capiba, Cussy de
Almeida, César Barreto, Arnaut Matoso, entre outros. Além de Íxion – uma
tragédia grega – teve livros adaptados e encenados, como peças de teatro, em
São Paulo, Bahia e Pernambuco. Foi lançado por César Leal no Suplemento
Literário do Diario de Pernambuco, em 1967. Publicou quatorze livros e possui
dez inéditos. Recebeu doze Prêmios Literários. Pertence à Geração-60 que, no Recife,
é denominada de Geração 65.
Quatro poemas de Marcus Accioly
Martelo
agalopado (fragmento)
-
Sobre as cristas das pedras pousam anjos
Para ouvir estes rudes desafios
Que só hão de cessar ao sol-nascente
Pois que a noite tem cantos como os rios.
E estes cantos são notas, são arranjos
De violas, rebecas e pandeiros
Que, marcando o compasso do repente,
Fazem os passos da noite mais ligeiros.
Porque o dedo da gente quando esfola
O aço firme e sonoro da viola
Que parece chorar enquanto canta,
Eu, lembrando Catulo quando falo,
Ouço a lua cantar dentro do galo
Que carrego por dentro da garganta.
Galope à beira-mar (fragmento)
-
Quando eu chamo os ventos não há calmaria
No porto, na vela, nas ondas do mar,
Na ilha, na praia, na noite, no dia,
No som da viola que sabe tocar.
No barco, na pesca, no arrasto, na linha,
No lance, na rede, no peixe, no anzol,
No homem que desce na água marinha
E traz entre os dedos o covo do sol.
Cantor que me enfrenta retira o chapéu
E, ouvindo as sereias cantar seus lamentos,
Apanha as estrelas que chovem do céu,
Mas quando eu começo não posso parar,
Pois minha viola tem cordas de ventos,
Um búzio na boca e um canto de mar.
A fonte
A
fonte límpida canta
O
canto das águas puras
Nascidas
na manhã clara
Do
parto das rochas duras.
O
salto das águas vivas
Faz
imóveis movimentos.
Na
boca fresca da fonte
Bebem
os lábios dos ventos.
Segue
no corpo das águas
A
liquidez transformada
Do
ventre das rochas feitas
De
branca areia lavada.
A
voz que a fonte derrama
Tão
leve sai da garganta
Que
quando bate na pedra
Parece
que a pedra canta.
A
força que impele o eco
Das
águas em seu redor,
Fere
os ouvidos das rochas
Onde
o silêncio é maior.
O
próprio silêncio às vezes
Vindo
de muito distante,
Bebe,
cansado e sedento,
O
canto limpo da fonte.
Fiz viagem de amor (fragmento)
Fiz viagem de amor pelo teu corpo
e
(sem sair do quarto nem ficar
em
mim) eu ancorei (em cada porto)
nos
lábios da vagina deste mar
de
fogo (ó água-ardente) onde à paisagem
eu
fui (Ginsberg ou Burroughs) procurar
“definitiva
droga” (como o yage)
para
das outras drogas me curar
da
fissura do amor no mundo e (Jack – estripa/dor das trips – Kerouac)
eu
pus o Pé na Estrada sobre o dorso
desta
fera que (em Uivo/s tão feroz/es)
abafou minha voz sob mil vozes
que respiravam dentro do gozo
A poesia vigorosa de Marcus (Moraes) Accioly
Reviewed by Natanael Lima Jr
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